Pla
Jesus disse: se a carne (sarx) foi causa do espírito (pneuma), é uma maravilha; e se o espírito a causa do corpo (soma), é uma maravilha das maravilhas. Mas me maravilho disto: como esta grande riqueza se pôs nesta pobreza?
JESUS HA DICHO: SI LA CARNE HA SIDO A CAUSA DEL ESPIRITU1, ES UNA MARAVILLA; Y SI EL ESPIRITU A CAUSA DEL CUERPO, ES UNA MARAVILLA DE MARAVILLAS. PERO YO ME MARAVILLO DE ESTO: ¿COMO ESTA GRAN RIQUEZA SE HA PUESTO EN ESTA POBREZA?
Puech
29. Jésus a dit : Si la chair a été à cause de l’esprit, c’est une merveille. Mais, si l’esprit (a été) à cause du corps, c’est une merveille de merveilles. Mais, moi, je m’émerveille de ceci : comment [cette] grande richesse s’est mise dans cette pauvreté.
Suarez
1 Jésus a dit : 2 si la chair s’est produite à cause de l’esprit, 3 c’est une merveille; 4 mais si l’esprit s’est produit à cause du corps, 5 c’est une merveille de merveille. 6 Mais moi, je m’émerveille de ceci : 7 comment cette grande richesse 8 s’est mise dans cette pauvreté.
Meyer
(1) Jesus said, “If the flesh came into being because of spirit, it is a marvel, (2) but if spirit came into being because of the body, it is a marvel of marvels. (3) Yet I marvel [39] at how this great wealth has come to dwell in this poverty.”62
Canônicos
-* E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai. (Jo 1,14; vide No princípio era o Verbo)
-* E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, e recebido acima na glória. (1Tim 3,16)
-* …porque se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis. (Rom 8,13)
Roberto Pla
A riqueza e a pobreza das quais fala o logion não consistem em ter ou não, os bens materiais da terra, mas em atribuir-se ou não em propriedade, como prolongação inadequada de si mesmo tudo aquilo que sendo mera vestimenta do Ser não é o Ser puro, desnudo, o Filho do homem.
Na linguagem testamentária, a riqueza é nomeada muitas vezes com essa acepção oculta, religiosa, que designa todo o superposto ao espírito e a “pobreza”, pelo contrário, o desprendimento generoso de tudo o que não é estritamente “seu si mesmo”, a absoluta humildade, a “nadificação”, a não identificação com nada, de modo que nada mais reste que o homem pneumático puro.
Esta humildade, esta pobreza a descreve a mensagem evangélica em seu mais alto sentido de descobrimento do verdadeiro si mesmo, pois a obra de Jesus se funda sobretudo, em nos dar os meios para levar nossa consciência desde o “Adão alma vivente” onde se acha ancorada, revestida de “riquezas”, até a consciência “pobre”, desnuda, o Adão último, glorificado, a do espírito que dá vida.
-* Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante. (1Co 15:45)
De acordo com o sentido das expressões paulinas, o primeiro homem, natural, terreno, é, com efeito, “rico” e o segundo homem, espiritual, celeste, é o “pobre” para quem o evangelho foi anunciado com o propósito de ajudá-lo a liberar-se do cativeiro.
A acepção oculta da riqueza e da pobreza aparece expressa explicitamente em alguns lugares do Antigo Testamento, mas sem dúvida resultava muito necessário que a explicação dos motivos que urgiam quanto a realizar a “pobreza”, fora renovada no coração e no entendimento dos homens no evangelho novo proclamado por quem disse que não vinha abolir a Lei, senão dar-lhe cumprimento.
-* Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir. (Mt 5:17)
Esta acepção se acha mui claramente aplicada pelo salmista:
-* «Salmo para o músico-mor, entre os filhos de Coré» Ouvi isto, vós todos os povos; inclinai os ouvidos, todos os moradores do mundo, Tanto baixos como altos, tanto ricos como pobres. (Salmo 49:1-2)
Este sentido oculto se revela também no anúncio do profeta Isaías que Jesus faz seu quando o lê na sinagoga de Nazaré. A importância da passagem é grande não somente porque serve de vínculo entre ambos testamentos senão porque é, em definitivo, um síntese de intenções do Evangelho:
-* O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração, (Lc 4:18)
Não há dúvida de que a acepção de “pobre” anunciada pelo profeta e reivindicada por Jesus é a oculta, pois se não, quem poderia afirmar que o desígnio de Jesus foi o de anunciar seu evangelho unicamente aos que estão em privação de bens materiais? No final das constas, a situação mais grave desde o ponto de vista celestial e mais necessitada de escutar a Boa Nova é a dos ricos que, em tal caso, poderão encontrar sérias dificuldades para entrar no Reino.
-* VIDE Logia Jesus – Riqueza
Em definitivo, do que fala Jesus ao “jovem rico” (Riqueza), é do tesouro que encontrará nos céus, se é capaz de renunciar a tudo aquilo com o que se identifica sua rica consciência de “Adão alma vivente” e consente na pobreza do espírito, pois o espírito — o Filho do homem — é, segundo adverte Jesus em seu diálogo com Nicodemo: “o que baixou do céu e ao único, em consequência, que lhe estará reservada a glória de “subir ao céu” (Nascer do Alto). Isso o diz também Mateus: “Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o Reino dos Céus” (vide Bem-aventurados).
-* Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu. (Jo 3:13)
-* « Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus » (Mt 5:3). Sobre “pobre”, “pobre de espírito” e “pobreza” veja Pobres de Espírito.
Mas o logion começa com a confissão do assombro que produzem as diversas relações entre o “espírito que dá vida” e a carne “alma vivente”, isto é, que recebe a vida em empréstimo. Em verdade, há uma escala ascendente de maravilhas. Maravilha é que a carne de vida mortal tenha sido originada pelo espírito de vida eterna, e maravilha de maravilhas é que o espírito de vida eterna possa ser achado a partir da carne mortal; mas a verdadeira maravilha sobrevém ao contemplar que toda essa vazia “riqueza” de vida mortal de signo psíquico e somático foi sobreposta à vida imortal, até o ponto de constituir-se em envoltura e ocultação ante a consciência, do espírito “pobre”, puro e dador de vida.
Poderá parecer que este logion se inscreve no dualismo carne-espírito, mas não é assim dada a transitoriedade do “vivificado”. Responde o logion ao pensamento joanico:
-* O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida. (Jo 6:63)
Certamente. Quando a riqueza seja queimada e o “trigo” (pobre, seja) recolhido no celeiro, então será chegada a hora da “liberdade dos reclusos” e será restabelecida a unidade anunciada por Isaías e proclamada por Jesus.
-* Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará. (Mt 3:12)
-* O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração, (Lc 4:18)
Suarez
LOGION 29
Ce logion s’inscrit en faux contre le dualisme chair-esprit, exacerbé par saint Paul qui est allé jusqu’à écrire : La chair et le sang ne peuvent hériter du royaume de Dieu. 1 Co 15.50.
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