Brown (BLPS) – vontade

Como a vontade indeterminada carece de um objeto real, ela deseja se manifestar.13 Isso lhe dá um tipo de estrutura determinada, baseada nas tendências interdependentes de concentração em si mesma e de expansão para fora de si mesma. (Essas tendências se repetem em todos os níveis da ontologia de Boehme.) Se algo deve se revelar e se expressar (expandir), só pode fazê-lo com base no fato de possuir uma identidade (concentração). E é precisamente na auto-revelação (expansão) que ela vem a conhecer sua própria identidade (concentração).14 Esses dois momentos, mais sua origem, formam uma estrutura trinitária da vontade: vontade indeterminada (Pai); vontade que possui uma identidade (Filho); vontade como auto-revelação (Espírito).15 Essa tríade não é a Trindade real, mas apenas uma prefiguração de possíveis relacionamentos. Não pode haver relacionamentos reais e auto-objetificação até que haja um objeto real, fornecido pelo desejo. A vontade teve apenas uma amostra do que poderia se tornar se sua estrutura potencialmente determinada fosse realizada.

A vontade imagina o que seria ter um outro em oposição a si mesma em sua estrutura tríplice. Esse quarto fator imaginado é a primeira aparição da Sophia,16 uma figura recorrente no pensamento de Boehme que representa aqui a sabedoria divina, a infinidade de ideias que poderiam ser transformadas em uma criação contra a vontade realizada. Em outras palavras, a vontade se imagina como criadora de um cosmo orgânico.

Nunca é demais enfatizar que nada dessa imaginação na vontade ainda é realizado. É uma espécie de imagem transcendental das condições que devem existir para que Deus se torne ele mesmo. Essas estruturas potenciais da vontade devem interagir com o desejo, a fim de que a vontade possa se transformar no que chamamos de Deus, um ser autoconsciente com uma essência própria.