JACOB BOEHME — Franz Hartmann — Cristianismo Pessoal
Retiradas do estudo de Franz Hartmann sobre Boehme, traduzido e oferecido pela SCA.
“Antes de sua queda, o homem podia governar o sol e as estrelas. Tudo estava em seu poder. O fogo, o ar, a água e a terra não podiam subjuga-lo; nenhum fogo o queimava, nenhuma água o afogava, nenhum ar o sufocava; tudo o que vivia o temia”. (A Vida Tríplice…, XI 23).
“Nenhum calor, frio, doença, acidente ou medo algum podia tocá-lo ou terrificá-lo. Seu corpo podia passar pela terra e pedras sem que nada fosse quebrado; pois um homem que fosse subjugado pela natureza terrestre, ou que pudesse ser quebrado em pedaços, não seria eterno”. (Encarnação de Cristo…, I 2 13).
“Adão encontrava-se no Paraíso, ou seja, na temperatura. Ele encontrava-se numa certa localidade, a saber, onde o mundo santo estava florescendo pela terra e gerando os frutos do Paraíso”. (Grace, V.34).
“‘Éden’, quer dizer a localidade, mas ‘Paraíso’ é o fluxo ou a vida de Deus na harmonia divina”. (Cartas, XXXI 28).
“No Paraíso, a substância do mundo divino penetrou a substância pertencente ao tempo, comparável ao poder do sol penetrando uma fruta que cresce na árvore, dotando-a de qualidades que a tornava linda à vista e boa ao paladar”. (Mysterium, XVII 5).
“Assim o santo mundo divino era predominante nos três princípios da qualidade humana, e havia um acordo igual, sendo que nenhum inimigo ou vontade oposta estava manifestado entre os princípios”43. (Mysterium, XVII 20).
“No Paraíso há plantações, assim como neste mundo, mas não com a mesma tangibilidade. Lá o Céu está no lugar da terra, a Luz de Deus, no lugar do sol e o Pai Eterno no lugar do poder das estrelas”. (Três Princípios…, IX 20).
“O Paraíso não é algo corpóreo ou tangível num sentido terrestre, mas sua corporeidade e tangibilidade são como a dos anjos. Trata-se de uma substância clara, visível, como se fosse material, e é realmente ‘material’, mas formada apenas do poder, sem qualquer adição de matéria terrestre, e é, portanto, perfeitamente transparente”. (Três Princípios…, IX 18).
“O mundo tangível ou natureza, antes da cólera de Deus, era tênue, etéreo, amoroso e claro, de modo que os espíritos originais pudessem olhar através de todas as coisas e nelas penetrar. Não havia ali nem terra, nem pedras, não havia a necessidade da luz criada, tal como é agora; mas a luz foi gerada em todas as coisas no meio de cada coisa, e tudo se encontrava na luz”. (Aurora, XVIII 29).
“Todo o mundo seria um só Paraíso se não tivesse sido corrompido por Lúcifer. Mas como Deus sabia que Adão iria cair, produziu em um só lugar, onde o homem pudesse encontrar uma morada apropriada e ali fosse fortificado”. (Mysterium, XVII 7).
“Deus viu e sabia que o homem iria cair, por isso o Paraíso não floresceu e gerou frutos em todo o mundo por meio da terra, embora estivesse manifestado em todo lugar, mas apenas no Jardim do Éden, onde Adão foi tentado, é que ele se tornou revelado em sua total magnificência”. (Cartas, XXXIX 28).
“Em Adão estava manifestado o reino da graça, a vida divina, porque vivia na temperatura (harmonia) das qualidades, mas ele não sabia que Deus estava revelado nele. Do mesmo modo sua vontade-própria não sabia o que era bom, pois até então não havia experimentado mal algum. Como poderia haver qualquer satisfação se nenhuma dor era conhecida?” (Grace, IX 15).
“A alma encontrava-se em sua própria essência na eternidade, mas como algo criado, foi formada para representar a imagem de Deus no momento da criação do corpo. No entanto, ela não é, per se, a verdadeira imagem, mas apenas um fogo essencial para a sua produção”. (Tilken… I 8 I).
“A alma do homem, soprada por Deus, é do Pai Eterno; mas ela ainda não apreendeu o nascimento do Filho, onde é o fim da natureza, e de onde nenhum ser criado emana”. (Três Princípios…, IX 13).
“Deus possui a eterna e imutável vontade para gerar Seu Coração e seu Filho, e assim a alma deveria colocar sua vontade imutável no coração de Deus. Então ela estaria no céu e no Paraíso, desfrutando da felicidade inexprimível de Deus o Pai, a que Ele desfruta no Filho; a alma ouviria então as palavras inexpressíveis no coração de Deus”. (Três Princípios… X 14).
“Adão foi concebido no amor de Deus e nasceu neste mundo. Tinha posse de uma substancialidade divina e sua alma era de vontade, o primeiro princípio, a qualidade do Pai. Essa vontade deveria ser dirigida, juntamente com sua imaginação, no coração do Pai, ou seja, no Verbo e no Espírito do amor e da pureza. A alma humana reteria então, a substância de Deus no Verbo da Vida”. (Encarnação de Cristo…, I 10 2).
“Se a alma mergulha sua vontade na humildade, ou seja, na obediência de Deus, torna-se uma fonte do coração de Deus, recebe o poder divino e todas as suas essências tornam-se angélicas e deleitosas. Suas essências ásperas também se tornam úteis, aparecendo-lhe mais humildes e úteis do que se tivessem sido inteiramente doce e humilde desde sua origem”. (Três Princípios… XIII 31).
“A luz e o poder da luz é um desejo, e quer possuir a nobre imagem feita à semelhança de Deus, porque foi criada para o mundo da luz. O mundo das trevas ou a cólera aguda deseja o mesmo, pois o homem tem todos os mundos em si, e há uma grande batalha ocorrendo dentro dele. Aquele princípio com o qual ele se identifica em seu desejo e vontade, é o que o governará”. (Tilk I 38 I).
“Sendo a alma essencial e sua substância um desejo, fica claro que está em dois tipos de Fiat. O primeiro é sua própria propriedade-alma; o outro pertence ao segundo princípio, emanado da vontade de Deus na alma. A alma deseja Deus, a fim de se tornar Sua imagem e semelhança; esse desejo de Deus atua como um Fiat em seu próprio centro; pois o desejo de Deus quer possuir a alma. Por outro lado, ela própria deseja possuir o centro no poder do fogo, onde a vida da alma se origina”. (Eye, VII).