Evangelho de Tomé – Logion 76

Pla

Jesus disse: O reino do Pai é semelhante a um mercador que tinha uma carga e encontrou uma pérola: este mercador era sábio: vendeu a carga e comprou a pérola. Vós também, buscai o tesouro que sempre permanece onde a traça não se aproxima e onde o verme não destrói. [Tesouro Oculto; Pérola Preciosa]

Puech

76. Jésus a dit : Le Royaume du Père est semblable à un marchand qui avait un ballot (et) qui trouva une perle. Ce marchand était sage : il vendit le ballot (et) acheta pour lui la perle unique [Ou : « la perle seule », « cette perle seule ». Comprendre alors : « il acheta uniquement, seulement, la perle »]. Vous aussi, recherchez le trésor [Texte : pefeho (« son trésor ») : à pefho (« son visage »), écrit d’abord, a été ajouté un second e. Lire peho, « le trésor ».] qui ne cesse de demeurer là où la mite ne s’approche pas pour manger et où le ver ne détruit pas.

Suarez

1 Jésus a dit : 2 le royaume du Père est semblable à un marchand 3 qui possédait un ballot 4 et qui trouva une perle. 5 Ce marchand-là était sage ; 6 il vendit le ballot 7 et n’acheta que la perle. 8 Vous aussi, préoccupez-vous du trésor 9 qui ne périt pas, 10 qui demeure là 11 où la mite ne s’approche pas pour manger 12 et où le ver ne détruit pas.

Meyer

76 (1) Jesus said, “The Father’s kingdom is like a merchant who had a supply of merchandise and then found a pearl. (2) That merchant was prudent; he sold the merchandise and bought the single pearl for himself. [Cf. Matthew 13:45–46] (3) So also with you, seek his treasure that is unfailing, that is enduring, where no moth comes to devour and no worm destroys.” [Cf. Matthew 6:19–20 (Q); Luke 12:33 (Q); Matthew 13:44]


Roberto Pla

A pérola, a joia ou o tesouro indestrutível e eterno são distintas maneiras testamentárias de nomear a Palavra que “fez sua Morada entre (em) nós mesmos”. Como se explica na Parábola do Semeador a qual em tantas ocasiões há que se referir, a Palavra do Reino é semeada em todo homem ao nascer. Isto porque a Palavra, o Filho do Homem, é transcendental com respeito à consciência “natural”, e por isto o homem mundano não compreende a Palavra do Reino nele semeada, nem reconhece nela seu Ser verdadeiro.

A passagem da consciência “natural” à consciência transcendental é o grande processo religioso interior, o grande mistério do homem segundo o anuncia e explica o evangelho. O que se diz na Parábola do Semeador é que quando a “terra é boa” — quando o homem se volta sobre si (metanoia) — lhe resulta possível ouvir e compreender a Palavra. Ouvir a Palavra significa encontrar a pérola, o tesouro indestrutível, e compreender a Palavra é dar o fruto, o qual é em si mesmo a transmutação cumprida; quer dizer, “encontrar” é o nascimento do alto, do Espírito, e “compreender é culminar o mistério de ser uno com o Filho e o Pai, o que segundo o quarto evangelho, ansiava para nós ardentemente Jesus.

Ao explicar o sentido da Parábola do Semeador menciona Jesus vários graus de frutificação e não resulta difícil identificar o fruto primeiro com o nascimento espiritual, cujo sinal é sem dúvida a percepção da “presença” interior do Filho de origem divina. Assim se disse e é recordado na Escritura: “Sucederá então que derramarei meu Espírito em toda carne”. Esse é o começo do achado da pérola, pois com o Espírito vem a certeza de que dentro de um mesmo existe um manancial inesgotável de onde brota a Palavra. Logo vêm as veredas de gozo e Vida eterna que foram cantados pelo salmista: “Me fizestes conhecer caminhos de vida; me enchereis de gozo com tua presença”.

Desde que ao anunciar a Boa Nova proclamou Jesus na Galileia que o “Reino de Deus está próximo”, o único caminhar do homem que busca no evangelho consiste em um fiel crer para que seus olhos que olham aprendam a ver com a fé. A tal homem já não o atormenta a necessidade de buscar, pois já encontrou, e sua única oração consiste em “dar-se conta” da presença de Deus, próximo, e que é sua própria essência semeada nele ao nascer. Assim poderá dizer como o profeta Abraão: “Sempre andava na presença do Senhor”.

Com os passos da “presença” cresce e se fortalece a consciência do homem novo, transcendental e se enche de sabedoria, pois a graça de Deus está sobre ele. É esta sabedoria a qual serve para desprender-se a carga que até então levou sobre si. A conservava porque acreditava que aquela carga era o si mesmo e, portanto, valiosa, imprescindível. Do ato necessário de desprender-se da carga, de vender tudo o que se tem, há menção em todos os lugares paralelos evangélicos e convém prestar-lhe atenção. Com isto não somente se faz referência a uma entrega generosa de bens materiais, senão em especial a um ato de humildade e conhecimento. A carga ou tesouro mundano do qual há que desprender-se reúne todos aqueles conteúdos da consciência sobre os que se apoia o “ego natural” — o adversário — quando afirma eu sou, em seu mesquinho cenário individual. Entregá-lo inteiro é um supremo ato de fé.

O andar na “presença”, exige um coração enamorado que sabe colocar seu tesouro na Palavra. Quando ocorre que o coração está vazio, então, a “presença”, livre de obstáculos, se converte na torrente da “vinda do Senhor” (Vinda do Filho do Homem).

É então a hora do homem universal, do cumprimento na unidade segundo a oração sacerdotal de Jesus ao Pai: “Que sejam um como nós somos um”. É a hora do conhecimento perfeito, da frutificação completa da Palavra; é a hora dessa “vinda” que movia a exclamar aos primitivos cristãos: “Maran-atha”, o Senhor vem. Ou o que é o mesmo: “Eu estou no Senhor”.