Eckhart Sermão 7 (comentário)

Ancelet-Hustache

Este sermão não oferece dificuldades específicas. A paz, diz Eckhart, não se apresenta por si mesma. É preciso ir em direção a ela ou, melhor ainda, correr em direção a ela. Ela só pode ser encontrada em Deus: “O homem que está correndo, e constantemente correndo em direção à paz, é um homem celestial.”

O desenvolvimento que se segue trata de vários tipos de união: alimento e corpo, corpo e alma “… o alimento que eu como está unido ao ser com minha natureza, não em operação, e isso indica a grande união que devemos ter com Deus em ser, não em operação”.

A segunda acusação manteve essa fórmula. Sem qualquer discussão para se justificar, Eckhart simplesmente respondeu: “verum est, devotum et morale”, citando a frase das Confissões de Santo Agostinho: “Crescei e comei-me; não sois vós que me transformareis em vós, como o alimento em vosso corpo, sois vós que sereis transformados em mim”.

Nesse sermão, que se concentra principalmente na misericórdia, Eckhart dá a essa palavra um significado muito diferente do usual, por isso tem o cuidado de defini-la: não é o que faz com que Deus perdoe o pecado do homem, ou que um homem tenha piedade de outro; “significa que Deus estabelece a alma no mais alto e mais puro que ela é capaz de receber, na vastidão, no mar, em um mar insondável”. Mais uma vez, portanto, é a união com Deus que Mestre Eckhart está evocando em termos diferentes daqueles que ele usa com mais frequência. O que se segue prova claramente que estamos lidando com a mesma realidade.

São João diz que o amor se une, mas o amor se une na operação, não no ser. Ele aglutina (limet zuo), prende e une firmemente o que já está unido. Os melhores mestres dizem que o intelecto capta Deus em sua nudez: “O conhecimento avança através da verdade e da bondade, projeta-se no ser puro e capta Deus em sua nudez, pois ele não tem nome”. Como ele havia explicado mais detalhadamente no sermão: Intravit Iesus in quoddam castellum [Sermão 2]: nem o conhecimento nem o amor se unem no sentido que ele entendia. O amor agarra Deus de acordo com seu atributo de bondade, e como Eckhart não tem medo de metáforas ousadas, ele fala de um casaco (velle), uma vestimenta. De forma mais discreta, ele escreveu em latim: “Esse autem deus esse nudum sine velamine est… Tollitur enim velamen…”. Por outro lado, o intelecto capta Deus não no mar de sua insondabilidade, mas na medida em que o conhece. Acima do conhecimento e do amor está a misericórdia, no sentido em que o pregador a definiu anteriormente: “Lá Deus opera a misericórdia da maneira mais pura e mais elevada que Deus pode operar”.

“O que a alma é no fundo, ninguém sabe. O que pode ser conhecido deve ser sobrenatural e dado pela graça: ali Deus opera a misericórdia”, repete Mestre Eckhart. Em outras palavras, união.