CASSIANO — CONFERÊNCIAS
SEGUNDA CONFERÊNCIA DO ABADE MOISÉS — DA DISCRIÇÃO
XV. A vocação do apóstolo Paulo
Também quanto a Paulo, Cristo o chama diretamente e fala-lhe sem intermediário. Podia abrir-lhe imediatamente o caminho da perfeição, mas prefere dirigi-lo a Ananias e lhes ordena que aprenda deste a via da verdade: “Levanta-te, entra na cidade, e lá te dirão o que é preciso fazer” (At 9,6).
Ele o envia, portanto, a um antigo, e julga melhor que este o instrua, em vez de instruí-lo ele mesmo, para que não acontecesse que aquilo que teria sido correto em Paulo, oferecesse aos pósteros um mau exemplo de presunção, quando cada um se convencesse de que igualmente deveria se formar pelo magistério e ensino de Deus só, e não à escola dos antigos.
O próprio Apóstolo é o primeiro a ensinar não só por seus escritos, mas ainda pelo exemplo e por suas obras, que tal presunção deve ser de todo modo detestada. É só por isto, como ele assevera, que vai a Jerusalém para conferir com os seus coapóstolos e predecessores, num exame de certa forma privado e familiar, o evangelho que anunciava aos gentios, com tal acompanhamento de graça do Espírito Santo e grande poder de sinais e prodígios: “E conferi com eles o evangelho que prego entre as nações, para não correr ou ter corrido em vão” (Gal 2,2).
Quem, portanto, é tão presunçoso e cego, a ponto de ousar se fiar em seu próprio julgamento e discrição,quando o Vaso de eleição atesta que precisou de uma conferência com os seus coapóstolos?
Eis uma prova evidentíssima de que o Senhor não mostra a ninguém o caminho da perfeição, quando tento este o poder de ser instruído, despreza a doutrina e a regra de vida dos antigos, pondo de lado esta palavra que importa guardar com a maior diligencia: “Interroga o teu pai, e ele te ensinara; os teus antigos, e eles te dirão” (Deut 32,7).