ESCOTO ERIUGENA — HOMÍLIA SOBRE O PRÓLOGO DO EVANGELHO DE SÃO JOÃO
XVIII ELE ESTAVA NO MUNDO (Jo I,10)
“Ele estava no mundo”. Aqui o Evangelista chama “o mundo” não a criação sensível em geral mas também, e mais especialmente, a natureza racional que é nos seres humanos. Em todos os seres humanos, de fato colocando simplesmente, no universo criado como um todo, o Verbo é a verdadeira luz que subsiste agora e sempre, porque nunca cessa de subsistir em todas as coisas.
Pois, justo no caso daquele que fala, quando pára de falar, sua voz cessa e desaparece, assim também com o pai celestial, parasse ele de pronunciar seu Verbo, o efeito de seu Verbo — o universo criado — cessaria de subsistir. Pois a manutenção contínua por substituição — a verdadeira continuidade — do universo criado é a fala de Deus o Pai, a geração eterna e imutável de seu Verbo (v. criação contínua).
Por conseguinte, não irracionalmente pode-se proclamar a seguinte sentença do mundo sensível somente: “Ele estava no mundo e o mundo foi feito por ele”.
Em outras palavras: A fim de que qualquer um, compartilhando da heresia maniqueísta, pense que o mundo, sob a percepção corporal, foi criado pelo diabo e não pelo Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, o teólogo adiciona: “Ele estava no mundo” — ou seja, ele subsistia neste mundo que contém todas as coisas — “e o mundo foi feito por ele”. Pois o Criador não habitava no universo feito por outro mas naquele que ele mesmo fez.