CASSIANO — CONFERÊNCIAS
SEGUNDA CONFERÊNCIA DO ABADE MOISÉS — DA DISCRIÇÃO
XVIII. Pergunta sobre a medida da abstinência e da comida.
Germano: Qual é, então, a medida da abstinência que preciso observar com equilibrada direção, para atravessar ileso entre os exageros opostos?
IX. A melhor medida para a refeição cotidiana.
Moisés: Sobre esta questão, sabemos que os nossos maiores a tratarem repetidas vezes. Depois de ter discutido as práticas usadas por diversos, que levavam a vida permanentemente só com legumes ou apenas com hortaliças ou frutas, eles preferiram a tudo isso a refeição só de pão, e estabeleceram como a mais equilibrada medida dois “paxamatia”, que são pequenos pães que pesam os dois quase uma libra.
XX. Objeção sobre a facilidade duma abstinência que se sustenta com dois desses pãezinhos.
Agradecendo esta resposta, respondemos que não considerávamos esta medida como uma abstinência, já que jamais conseguiríamos tomá-la inteira.
XXI. Resposta sobre a virtude e o comedimento desta forma experimentada de abstinência.
Moisés: Se queres experimentar a força de tal regime, observai sem varias esta medida, sem acrescentar aos domingos ou sábados ou por ocasião da visita de irmãos um prato de cozido.
É verdade, sem dúvida, que, refeito por esse suprimento extraordinário, o corpo é capaz de contentar-se com menor quantidade nos outros dias, podendo até transferir para o dia seguinte, sem fadiga, a refeição assim completa.
Mas quem se limitar sempre à quantidade e a dieta de que acima falamos, não poderá, de modo algum, fazer o mesmo, nem adiar a refeição de pão para o dia seguinte. Lembro-me, com efeito, que alguns dos nossos antigos (e posso acrescentar a minha própria experiência muitas vezes) tiveram tanto trabalho e dificuldade em sustentar a parcimônia desse regime, e guardaram com tal esforço e fome essa medida, que a custo e como que contra a vontade, e não sem tristeza e gemidos, se levantavam da mesa.
XXII. Qual é, em geral, a medida da abstinência e da refeição.
A regra geral da abstinência e cada um só comer a quantidade conforme as forças do seu corpo e suavidade, e quanto for necessário ao sustento do corpo e não segundo o desejo de plena satisfação.
Sofrera o maior dano de um lado e de outro, todo aquele que ora aperta o estômago pela severidade dos jejuns, ora o dilata pelo excesso de comida.
Assim como a mente esgotada por falta de alimento perde o vigor da oração, sob a extrema lassidão do corpo que a compele a sonolência, também, de outra parte, será incapaz, sob a opressão do excesso contrário, de elevar a Deus preces puras e leves. E nem mesmo conseguirá conservar sem lesão a pureza da própria castidade, pois nos mesmos dias em que ele parece castigar a carne com uma abstinência mais acerba, a madeira da véspera, isto é, a intemperança de ontem, alimentará o fogo da concupiscência carnal.