Deghaye Boehme Maria

Pierre Deghaye — O Nascimento de Deus
MARIA MÃE DO CRISTO
Os comentadores de Jacob Boehme parecem ter esquecido a pessoa de Maria em sua obra. É justamente se este nome de Maria é citado, e quando aparece, não é por ele mesmo. Certamente, não se desconhece a importância do elemento feminino nos pensamentos de Boehme. No entanto toda a atenção se dirigiu sobre a Sabedoria, sobre a Sophia divina, a Virgem eterna. Ora, Boehme não confunde Sophia e Maria. Ao contrário, se preocupa em distingui-las. Boehme afirma com força que Maria não é Sophia, a Virgem celeste. Maria é certamente uma criatura, filha de Ana e de Joaquim. Maria revestiu a Sabedoria, mas sua pessoa é a de uma criatura. Não entendemos por aí uma criatura celeste. Por conta de seu nascimento, Maria é exatamente nossa semelhante.

Mas então, se o Cristo nasceu de uma simples criatura, esta não é senão um meio para disposição do projeto divino da encarnação? Não tem ela um papel mais ou menos episódico? Merece ela ser considerada por ela mesma? Sim, pois Maria é símbolo da criatura regenerada que, tendo concebido o Espírito Santo, dá nascimento ao Cristo. A este título, Maria representa o termo da Aliança: das Ziel des Bundes. O termo, isso significa a consumação da Aliança entre Deus e nossa humanidade.

Logo Maria é por excelência o templo no qual se cumpre o mistério supremo. Este templo, nossas pessoas são chamadas a se tornar após ela. A teosofia de Boehme é inteiramente uma teoria da revelação divina. Ora, é ma criatura que Deus se revela em se engendrando a si mesmo. Maria é a primeira criatura de todas as criaturas que terão o privilégio de dar nascimento ao Cristo.

É na pessoa de Maria que se encontra o lugar de encontro entre Deus e o homem. Ora, este lugar é substancial, não é aquele de uma simples passagem.

Nesta conjunção entre o divino e o humano que se realiza em Maria, Deus é representado por sua Sabedoria. Mas a pessoa humana que acolhe esta Sabedoria, é afetada de nossa carne mortal. Se ela não o fosse, não seria nossa semelhante, e desde então, a obra que se cumpriria nela não teria nenhum valor para nós. O Deus que se engendraria em um ser puramente celeste, seria um Deus estrangeiro, Boehme não deixa de o repetir.

O teósofo não fala de Deus senão em relação aos homens que somos. Deus não aparece em sua obra senão segundo a maneira pela quela se revela a nós e em nossa carne. Maria representa perfeitamente esta pessoa humana, que Boehme exalta no mais alto, posto que é nela que Deus, em se revelando, se conhece ele mesmo; no entanto mostra também as fraquezas na medida em que ela ainda não se despiu de nosso corpo perecível.

Maria será o símbolo de uma Igreja que dá nascimento ao Cristo, mas que Boehme considera também nos limites de nossa condição terrestre e que chama a pobreza cristã. Esta Igreja que simboliza Maria não de todo a Jerusalém do alto. Ela é a Igreja deste mundo, que é como a matéria grosseira, a rocha na qual o outro ;e a princípio guardado e de onde sairá como de um seio materno.

Assim Maria representa a humanidade sob seus dois aspectos contrários segundo a vocação espiritual e segundo sua condição terrestre.

Tais são as perspectivas que vão se precisar nesta exposição sobre Maria na teosofia de Jacob Boehme.