CASSIANO — CONFERÊNCIAS
SEGUNDA CONFERÊNCIA DO ABADE MOISÉS — DA DISCRIÇÃO
XXIII. Como moderar a abundância dos humores.
Na verdade, o que é uma vez acumulado nas entranhas pela abundância de alimentos, é necessariamente digerido rejeitado pela própria lei da natureza que não permite ficar nela a exuberância de nenhum humor supérfluo.
Devemos, por isto, castigar nosso corpo com uma parcimônia sempre razoável e equânime, a fim de que, nos dendo impossível, enquanto moramos na carne, escapar dessa necessidade natural, ao menos não nos encontre o curso do ano molhados por essas escórias, senão mais raramente e não mais do que três vezes. Isto mesmo, porém , aconteça num sono quieto, sem nenhum prurido, e não provocado por imagens enganadoras que seriam o sinal duma volúpia escondida.
Por este motivo, é esta a uniformidade e a medida da abstinência, comprovada pelo juízo dos Pais: uma refeição diária de pão, que não mate o desejo de comer por esse meio, a alma e o corpo estão sempre no mesmo estado, sem ser a alma abatida pela fadiga do jejum, nem agravada pela saciedade. Com tão grande frugalidade, acaba-se, às vezes, por não sentir depois da tarde, nem a lembrança do repasto feito.