Evangelho de Tomé – Logion 31

Pla

Jesus disse: Nenhum profeta é recebido em seu povo, um médico não cura aos que o conhecem.


JESUS HA DICHO: NINGUN PROFETA ES RECIBIDO EN SU PUEBLO, UN MEDICO NO CURA A LOS QUE LE CONOCEN [Son sinópticos: Mt 13, 57; Mc 6, 4; Lc 4, 24 Oxyr. 1, VI; Profeta em casa].

Puech

Jésus a dit : Aucun prophète n’est reçu dans son village. Un médecin ne soigne [Ou : « guérit » (gr. therapeia).] pas ceux qui le connaissent.

Suarez

1 Jésus a dit : 2 aucun prophète n’est accepté dans son village. 3 Un médecin ne soigne pas ceux qui le connaissent.

Meyer

(1) Jesus said, “A prophet is not acceptable in the prophet’s own town; (2) a doctor does not heal those who know the doctor.” [Cf. Matthew 13:57; Mark 6:4; Luke 4:23–24; John 4:44.]


Roberto Pla

Jesus nunca se auto-designou como profeta, nem aceitou tal denominação para si mesmo, e isto, porque o Filho do Homem é muito mais que um profeta. Isto o disse com muita clareza a seus discípulos quando os chamou ditosos, porque muitos profetas e justos quiseram ver e ouvir o que eles ouviam e viam, o Filho do homem, e não viram nem ouviram (Lc 10:23-24; Mt 13:16-17; 1Pe 1:10-12

A obra que corresponde cumprir a um profeta é de anunciar coisas futuras e chamar e despertar as consciências como intérprete e mensageiro de um oráculo divino de juízo ou de salvação. Assim explica Isaías (6,8) quando escreve: “Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem irá por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim.”

Isaías interpretou a mensagem e a transmitiu, com efeito, ao povo de “coração embotado”. Consistia o mandato divino em abrandar cada um dos ouvidos, abrir os olhos e converter o coração para ser curados. Esta foi a obra do profeta, ser mensageiro, e se Jesus leva o oráculo ao evangelho é para confirmar ante todos ali que em seus discípulos — uma vez posto seu coração convertido ao Filho do homem — se havia cumprido a profecia: eram ditosos seus olhos e seus ouvidos, pois já eram conhecedores dos mistérios do Reino tal como Jesus o havia explicado em parábolas: “A quem tem (a quem se converteu ao Filho do homem e o encontrou em si mesmo), se o dará e o sobrará; mas a quem não tem (a quem não fez frutificar o semeado em seu coração) ainda o que tem (a semente da Verbo – Palavra semeada nele) se o tirará” (vide Evangelho de Tomé – Logion 41).

Esclarecida esta diferença radical entre Jesus (o Filho divino oculto no coração de todo homem) e qualquer dos profetas, não resulta muito difícil entender o logion. Do lado manifesto não é rigorosamente fato que os profetas sejam mal recebidos em suas comunidades, o que pode ser confirmado desde os tempos de Samuel, “profeta do Senhor que fundou a realeza”, até os anos de sacerdócio de Zacarias, muitos profetas foram bem acolhidos e escutados pelos seus.

O que explica, portanto, Jesus por meio deste provérbio é que a um profeta compete em sua função de intérprete escutar a voz de Deus e traduzi-la ao povo, mas não corresponde ser “recebido”, quer dizer, “reconhecido” e posto para frutificação no coração de seu povo (“este povo”, é a locução empregada pelo Senhor em sua mensagem a Isaías), quando é estimado, honrado, em sua pátria espiritual interior. Em tal caso, o Filho do homem é realmente, um “médico que cura aos que o conhecem”, aos que o reconheceram em si mesmos.

O evangelista Lucas, depois de mascarar esta passagem do provérbio ao enquadrá-lo na trama diferente do episódio da predicação de Jesus em Nazaré, abre a porta ao sentido oculto do logion quando explica: “Ele (Jesus enquanto Filho do homem lhes disse: seguramente me vais dizer o refrão: médico, cura-te a ti mesmo”. Com efeito, já não se trata do ato profético de predicar, “como sucedeu em Cafarnaum”, senão de realizar a obra de salvação (cura), no coração do homem, desde de dentro dele, em sua pátria verdadeira.

Não é a um médico profeta a quem corresponde curar aos que o conhecem, senão que é o Filho do Homem quem cura a todos os que o conheceram (vide Philokalia-Therapeutes).

Suarez

LOGION 31

P. Oxyr. 1 n° 6

Lc 4.23-24 // Mt 13.57-58 I/ Mc 6.4-5

Un médecin ne soigne pas ceux qui le connaissent n’apparaît pas dans les canoniques. Il est vrai que l’image employée par Jésus aurait nui à l’exaltation de ses miraculeux pouvoirs thérapeutiques que les amateurs de merveilleux lui firent endosser.

L’autre passage de l’Évangile selon Thomas où il est question de soins se trouve au v. 12 du log. 14 : soignez ceux qui parmi eux sont malades.

Comme la foule du log. 79 s’en est allée grossissant et se multipliant au fil des rédactions successives, le rappel par Jésus d’un simple geste humanitaire lui vaudra de devenir au gré des remaniements et des amplifications le thaumaturge apte à stupéfier ces mêmes foules. Ce n’est certes pas ce genre de stupéfaction qu’évoque Jésus au début de l’Évangile selon Thomas (cf. log. 2, v. 6).

Il semble que la périphrase grecque du v. 3 du P. d’Oxyr. : un médecin ne fait pas de traitements… soit un mot à mot du copte. Celui-ci, en effet, emploie souvent le verbe faire comme préfixe sans lui donner de valeur particulière; en tout cas la périphrase en question ne paraît pas être attestée ailleurs en grec; le dictionnaire Liddel-Scott-Jones (Oxford 1948) n’en signale qu’un seul cas… et c’est celui du P. Oxyr. 1 n° 6 [Cf. G. Garitte, op. cit., p. 160-162].

A noter que le verbe θεραπεύω du texte copte et du texte grec signifie soigner (guérir : ίάομαι). Il est employé 37 fois dans les évangiles traditionnels. On le traduit habituellement par guérir ce qui ajoute à la puissance du Messie ; aussi le log. 81 où Jésus invite à renoncer à la puissance [La version copte et le grec emploient pour puissance le même terme δυναμις; on le traduit habituellement par « miracle »] ne se trouve-t-il pas dans les évangiles canoniques.

On peut relever l’amplification lucanienne (Lc 4.23) par rapport aux textes de Mt et Mc. Luc n’était-il pas médecin ?