Diadoco de Photiki Gouillard

DIADOCO DE PHOTIKI — CEM CAPÍTULOS SOBRE A PERFEIÇÃO ESPIRITUAL

3. O mal não está na natureza e ninguém é mau por natureza, pois Deus nada fez de mau. Porque quando alguém, por cobiça, leva ao estado de forma o que não tem substância, isso começa a ser o que a sua vontade o faz ser. É importante, pois, com o cuidado constante da lembrança de Deus, abandonar o “hábito” do mal, visto que a natureza do bem é muito mais forte que o “hábito” do mal, uma vez que uma é, enquanto a outra só tem existência no ato.

5. O livre-arbítrio consiste na disposição da vontade racional de mover-se rumo a seu objeto. Persuadamo-la, pois, a só ter disposição para o bem, cem o fim de destruir, a todo momento, por bons pensamentos, a lembrança do mal.

9. … A ciência é o fruto da oração e de uma grande paz aliada à completa ausência de preocupação; a sabedoria, o fruto de uma humilde meditação das palavras de Deus e, antes de tudo, da graça do Dispensador, Cristo.

11. …Reconheceremos, pois, a qualidade da palavra divina, sem risco de erro, quando consagrarmos as horas em que não temos que falar, a um silêncio livre de preocupação e acompanhado de uma ardente lembrança de Deus.

22. Examinai o abismo da fé, que aumenta suas vagas; considerai-o com disposição de simplicidade: é a bonança. O abismo da fé, o Letes em que se esquecem os pecados, não tolera ser observado por pensamentos indiscretos. Naveguemos nas suas águas com simplicidade de espírito, para abordar, assim, ao porto da vontade divina.

23. … Purificando-nos através de uma oração mais ardente, entraremos na posse do objeto desejado, graças a Deus, por uma experiência mais plena.

26. O combatente deve, em qualquer ocasião, conservar imóvel a sua inteligência, para que o espírito possa reconhecer os pensamentos que a atravessam: resguardar, nos tesouros da memória, os que são bons e enviados por Deus e lançar para fora dos depósitos da natureza os pensamentos funestos e demoníacos…

27. Bem raros os que conhecem com exatidão as suas próprias quedas e cujo intelecto jamais se deixa arrebatar à lembrança de Deus

29. … Se sua Divindade ( do Espírito Santo ) não ilumina poderosamente os tesouros de nosso coração, é impossível nos deleitarmos num sentimento indescritível, isto é, com disposição total.

30. O sentimento é a gustação segura, pelo intelecto, do objeto percebido…

31. Quando nosso intelecto começa a perceber a consolação do Espírito Santo, é que Satã, durante o repouso noturno, no momento em que se está caindo numa espécie de sono muito leve, consola a alma com um sentimento de falsa doçura. Se o intelecto se encontra vigorosamente preso ao santo nome do Senhor Jesus, através de uma lembrança ardente, e faz desse santo e glorioso nome uma arma contra a ilusão, o artesão da mentira retira-se, mas para iniciar uma guerra aberta contra a alma. O intelecto, então, reconhece a fraude do Maligno, sem contar que ele progride na experiência do discernimento.

32. A boa consolação se manifesta quando alguém se prende, por assim dizer, ao amor de Deus, por meio de uma ardente lembrança, quer esteja o corpo velando, quer esteja pronto para entrar numa espécie de sono. A consolação mentirosa produz-se sempre, como eu disse, quando o combatente cai num sono leve, tendo apenas uma meia lembrança de Deus. A primeira, sendo de Deus, quer evidentemente, através de um relaxamento profundo da alma, convidar ao amor a alma de quem combate pela devoção. A segunda, cuja natureza é ventilar a alma cem uma brisa de mentira, aproveitando-se do sono do corpo, começa a dissimular a experiência sentida por aquele que guarda intacta a lembrança de Deus.

Se o intelecto se encontrar, como foi dito, numa lembrança atenta do Senhor Jesus, armado com a graça e a intrepidez que a experiência lhe dá, ele vai dissipar essa brisa da doçura mentirosa do inimigo e iniciar, com alegria, o combate contra ele.

33. Se a alma, com movimento firme e sem imagens, se inflama de amor por Deus; se arrasta, per assim dizer, o próprio corpo, às profundezas desse amor indescritível — esteja o corpo de quem é movido pela santa graça, como eu disse, em vigília ou dormindo; e se ela não tem outro pensamento além do fim do movimento que a impele, sabei que é a operação do Espírito Santo. Porque jubilosa, toda, por essa inexprimível suavidade, então é impossível que ela não conceba nada, estando tão agitada por uma alegria inefável.

Se o intelecto concebe, nessa moção, a menor dúvida ou qualquer pensamento impuro, mesmo que tenha recorrido ao santo nome para repelir o mal e não unicamente por amor de Deus, deve-se concluir que essa consolação, sob aparência de alegria, vem do Mentiroso. Essa alegria indecisa e desordenada é a daquele que quer arrastar a alma ao adultério. Quando ele vê o intelecto cheio da força de sua experiência sentida, persuade, através de certas consolações mentirosas, a alma afrouxada por essa vã e mole doçura, a não reconhecer a mistura de mentira. É nisso que vamos discernir o espírito de verdade do de mentira. Pois, é impossível saborear no íntimo a bondade divina ou provar conscientemente o amargor dos demônios, se não se tiver a certeza absoluta de que a graça estabeleceu sua morada no fundo do intelecto, enquanto os espíritos maus circulam em torno dos membros do coração. Isso, os demônios gostariam, a te do custo, de ocultar aos homens, para que o intelecto, devidamente informado, não pudesse munir-se, contra eles, da lembrança de Deus.

SEGUE: I; II; III