No final do ciclo de sete anos, Deus cria os anjos. Em Aurora, Böhme diz que Deus se tornou uma criatura a fim de incorporar sua substância às criaturas celestiais. Assim, antes de se tornar homem em Cristo, o Redentor, Deus se tornou um anjo. Mas os anjos já tinham forma humana e, para Böhme, foi no homem que Deus se revelou desde toda a eternidade.
O homem é o símbolo perfeito da criação, mas ao mesmo tempo é semelhante a Deus. O homem contém toda a criação dentro de si, de acordo com as correspondências que Böhme descreve com muita precisão. Mas Deus também é o homem de acordo com a totalidade dos três princípios, que estão relacionados às pessoas da Trindade.
Em alemão, a mesma palavra Gleichnis é usada para expressar a semelhança divina e o símbolo. Na teosofia de Böhme, essa coincidência é particularmente significativa: criado à semelhança de Deus, o homem é o símbolo de todos os símbolos. O homem é o símbolo de Deus por excelência. O homem não é uma mera metáfora (nicht nur ein figürlich Gleichnis), pois ele é verdadeiramente nascido de Deus. O homem, diz Böhme, é o livro que contém todos os mistérios; é nele que se encontra o grande Arcano.
O homem é a semelhança perfeita do Deus que se revela. Mas se toda a revelação estiver no homem, Deus aparecerá à semelhança do homem. Não que Deus em si mesmo seja o homem, assim como não é a natureza representada pelo homem. No entanto, o santuário onde Deus se manifesta a nós e onde, para se revelar, se incorpora, é o homem.
O Deus que é semelhante ao homem, e o homem que é o símbolo perfeito de Deus, é Cristo nascido do ventre de Maria. A plenitude divina habita na humanidade de Cristo; está nele corporalmente, como diz São Paulo. A teosofia de Böhme é essencialmente uma cristosofia. Cristo é tanto o verdadeiro Deus, de acordo com o amor e a luz, quanto o homem tornado perfeito.
O ciclo septenário remonta tanto à vitória de Cristo sobre a morte quanto ao nascimento do Verbo no homem. Na teosofia de Böhme, o Filho, com seu Espírito, é o verdadeiro Deus. Agora, esse Deus não está mais, estritamente falando, no início, embora tenha sido escolhido na Sabedoria antes que a fundação do mundo fosse lançada. Deus é o fim de uma realização.
Mas o homem que o simboliza também não é um começo, pois nasceu com Cristo. É o novo homem. O homem anterior a ele, o velho homem, precisa morrer. Se fosse esse homem velho que fosse o símbolo perfeito de Deus, poderíamos falar de antropomorfismo, no sentido vulgar que sempre se liga a esse termo. Mas se quisermos interpretar fielmente o significado de Böhme, precisamos entender a dimensão que dá ao homem: ao se tornar homem, Deus fez do homem Deus. Esse é um lugar-comum no misticismo, mas é iluminado por Böhme sob uma luz especial.