Evangelho de Tomé – Logion 50


Pla

Jesus disse: Se os dizem: de onde haveis vindo?, dizei-lhes: viemos da luz; ali onde a luz nasceu de si mesma, se elevou e se revelou em sua imagem. Se os dizem: quem sois?, dizei: somos seus filhos e somos elegidos do Pai o vivente. Se os perguntam: qual é o signo de vosso pai que está vós mesmos?, dizei-lhes: é um movimento e um repouso. [[Mordomo Infiel->breve6339]]

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Puech

50. Jésus a dit : S’ils vous disent : d’où êtes-vous nés ?, dites-leur : nous sommes nés de la lumière, là où la lumière est née d’elle-même; elle [s’est dressée] et elle s’est révélée dans leur image [hen toukikôn. « Image », gr. eikon]. S’ils vous disent : qui êtes-vous [« qui êtes-vous ? » Ms : « c’est vous »] ?, dites : nous sommes ses fils et nous sommes les élus du Père qui est vivant. S’ils vous demandent : quel est le signe de votre Père qui est en vous ?, dites-leur : c’est un mouvement et un repos [« repos » : gr. anapausis.].

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Suarez

1 Jésus à dit : 2 si l’on vous dit : 3 d’où êtes-vous ? 4 dites-leur : 5 nous sommes venus de la lumière, 6 là où la lumière s’est produite 7 d’elle-même; 8 elle s’est dressée 9 et elle s’est manifestée dans leur image. 10 Si l’on vous dit : 11 est-ce vous ? 12 dites : 13 nous sommes ses fils 14 et nous sommes les élus du Père-le-Vivant. 15 Si l’on vous interroge : 16 quel est le signe de votre Père qui est en vous ? 17 dites-leur : 18 c’est à la fois un mouvement et un repos.

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Meyer

50 (1) Jesus said, “If they say to you, ‘Where have you come from?’ say to them, ‘We have come from the light, from the place where the light came into being by itself, established [itself], and appeared in their image.’ (2) If they say to you, ‘Is it you?’ [This may possibly be emended to read “ are you?” (ent ten )] say, ‘We are its children, and we are the chosen of the living Father.’ (3) If they ask you, ‘What is the evidence of your Father in you?’ say to them, ‘It is motion and rest.’” [This saying recalls the accounts of the career of the soul or of the person in the Secret Book of John, the Hymn of the Pearl, and the Exegesis on the Soul]


Roberto Pla

Diz o quarto evangelho que a Palavra existia no princípio: estava com Deus e era Deus. Também diz que a Palavra era a luz verdadeira; e desta luz verdadeira, que é a Palavra, é dito que é o manto de esplendor e majestade de que se veste Deus.
-* Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Senhor, Deus meu, tu és magnificentíssimo! Estás vestido de honra e de majestade, tu que te cobres de luz como de um manto, que estendes os céus como uma cortina. (Sl 104:1-2)

A luz não foi feita — em sentido literal — senão dita, pronunciada, enquanto preexistente, posto que em Deus “estava” e “era” no princípio, e brilhou (se estendeu), nas trevas. Por isso diz Jesus, o Filho: “Eu sou a luz do mundo”, em identidade com o manto de glória que reveste ao pai e que é a luz do Pai, una com o Pai.

Quando o Filho se identifica no evangelho com a luz, se refere à luz verdadeira, nascida de si mesma, pronunciada, e não à luz de um sol criado cujo resplendor foi, depois, chamado “luz”, por ser, no mundo, uma imagem da luz verdadeira.

A luz verdadeira que em justiça reivindica Jesus, e que é o Filho, a Palavra, constitui o Reino do Pai, o Reino da luz, no qual é possível saciar conjuntamente a fome e a sede de bem-aventurança, de vida e de sabedoria, segundo se diz poeticamente no salmo: “Na torrente de tuas delícias os embebe; em ti está a fonte da vida e em tua luz vemos a luz” (Sl 36, 9-10).

Confirma o logion que o homem pneumático é um nascido da luz, “dali onde a luz nasceu de si mesma”. É, por conseguinte, luz que se reconhece na luz, não são a luz, senão “os filhos da luz”. A isto se refere também o apóstolo quando diz: “Todos vós sois filhos da luz”.

A filiação da luz que alcança o homem pneumático, consiste em três filiações da mesma ordem que aquelas em que a luz verdadeira do Reino do Pai se constitui como essência conjunta e inseparável no Filho: a torrente eterna de bem-aventurança, a fonte inesgotável de vida e a contemplação da sabedoria da luz, graças à luz que faz possível tal contemplação. Mas ao ser luz que se reconhece na luz, o homem pneumático é imagem fiel do Filho, qual gotas ou centelhas da luz verdadeira que é o Filho.

Mas ocorre que o que a consciência do homem conhece de si mesmo, não é o homem vindo da luz, senão o homem terreno — o Adão psíquico — revelado como imagem e sombra do celestial, ainda que designado e chamado de antemão a reproduzir “a imagem do Filho”. São pois, duas as imagens: uma a imagem do Filho, quer dizer, a de luz que contempla a luz, e outra, a revelada na terra como sombra e imagem dessa imagem celestial. A essas duas imagens se referia o apóstolo quando em um contexto diferente dizia que assim “como revestimos a imagem do homem terreno, revestiremos também a imagem do homem celestial” (1Cor 15,49).

É certo que a realidade integral do homem, enquanto realização ou cumprimento do plano de Deus, é a do eleito, assim denominado por dar-se nele unidos, “feitos um”, os dois moradores da mesma casa, quer dizer, a imagem do Filho, vinda da luz e o “resto”, purificada como a prata, de sua imagem ou sombra psíquico-hílica, por meio da qual se revela a luz no mundo visível terrestre. Estes são os eleitos do Pai o Vivente.

Quanto ao “signo” do Pai que o logion diz: “está em vós”, o diz porque é correlativo ao cumprimento da promessa de Jesus: “Se alguém me ama, guardará minha Palavra, e meu Pai o amará e faremos morada nele”. Se o Pai feito sua morada no eleito, também habita no eleito o signo de duplo rosto do Pai: é “movimento”, posto que é a Vida eterna que vem do Pai; uma Vida que não cessa e que como uma torrente sustém o mundo criado e vivificado por Ele; e é “repouso”, posto que imóvel e imutável permanece o Pai em si mesmo, e com o movimento que Ele é, é possível encontrar-lhe no descanso sabático que desde o princípio tem reservado pelo povo “eleito de Deus”.

Movimento e repouso são um só signo no seio do Pai, uma só e mesma coisa; e isto se entende quando Jesus disse: “Vinde a mim e achareis descanso para vossas almas” (Mt 11,28-29).

Evangelho de Tomé