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Um homem o diz: Ordene a meus irmãos que repartam os bens de nosso pai comigo. Ele o disse: Ó homem! Quem fez de mim um repartidor? Se voltou para seus discípulos. Disse-lhes: Sou eu por acaso um repartidor? [Rico Tolo]
Puech
Suarez
Meyer
Roberto Pla
Os bens que fala Jesus são os do conhecimento que vem do Pai, o único Mestre verdadeiro; e é a participação nesse conhecimento comum — posto que conhecer e ser são uma mesma coisa quando o conhecimento é verdadeiro — o que faz irmãos e coerdeiros aos homens. Tudo isto é bem atestado em Mateus (23,8): “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi; porque um só é o vosso Mestre, e todos vós sois irmãos.”
Se o “homem” do logion pede a Jesus para interceder para receber sua parte naqueles bens que já gozam em usufruto seus irmãos, isto porque: “Ninguém vai ao Pai a não ser pelo Filho” (Jo, 14,6). Com efeito, estes bens do conhecer que levam ao Pai, vêm sempre do espírito, enquanto este está imerso em fogo pelo Filho, que é quem o envia.
O que diz Jesus é que os bens verdadeiros — os que vêm pelo conhecer (gnosis) — não são objeto de repartição, senão questão de ser. Isto significa que ninguém recebe o fogo do espírito, se não se faz espírito ele mesmo, nem obtém o conhecimento do Filho, se não participa na unidade do Filho. O Filho do homem deu sua vida para “reunir em um aos filhos de Deus que estavam dispersos”, quer dizer, deu sua vida aos “muitos” — e ainda a mantém dada — para que estes sejam “um” na Vida do Filho do homem. Mas ao dar a Vida, se deu todo ele mesmo — seu ser e seu conhecer, que são seus bens — sem ser o objeto repartível.
Até aqui chega o logion. Mas o terceiro evangelho prolonga o texto com uma admoestação contra a cobiça desse conhecimento em sua acepção de não ser verdadeiro. Isto se tenta esclarecer com um breve relato parabólico que se agrega ao logion e que é conhecido sob a epígrafe do Rico Tolo.