Exteriormente, se era verdade que a Ordem do Templo, pelo seu poder e pelo seu exemplo, suscitava a admiração de muitos, também era verdade que inimigos não lhe faltavam. E o maior deles subiu ao trono em 1285: o rei Filipe o Belo, de França. Era um rei ambicioso, rodeado de uma burguesia enriquecida que se apoiava numa nobreza enfraquecida e decadente, na qual o espírito da Cavalaria tinha sido já substituído pela pura ganância do poder. Os cavaleiros do Templo representavam exatamente o ideal que eles não conseguiam nem queriam abraçar. Além disso, tinham a influência, o poder e o dinheiro que faltavam nessa corte de gananciosos. O rei e os seus cúmplices organizaram toda a manobra que iria conduzir à detenção dos Templários franceses no dia 13 de Outubro de 13071. As prisões foram feitas por esbirros civis e não por comissários da Inquisição, embora a ordem de prisão tivesse sido avalizada pelo inquisidor-mor do reino, que era o próprio confessor do rei… As instruções especificavam que os comissários civis, depois de prenderem os Templários, deveriam fazer logo os primeiros interrogatórios e só depois chamariam os inquisidores. Tratava–se de levar a maior parte dos presos, graças à tortura, a reconhecer os «artigos do erro» indicados aos comissários: que cuspiam três vezes sobre a cruz, que se beijavam em diversas partes do corpo quando o novo cavaleiro era recebido, que praticavam sodomia obrigatória, adoravam um ídolo e suprimiam a consagração do pão e do vinho durante as missas ditas por padres pertencentes à Ordem… Evidentemente que estas acusações não tinham qualquer fundamento, como se encontra hoje plenamente demonstrado.
Entretanto, o Grão-Mestre, submetido a prisão e a torturas durante dez dias, acabara por «confessar» aos juízes a verdade de todas as acusações de que a Ordem era alvo, com exceção da de homossexualidade. Outros mais se confessaram culpados, e Clemente V, o Papa, inteiramente nas mãos de Filipe o Belo, fez então uma bula ordenando a detenção geral dos membros da Ordem em toda a Europa. Depois de conseguidos os seus objetivos, o rei mandou entregar os seus prisioneiros ao Papa, «como prova de respeito pelas liberdades da Igreja»… Renasce então a esperança entre os Templários. O Grão-Mestre, Jacques de Molay, renega as supostas confissões que fora obrigado a fazer e convida todos os seus cavaleiros detidos a fazer o mesmo, visto que essas confissões tinham sido arrancadas à força de torturas. Segundo alguns historiadores, Jacques de Molay tê-lo-á mesmo feito na Igreja, perante uma grande multidão, mostrando a todos as marcas da tortura. Mas contra ele jogava uma corrente contrária de opinião, a daqueles que viam nas Ordens religiosas e de monges-cavaleiros apenas instituições ricas, cujos bens ambicionavam possuir também, mas para outros fins. Estava-se no final da Idade Média e o espírito do chamado Renascimento começava a invadir tudo e todos…
Os cúmplices do rei movimentaram uma verdadeira campanha de opinião pública contra os cavaleiros, pedindo para eles a pena de morte e acusando o Papa de ser demasiado favorável aos Templários.
Em 1308, o rei manda reunir uma assembleia em Tours, a quem faz adotar uma espécie de moção de confiança a seu favor e contra a Ordem do Templo. Por outro lado, Filipe o Belo encontra-se com o Papa em Poitiers e exerce pressão sobre ele. Em Agosto desse ano, o Grão-Mestre e os principais dignitários da Ordem em França, que deveriam ser conduzidos a Poitiers e aí interrogados pessoalmente pelo Papa, são detidos em Chinon, sob pretexto de doença, e interrogados pelos cúmplices do rei. O processo é reaberto com o rei a controlar tudo. Os Templários detidos declaram que defenderão a Ordem e a Verdade até à morte — e as primeiras mortes acontecem realmente às mãos dos inquisidores… As torturas continuam entre cada duas audiências perante os juízes…
Clemente V, enfraquecido e doente, reúne um concilio local cm Viena, no mês de Outubro de 1311. Perante o processo que lhe é enviado por Filipe o Belo, o Papa hesita e acaba por adotar uma solução conciliatória: pela sua bula «Vox clamantis», a Ordem do Templo não é condenada mas é extinta. «Nós abolimos, não sem amargura e dor Intima, não cm virtude de uma sentença judicial, mas por decisão ou ordenança apostólica, a Ordem dos Templários, com todas as suas instituições». A bula é entregue ao concilio e os participantes são, desse modo, impedidos de discutir o assunto…
Os bens dos Templários foram entregues aos Hospitalários e o tribunal, sob a dependência direta do Papa, acabou, em 19 de Março de 1314, por condenar à morte Jacques de Molay e Geofroi de Charnay. Morreram na fogueira, virados, a seu pedido, na direção da igreja de Notre-Dame. De acordo com a tradição, antes de morrer, Jacques de Molay convocou o Papa e o rei a comparecerem perante o tribunal celeste dentro de um ano, o que veio realmente a acontecer…
Dante, que terá assistido em Paris a essa execução, viria a colocar Clemente V no oitavo círculo do seu «Inferno», entre os simoníacos, ou seja, os traficantes da espiritualidade…
Note-se a coincidência da data com a data última das aparições de Fátima… ↩