EVANGELHO DE TOMÉ — Logion 24=>LOGION 25<=Logion 26 Jesus disse: ama a teu irmão como a tua alma; vela por ele como pela menina de teu olho (pupila). Roberto Pla
EVANGELHO DE JESUS: PRIMEIRO MANDAMENTO
Hermenêutica
Roberto Pla
Todos os logia sinópticos deste logion nos evangelhos canônicos, coincidem em recordar, para encarecer o cumprimento da recomendação de Jesus, o segundo mandamento testamentário: “amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). No entanto, a variante introduzida pelo logion significa de fato uma modificação de importância, porque a “alma” (psyche, no texto) não revela identidade como no caso de “ti mesmo”, senão mera proximidade. Entre ambas expressões há certamente uma diferença muito decisiva mas tão sutil que em muitas ocasiões é possível passar sobre ela sem notar. A culpa disto há que encontrá-la nas mudanças experimentadas pelo vocábulo grego psyche. Primeiro foi atravessado e sua significação original adaptada penosamente aos termos hebreus nefes (alento) e leb (coração), quando o AT hebreu foi traduzido para o grego.
*Dos 754 casos em que aparece a palavra nefes no AT, cerca de 680 foram traduzidos por alma psyche; nos demais, foi traduzido por vida ou por alento, força, etc… Em 62 casos se utilizou na Septuaginta psyche para traduzir uma palavra distinta de nefes, geralmente para leb (coração).
A essas obscuridades que vêm dadas pela antiguidade inerente a versões obrigatórias, a partir de termos não exatamente coincidentes, há que agregar a dificuldade intrínseca que por sua própria natureza se descobre na alma, pois como qualquer um pode comprovar em si mesmo e por si mesmo, esta, a alma, é sumamente esquiva ao estudo e análise por meio do entendimento o qual é, em definitivo, um dos modos da alma.
A essa dificuldade se referiam os Naassenos que estudaram as diversas mutações da alma no “EVANGELHO SEGUNDO OS EGÍPCIOS”, hoje perdido. Uma das frases deste evangelho, citado por Hipólito, diz: “a alma é difícil de encontrar e de compreender, posto que não permanece nunca sob a mesma forma e modo, nem em uma mesma paixão, tal que se possa expressar em sua imagem e representar essencialmente”.
A segunda determinação peculiar da alma segundo a explicação dos naassenos é a versatilidade de forma, de acordo com o texto transmitido por Hipólito no qual afirma que a alma: “não permanece nunca sob a mesma forma, nem em uma mesma paixão que se possa expressar em sua imagem”. A psicologia israelita estabeleceu distinções semânticas para descrever os fenômenos psíquicos como pertencentes a diferentes áreas, e estas distinções implicam, como referência, uma consciência humana de índole temporal, cambiante, da qual partem tais fenômenos (e que em seu conjunto podemos denominar “alma” como o faziam os naassenos paleocristãos), mas isto não supõe em nenhuma medida a crença na existência eterna ou mortal de uma imagem estável, ou alma pessoal, de alguma semelhança com a que se expressa no posterior cristianismo eclesiástico.
Um estudo dos fenômenos psíquicos segundo o testemunho textual descritivo do AT, permite distinguir três áreas básicas de expressão de estados afetivos:
*nefes, que deve ser considerada como a atividade instintiva relacionada com a vida animal e física, e com as tendências passionais.
*ruah, a consciência como força reflexiva dual, apta para erigir-se no campo de batalha do bem e do mal. Estabelece a distinção entre a concessão ao impulso significado por nefes e a atividade sensitiva consciente que parece vir de leb (o coração). Ruah é uma força psíquica que em muitas passagens escriturárias (especialmente em Ezequiel), aparece com a possibilidade de ser interpretada como uma órgão fixo da vida psíquica.
*nesamah, o impulso psíquico superior mediante o qual se intenta que o alento próprio se compassasse com o alento de Deus. Com nesamah se efetua a transferência do individual ao universal.
Essas três áreas de fenômenos psíquicos se distinguem como formas de expressão no interior do homem, mas se se busca a origem de tais forças ocorre que a significação básica não transladada das três expressões tem um ar familiar pelo que aparecem como três gradações ou estratos verticais de uma mesma força de origem divina e manifestação ilimitada e universal. Nefes, é sopro de vida; ruah, é vento, alento e nesamah é respiração, alento também.
O significado básico de qualquer das três expressões da vida psíquica, segundo a concepção israelita, significa “algo que está em movimento”, seja o sopro de vida (nefes), o vento (ruah), ou a respiração (nesamah). Veja estudo de uma passagem muito importante de autor do Zohar sobre um texto de Isaías: Zohar Alma.
É nesta doutrina que se apoia em resumo a misteriosa tradição do “resto de Israel” comunicada pelos profetas. Zacarias (13,8) o explica muito bem:
“E sucederá em toda esta terra (a Jerusalém celeste) — oráculo de YHWH — que dois terços (ruah e nefes), serão nela exterminados e o outro terço (nesamah) do psíquico, restará nela.
Nesamah é certamente este terço do psíquico do qual segundo o oráculo, diz YHWH (Zac 13,9):
“Eu porei em fogo este terço (de conteúdos psíquicos); os purgarei como se purga a prata e os provarei como se prova o ouro”. Tal é o misterioso “resto das ovelhas e Israel”, os “restantes de Sião” a quem Isaías profetiza que posto que ficarão na Jerusalém celestial, se “os chamará santos e serão todos apontados como vivos (com vida eterna) (Is 44,3).
Roberto Pla estuda então um poema de Isaías, intitulado “ORÁCULO DA VOLTA DO DESTERRO”, desenvolvendo esta reflexão sobre a alma, apresentando uma rica simbologia do Boi e do Asno na Natividade.
Segue-se uma análise sobre a cisão da alma diante da “vinda do Filho do homem, VINDA DO FILHO DO HOMEM.
A questão de Jesus, o Bom Pastor, é então tratada, o que leva a tocar o simbolismo dos ladrões e salteadores na parábola PASTOR E OVELHAS.
Finalmente se encerra a longa interpretação deste curto logion, citando aspectos simbólicos relevantes da morte de Jesus na cruz (vide Calvário).