Evangelho de Tomé – Logion 67

Pla

Jesus disse: Aquele que conhece o todo estando privado de si mesmo, está privado do todo. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. (Jo 9,5); vide [Nascido Cego]

Puech

67. Jésus a dit : Celui qui connaît le Tout, étant privé de soi-même [« étant privé de soi-même » : comprendre « s’il est privé (de la connaissance) de soi »], est privé du Tout [« du Tout », « de tout » : litt. « du lieu entier »].

Suarez

1 Jésus a dit : 2 celui qui connaît le Tout, 3 s’il est privé de lui-même, 4 est privé du Tout.

Meyer

67 Jesus said, “One who knows everything but lacks in oneself lacks everything.” [Cf. Book of Thomas 138. The editors of the Gospel of Thomas in Synopsis Quattuor Evangeliorum, ed. Aland, 536, translate this saying as follows: “Whoever knows all, if he is lacking one thing, he is (already) lacking everything.”]


Roberto Pla

O que diz o logion é que o si mesmo é da mesma essência que o todo essencial, porque a essência é somente uma. O conhecimento de si mesmo significa ser a essência própria e por isso, para o que conhece a si mesmo não há privação do todo, porque ser a essência própria é também ser a essência do todo. Pelo contrário, quando o conhecimento de si mesmo falta, há privação de si mesmo e também privação do todo, porque o não conhecimento significa estar longe da essência que é una e comum.

Quando se diz de Jesus, em profecia, que ia morrer para reunir em um os filhos de Deus que estavam dispersos, o que se disse implicitamente é que os homens são em essência filhos de Deus e que este é o si mesmo dos homens: ser filhos de Deus. Quando o homem se volta sobre si mesmo e se conhece como essência, abandona o que não é essência, o que está disperso, e de um só golpe se conhece a si mesmo e conhece a essência do todo. Assim é como se reúnem em um os filhos de Deus.

Por isto se vê que o si mesmo e o todo não são antagônicos posto que coincidem na essência. O antagonismo vem do uno e do disperso, pois o disperso tem que cessar para que o uno seja. Algo paralelo ocorre com a luz e o mundo, que apesar de parecerem conviver não se confundem jamais. Por isto, Jesus, que é a luz, diz: “Enquanto estou no mundo sou a luz do mundo” (Jo 9,5). Esta é a convivência do mundo e da luz; mas ocorre que para olhar a luz, que é o si mesmo de Jesus, posto que ele é a luz, há que “transpassar” com o olhar o que não é a luz, senão o mundo, para assim olhar limpamente a luz, que é Jesus. Isto quer dizer a Escritura quando recorda: “Olharão ao que transpassaram”.

  • Mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o espírito de graça e de súplicas; e olharão para aquele a quem transpassaram, e o prantearão como quem pranteia por seu filho único; e chorarão amargamente por ele, como se chora pelo primogênito. (Zac 12:10)

Só quando se olham todas as coisas “transpassando-as”, é possível ver a luz, pois como está dito: “Em tua luz vemos a luz” (Sl 36,10). O olhar que olha a luz, a essência, vê a luz de Cristo no mundo, pois vê com a luz do si mesmo, com o olhar próprio do “filho de luz”.

Então conhece o homem o todo como “todo”, isto é, como luz no mundo (não só luz), e vê o si mesmo como luz também no mundo, e não se priva do todo, que está na luz, nem do si mesmo, que é a luz.

Mas para isto há que crer verdadeiramente na luz que só é visível quando se “transpassa” o mundo. Isso o disse Jesus, segundo o quarto evangelho.

  • Eu, que sou a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. (Jo 12:46)