Cassiano Conferencias II-25

CASSIANO — CONFERÊNCIAS

SEGUNDA CONFERÊNCIA DO ABADE MOISÉS — DA DISCRIÇÃO

XXV. Pergunta sobre o modo de conservar sempre a mesma e única medida.

Germano: Como, então, poderemos guardar ininterruptamente esta medida?

Muitas vezes, com efeito, depois de rompida a “estação” do jejum a hora nona, chegam irmãos. É preciso, então, em consideração a eles, acrescentar alguma coisa à medida estabelecida e costumeira, sob a pena de faltar à hospitalidade, que nos é ordenado oferecer a todos.

XXVI. Resposta afirmando que não se deve exceder a medida da refeição.

Moisés: Convêm observar os dois preceitos com uma única maneira e igual solicitude. Devemos, sem dúvida, guardar, de um lado, com todo escrúpulo, a medida do alimento, por amor da temperança e da pureza; e, de outro, oferecer aos irmãos sobrevindos, em nome da caridade, a hospitalidade e o consolo fraterno. Pois é bem absurdo que, oferecendo a um irmão, ou, melhor ao Cristo, a tua mesa, não tomes junto com ele o alimento, ou te faças alheio a sua refeição.

Assim, para que não nos vejamos censuráveis nem num sentido nem noutro, guardemos o seguinte costume: a hora nona, não tomemos senão um dos dois pães aos quais a media canônica nos dá direito, e reservemos o outro para a tarde, na expectativa de alguma visita. Se aparecer um irmão, vamos comer esse pão junto com ele, sem acrescentar nada mais à regra costumeira. Desta maneira, a chegada do irmão não nos dará nenhuma tristeza, pois ele nos deve dar o maior gosto. E assim lhe prestamos os serviços da hospitalidade, sem nada relaxar do rigor da nossa abstinência.

Se, no entanto, não vier ninguém, podemos livremente comer aquele pão, porque ele nos é devido pela regra canônica.

Neste caso, o nosso estômago não se ressentirá da parcimônia desse repasto da tarde, pois já recebeu à nona um dos dois pães. Com isto evitamos o que, muitas vezes acontece aqueles que retardam para a tarde a refeição completa, sob pretexto de observar uma abstinência mais rigorosa. É que, por causa da refeição que acabam de tomar, não conseguem encontrar em suas orações da tarde e a noite a finura e a leveza do sentimento.

Por isto, a refeição a hora nona é conveniente e vantajosa, visto que assim o monge se encontra ágil e livre nas vigílias noturnas e mesmo na solenidade das vésperas, já feita a digestão, bem disposto.

Com estas lições, o santo abade Moisés nos fartou com as iguarias de sua dupla instrução.

Na última conferencia, ele mostrou a graça e a virtude da discrição. Na anterior, o caráter da nossa renúncia e o escopo e o fim da profissão monástica.

Assim, o que antes buscávamos somente com fervor de espírito e zelo de Deus, mas, de certo modo, com os olhos fechados, ele nos abriu com uma clareza maior do que a luz, e fez sentir o quanto até então estávamos longe da pureza de coração e da reta direção, quando, na verdade, mesmo a aprendizagem das artes visíveis desta mundo não pode subsistir sem um fim preciso, nem ser alcançada sem a contemplação de um fim determinado.