VIDE: Cegueira e Surdez
EVANGELHO DE JESUS: Mc 8, 22-26
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 19
Não há dúvida que os escribas que transmitiram a Boa Nova se comprouveram em relatar suas verdades sob as dobras difíceis do estilo parabólico e por isso a obtenção do fruto verdadeiro não se logra sem passar antes por um denso trabalho exegético.
Ocorre aqui como no evangelho de Marcos quando conta a curação do cego de Betsaida que exigiu de Jesus duas imposições consecutivas de mãos, a primeira para que o até então cego de visse os homens “como árvores que andam” e a segunda, para que alcançassem a ver “perfeitamente”. Como não é possível imaginar que Jesus não conseguisse sua curação “perfeita” com uma só imposição, há que deduzir que o evangelista quer dizer através de uma dobra interlineal que há uma forma de estar cego — a qual é condição comum de muitos homens que se dizem videntes — e dois graus de ver quando se “levanta a vista”: uma, “imperfeita”, que consiste em ver aos homens como árvores que andam, e outra, perfeita, cuja descrição não ocorre. a Marcos em sua perícope, mas que sugere um princípio eterno que bem poderia ser classificado metaforicamente no paraíso como “árvore perene”. Algo assim quis dizer, seguramente, Jesus quando explicou que “estes pequeninos” (se referia aos “nascidos do alto”, já se sabe), têm nos céus anjos que veem continuamente o rosto do Pai (Reino dos Pequeninos).
Evangelho de Tomé – Logion 34
Diz Jesus que seu juízo neste mundo é duplo: “que os que veem, vejam”, o que exige a purificação “passiva”, a que vem com o batismo do fogo do Espírito que “em nós está”, e que este juízo deve ir precedido de outro segundo o qual “os que veem se tornam cegos” (Nascido Cego), pois esta é a primeira purificação, a do batismo pela água, quer dizer, a dissolução ativa de todos os condicionamentos, mediante a constante conversão (metanoia) destes, ao ser eles os impedem que a luz resplandeça sobre a alma.
Esta é a causa pela qual o cego de Betsaida necessitou duas curações; a primeira para deixar de ver, isto é, para “ver” somente como um cego do espírito, que “sabe” que vê árvores quando há homens, e a segunda, para ver “perfeitamente”, ou seja, para ver o homem real, invisível, o Filho do Homem, que só se vê com o olho do Espírito.