Cassiano Collatio XVI-25

CASSIANO — CONFERÊNCIAS

CONFERÊNCIA XVI — PRIMEIRA CONFERÊNCIA DO ABADE JOSÉ SOBRE A AMIZADE

XXV. Pergunta: Como será um forte aquele que não atura o fraco sempre?

Germano: De que modo pode ser digna de louvor a paciência do varão perfeito, se ele não consegue tolerar sempre o fraco?

XXVI. Resposta: é o fraco, em verdade, que não deixa que o suportem.

José: Eu não disse que a virtude e a paciência daquele que é forte e robusto devam ser vencidas. Mas, sim, que a saúde péssima do fraco, entretida pelo apoio do que é são, e piorando dia a dia, acabará gerando as causas pelas quais ou ele não deverá mais ser ajudado, ou, senão, por presumir que a paciência do outro é uma acusação da sua impaciência, preferirá se afastar um dia, a viver sempre amparado pela generosidade do outro.

Assim, aos que almejam guardar inviolável o afeto da amizade, a lei que devem, a meu ver, observar acima de tudo, é que o monge, ultrajado por qualquer injúria, conserve bem tranquilos não só os seus lábios, mas igualmente o fundo do seu coração. E se ele, todavia, se sente, ainda que de leve, perturbado, contenha-se com todo silêncio, seguindo exatamente o que diz o Salmista: “Eu me perturbei, e não falei” (Sl 78,5), e ainda: “Guardarei as minhas vias, de medo de pecar pela língua. Pus uma guarda à minha boca, enquanto o pecador estava em frente de mim. Fiquei mudo, e me humilhei, e guardei o silêncio mesmo para as coisas boas” (Sl 38, 2-3).

É bom que ele não se ponha a considerar o momento presente, evitando que a sua boca profira tudo aquilo que lhe é sugerido, na hora, pela cólera impetuosa, e o que lhe dita o coração exasperado.

Em vez disso, repasse na lembrança a graça da caridade anterior, e veja, por antecipação, em seu espírito, a paz restituída, contemplando-a como que logo de volta, no próprio tempo em que ele se sente já abalado.

Enquanto ele se reserva para gozar da concórdia iminente, não experimentará o amargor da desavença presente, e assim a resposta que der será sobretudo em termos dos quais nem ele tenha de se acusar, nem o outro a censurar, quando a amizade se restabelecer. Desta forma, ele cumprirá a palavra do profeta: “Há cólera, lembra-te da misericórdia” (Hab 3,2).