Tal é o significado oculto do relato genesíaco da embriaguez de Noé, de quem depois de ter bebido o vinho, se diz que “ficou nu (descoberto) no meio de sua tenda”, como o que seu filho Cam, “viu a desnudez (vergonhosa) de seu pai”. Por último, se diz que Sem e Jafé puseram uma capa sobre seus ombros, e assim “cobriram a desnudez (as vergonhas) de seu pai”, sem vê-las.
- No tocante ao sentido da embriaguez de Noé ao beber o vinho daquela vinha da qual o Pai é o vinhador (Jo 15,1), já se ensaiou uma primeira explicação no comentário do Evangelho de Tomé – Logion 28.
Não resulta demasiado difícil entender que nesta insólita passagem se relata a teofania de Noé, que depois de se ter “embriagado” com o vinho do conhecimento que advém da vinha de Deus, revelou, ou melhor, “des-cobriu” “em meio de si mesmo” (de sua tenda), ao Cristo eterno, oculto, preexistente e único dotado de Vida inacabável, que se manifesta como Eu Sou. A desnudez (as vergonhas) de Noé, foi logo coberta pelos filhos, mas estes mantiveram “seus rostos virados”, porque nas bodas sagradas do homem com Deus, deve se manter o sobreposto, o agregado, a distância, enquanto “o que é” se faz nuvem gloriosa. [Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 36-37]