Boehme: eternidade

“Toda a nossa doutrina nada mais é do que uma instrução de como o homem pode criar um reino de luz dentro de si mesmo… Aquele em quem flui esta fonte de poderes divinos carrega consigo a imagem divina e a substancialidade celeste. Nele Jesus nasceu da Virgem, e ele não irá perecer na ETERNIDADE”. (Seis Pontos…, VII 33).

“A vontade deve buscar ou desejar nada mais do que a misericórdia de Deus no Cristo; deve entrar continuamente no amor de Deus, e não permitir que nada a afaste deste objetivo. Se a razão externa triunfa e diz: ‘Eu tenho o verdadeiro conhecimento’ então a vontade deve fazer a razão carnal curvar-se à terra, fazendo com que entre num estado mais elevado de humildade, e com que repita sempre para si mesma as palavras: ‘És tola. Tu nada possuis senão a misericórdia de Deus’. Tente penetrar essa misericórdia e tornar-se um nada em si mesmo, e afaste-se de todo o seu próprio conhecimento e desejo egoísta, reconhecendo-os como algo inteiramente impotente. Então a vontade própria natural, irá entrar num estado de abandono, e o Espírito Santo de Deus irá tomar uma forma viva dentro de ti, inflamando a alma com suas chamas de amor divino. Assim, o conhecimento elevado e a ciência do Centro de todo ser irá surgir. O eu humano irá começar a perceber o Espírito de Deus, tremulamente e na alegria da humildade, e será capaz de ver o que está contido no tempo e na ETERNIDADE. Tudo está perto de uma alma nesse estado, pois a alma não é mais propriedade sua, mas um instrumento de Deus. Em tal estado de calmaria e humildade a alma deve permanecer, como uma fonte permanece em sua própria origem, ela deve, sem cessar, atrair e beber daquele poço, e nunca mais desejar deixar o caminho de Deus”. (Quietude…, 1, 24).

“O Cristo diz: O Filho do Homem não faz nada além do que vê o Pai fazendo. Se o Filho do Homem tornou-se o nosso corpo e Seu espírito o nosso próprio espírito, seria possível não conhecermos à Deus? Se vivemos no Cristo, o Espírito de Cristo verá através de nós e em nós aquilo que deseja, e aquilo que o Cristo deseja veremos e conheceremos Nele. O mundo dos anjos é mais simples e mais claramente compreensível para o homem regenerado do que o mundo terrestre. Ele também vê no céu, e observa a Deus e a ETERNIDADE”. (Encarnação de Cristo…, II. 7,3).

“A Divindade é um laço eterno, que não pode perecer. Ela gera a si mesma de ETERNIDADE em ETERNIDADE, e o primeiro ali é sempre o último, e o último o primeiro”. (Três Princípios…, VII. 14).

“A Liberdade Eterna possui a vontade, e é a vontade. Na vontade há um desejo de realizar ou um impulso de desejar alguma coisa. Não há nada além dessa vontade, para o que tal impulso pudesse ser dirigido. A vontade portanto vê em si mesma como na ETERNIDADE; ela vê o que é, e assim cria em si um espelho”. (Quarenta Questões…, I.13).

“A sabedoria coloca-se diante de Deus como um espelho ou reflexo, onde a Divindade vê seu próprio ser e todas as grandes maravilhas da ETERNIDADE, que não tem começo, nem fim, no tempo, cujo princípio e o fim são eternos. A sabedoria é uma revelação da Santíssima Trindade; isso não deve ser compreendido como se ela revelasse a si mesma à Deus, através de seu próprio poder ou escolha, mas o centro divino, o coração e essência de Deus, torna-se revelado nela. Ela é como um espelho da Divindade, e como qualquer outro espelho, simplesmente permanece quieta; ela não produz imagem alguma, mas simplesmente a concebe”. (Encarnação de Cristo…, I, 1, 12).

“Sobre a ETERNIDADE não podemos falar de outra forma senão como de um espírito, pois tudo era espírito no princípio; mas esse espírito também tem se envolvido num ser, desde toda a ETERNIDADE”. (Encarnação de Cristo… I 2).

“Aquilo que é tranquilo e sem ser, repousa em si mesmo, não contém as trevas, mas é uma felicidade lúcida, clara e calma. Isso é, pois a ETERNIDADE, sem nada mais, e significa acima de tudo Deus. Mas como Deus não pode existir sem um ser, Ele concebe em Si mesmo uma vontade, e essa vontade é amor”. (A Vida Tríplice…, II 75).

Deus é desde a ETERNIDADE Poder e Luz, e é chamado Deus por causa disso, mas não de acordo com o espírito-ígneo. Quanto a esse, não falamos dele como Deus, mas como ‘a cólera de Deus’ e a parte de Seu poder que consome. A luz de Deus também possui a qualidade do fogo, mas em nela a cólera é transformada em amor; ódio e amargor doem numa humilde beneficência e doce desejo ou satisfação”. (Encarnação de Cristo…, I 5-16).

“A Essência eterna, desejando revelar-se a si mesma (para obter auto consciência), teve que conceber em si uma vontade; mas como em si mesma não havia objeto para sua vontade ou desejo, exceto o Verbo poderoso, que na ETERNIDADE tranquila não existia, os sete estados da natureza eterna tiveram que nascer ali. Daí procede então, de ETERNIDADE em ETERNIDADE, o Verbo poderoso, o poder, o coração e a vida da ETERNIDADE tranquila e de sua sabedoria eterna”. (A Vida Tríplice…, III 21).

“Quando o fogo e a luz espirituais são acesos nas trevas (tendo, contudo, queimado desde a ETERNIDADE), o grande mistério do poder e do conhecimento divino revela-se eternamente ali, porque no fogo todas as qualidades da natureza aparecem exaltadas na espiritualidade. A natureza permanece o que é, mas a sua expressão, ou seja, aquilo que ela produz, torna-se espiritualizado. A vontade obscura é consumida no fogo, expressando com isso o puro espírito-fogo, penetrado pelo espírito-luz”. (Clavis, IX. 64).

“Quando o Pai pronuncia Seu Verbo — ou seja, quando Ele gera Seu Filho — o que é feito contínua e eternamente, esse Verbo tem sua origem, em primeiro lugar, na primeira qualidade adstringente, onde se torna concebido. Na segunda qualidade ou qualidade doce recebe sua atividade; na terceira, se movimenta; no calor ele surge e acende o doce fluxo do poder e do fogo. Todas as qualidades são feitas para queimar pelo fogo aceso, e o fogo é por elas alimentado; mas esse fogo é só um, não muitos. Esse fogo é o verdadeiro Filho de Deus, que continua nascendo de ETERNIDADE em ETERNIDADE”. (Aurora, VIII. 8 I).

“O Filho nasce perpetuamente, de ETERNIDADE em ETERNIDADE, e brilha continuamente nos poderes do Pai, enquanto que esses poderes são continuamente gerados no Filho”. (Aurora, VII. 33).

“O mundo externo não é Deus, e não será Deus em toda ETERNIDADE. O mundo é meramente um estado de existência onde Deus está manifestando a Si próprio. (Stief, II. 316)”. 46

“Com a luz e o coração de Deus, como tais, nada pode ser criado; porque, a luz é o fim da natureza e não possui qualidade. Portanto, ela não pode mudar ou tornar-se algo, mas permanece sempre a mesma na ETERNIDADE”. (Três Princípios…, X 41).

“A sabedoria é uma imaginação divina, onde as ideias dos anjos e almas foram vistas na ETERNIDADE; não como criaturas reais e substanciais, mas não essencial como as imagens num espelho”. (Clavis, X.5).

“A semelhança de Deus, tendo sido vista na sabedoria de Deus desde toda ETERNIDADE, e na qual Deus criou o Homem, era sem vida e sem substancialidade antes do princípio dos tempos deste mundo. Era um mero reflexo da imagem onde Deus viu como Ele seria numa imagem”. (Stief, II. 123).

“O Homem não existe desde a ETERNIDADE; mas apenas como uma sombra de uma imagem, onde Deus em Sua sabedoria soube de todas as coisas desde a ETERNIDADE, no espelho de Sua própria sabedoria”. (Stief, II 143).

“Tudo existe desde toda ETERNIDADE, mas apenas como ideias, não como coisas existentes corporalmente. Somente espíritos incorpóreos existiam (como ideias) na ETERNIDADE, como num mundo de magia, onde uma coisa contém a outra na potencialidade”. (Quarenta Questões… XIX.7).

“Na ETERNIDADE, na Vontade eterna, havia uma natureza, mas ela existia ali apenas como um espírito, e sua essencialidade não estava manifesta exceto no espelho daquela Vontade, ou seja, na sabedoria eterna”. (Assinatura…, XIV. 8).

“Desde toda ETERNIDADE a luz de Deus era clara, doce e graciosa; mas quando Deus movimentou-se para criar, a matriz (o fundamento), com suas qualidades, amarga, ácida, obscura e ígnea, tornou-se manifesta; os anjos foram criados desta matriz para a luz, tornando-se corpóreos pelo Espírito em movimento”. (Aurora, V 24).

“Há uma vida superior à vida neste mundo, na ETERNIDADE. O espírito deste mundo (a mente terrestre) não pode conceber a sua natureza. Ela contém em si todas as qualidades desta vida terrestre, mas não em essências inflamadas como no último. Verdadeiramente, ela também contém um fogo, e muito poderoso, mas que queima de forma diferente; ele é doce, humilde e sem dor; ele não consome, mas causa majestade e esplendor vivo, seu espírito é puro amor e alegria”. (A Vida Tríplice…, VIII. I).

“Como os demônios, levados pela concepção e devassidão, incendiaram-se a si próprios, foram completamente expulsos da geração da luz, e não podem concebê-la ou compreendê-la em toda ETERNIDADE. No entanto, a habitação de Lúcifer ainda não está completada, porque em todas as coisas nesse mundo ainda há amor e cólera residindo juntas, batalhando uma contra a outra. Aquelas coisas ou seres ainda não perceberam a luta da luz, mas somente a luta das trevas”. (Aurora, XVIII.32).

“Quando observo a água exterior, sou forçado a dizer: ‘Aqui, na água de baixo do firmamento, está contida a água de cima do firmamento’. Mas o firmamento é o meio, a ligação (linha divisória) entre tempo e ETERNIDADE, de modo que nenhuma das duas é a outra. Aos olhos externos, ou deste mundo, só vejo a água abaixo do firmamento, mas a água acima do firmamento é aquela que Deus instituiu para o batismo da regeneração em Cristo”. (Mysterium, XII. 26).

“Na vida do homem há três estados que devem ser distinguidos um do outro — primeiro, o mais interno, ou seja, Deus eternamente oculto no fogo; segundo, a parte do meio, que desde a ETERNIDADE permanece como uma imagem ou semelhança nas maravilhas de Deus, comparável a uma pessoa que se vê no espelho; terceiro, essa imagem viva que recebe ainda um outro espelho na criação, onde se observou, ou seja, o espírito do mundo externo, ou o terceiro princípio, que também é uma forma (estado) do Eterno”. (A Vida Tríplice…, XVIII. 4)

“O espírito de Deus reside de ETERNIDADE em ETERNIDADE unicamente no céu, ou seja, em Sua própria essência, no poder da majestade. Quando ele foi soprado na imagem de um homem, surgiu o céu no homem; pois, Deus quis revelar-Se no homem, como numa imagem criada à Sua própria semelhança, e manifestar as grandes maravilhas de Sua sabedoria eterna”. (Cons. Stiefel…, I. 36).

“A alma encontrava-se em sua própria essência na ETERNIDADE, mas como algo criado, foi formada para representar a imagem de Deus no momento da criação do corpo. No entanto, ela não é, per se, a verdadeira imagem, mas apenas um fogo essencial para a sua produção”. (Tilken… I 8 I).

“O terceiro princípio, espírito e tormento deste mundo, estava oculto desde a ETERNIDADE na natureza eterna; ele foi revelado pelo espírito de luz-flamejante na sabedoria de Deus e na tintura divina. Então a divindade movimentou-se de acordo com a natureza da mãe produtiva, surgiu então, o grande Mysterium, contendo tudo que está no poder da natureza eterna. Isso, contudo, era apenas um Mysterium e não tinha semelhança a nenhum ser criado. Ali tudo estava junto (misturado), como uma nuvem de poeira”. (Encarnação de Cristo… I I 10).

“Tendo nascido (vindo à objetividade), o mundo externo faz para si um novo principium ou começo. A geratriz temporal é uma reprodução da geratriz eterna; o tempo origina-se na ETERNIDADE e mesmo aqui a ETERNIDADE, com suas produções maravilhosas, aparece em seus poderes e capacidades, numa espécie de forma e molde temporal”. (Mysterium VI 10).

“Os poderes da ETERNIDADE trabalham através dos poderes do tempo, como o sol que brilha através da água, enquanto que a água não apreende o sol, mas somente recebe o calor; ou, como o fogo, que brilha no ferro, mas o ferro continua sendo ferro”. (Mysterium XII 20).

“Em cada coisa externa há duas qualidades, uma que se origina do tempo e outra da ETERNIDADE. A primeira qualidade ou temporal está manifestada, a outra, oculta”. (Assinatura…, IV 17).

“A alma em sua substância é um fluxo mágico de fogo da natureza de Deus, o Pai. A alma é um desejo ardente pela luz. Assim, Deus o Pai, deseja seu coração, o centro de luz, de forma muito forte e desde toda a ETERNIDADE; Ele a gera em Sua vontade desejante, da qualidade do fogo”. (Quatro Complexões…, II).

Deus também produz o segundo princípio em Seu amor, de onde gera, de ETERNIDADE em ETERNIDADE Seu coração e verbo eterno, e o espírito inflama o elo da natureza, e a torna luminosa no amor e na vida de Seu coração, pelo poder da luz. Da mesma forma, a alma do homem deseja penetrar o segundo princípio e manter sua ânsia no poder de Deus”. (A Vida Tríplice…, I II-13).

“Não podemos dizer que o homem, no princípio, estava enclausurado no tempo. No Paraíso estava envolvido na ETERNIDADE. Deus o criou à Sua imagem; mas quando caiu, ficou sujeito à limitação do tempo”. (Grace VII 51).

“Se o homem tivesse resistido à tentação um ser humano teria nascido do outro, do mesmo modo que Adão em seu estado virginal fora projetado na objetividade como um ser humano e imagem de Deus, porque aquilo que é do eterno também pode procriar (multiplicar) de acordo com a lei da ETERNIDADE”. (A Vida Tríplice…, XVIII 7).

“O elemento interno que sustenta todo o corpo deste mundo tornou-se o eterno corpo de Cristo; pois, a Divindade em sua totalidade, na palavra e coração de Deus, penetrou ali na ETERNIDADE; e a mesma Divindade tornou-se um ser criado; mas tal criatura pode estar em todo lugar, como a própria Divindade”. (Princ. XXIII 20).

“O nome Jesus foi incorporado na imagem da ETERNIDADE como um futuro Cristo, a fim de que pudesse se tornar um redentor dos homens, e da morte da cólera pudesse regenera-los em puros seres do poder paradisíaco e divino”. (Cons. Stiefel…, II 74).

“A palavra que Deus pronunciou com relação ao poder que esmagaria a cabeça da serpente, era uma centelha de luz do divino coração de Deus, e ali o Pai, desde a ETERNIDADE, viu e elegeu a humanidade. Nesta centelha de luzamor divino todo o mundo deveria viver, e Adão já se encontrava ali quando ocorreu sua criação, como foi expresso por Paulo (Ep. I 13), dizendo que o homem foi eleito no Cristo antes que a fundação deste mundo fosse estabelecida”. (Três Princípios…, XVI 107).

“Desde toda ETERNIDADE estava o nome de Jesus em amor imóvel no homem como a imagem de Deus. Mas quando a alma perdeu a luz, então o Verbo pronunciou o nome de Jesus naquilo que era móvel; nas enfraquecidas insígnias da substância do mundo celeste”. (Grace, VII 34).

“O Verbo, ou a segunda pessoa na Divindade, tem estado no Pai por toda ETERNIDADE, e ao encarnar na humanidade, não mudou sua natureza, tornando-se uma outra coisa, mas permaneceu no Pai, em seu centro e lugar, como tem sido por toda ETERNIDADE. A outra (segunda) formação, ocorreu de forma natural, na ocasião da anunciação pelo anjo Gabriel, quando a virgem disse ao anjo: ‘Que seja feita a tua vontade’. A plenitude deste Verbo foi efetuada no elemento celestial, como foi a criação do primeiro Adão antes da queda. A terceira formação ocorreu simultaneamente a segunda, de uma só vez, assim como uma semente terrestre é semeada enquanto uma criança cresce”. (Três Princípios…, XVIII 45).

“O Verbo da promessa, que era para os judeus uma espécie de antítipo, ou como uma imagem no espelho, onde o pai colérico imaginou e onde extinguiu Sua cólera, começou a se movimentar essencialmente, como se não tivesse se movimentado desde a ETERNIDADE; pois, quando o anjo Gabriel trouxe a Maria a mensagem de que teria um filho, e quando ela expressou seu desejo dizendo: ‘Que seja feita a tua vontade’, o centro da Santíssima Trindade movimentou-se; isso quer dizer que, a virgindade eterna perdida por Adão, se abriu nela, no Verbo da vida. O fogo do amor divino no ser de Maria, na essência virginal corrompida em Adão, fora novamente restaurado”. (Encarnação de Cristo…, I 8, 3. 4).

“Quando o Verbo penetra o elemento puro, a matriz virginal, Ele não se separa do Pai, mas permanece eternamente, e está em todo lugar, presente no céu do elemento em que penetrou, e onde se tornou uma nova criatura, chamadadeus’. Essa nova criatura naturalmente não nasceu da carne e do sangue da virgem (física), mas de Deus, de Seu elemento (a virgem celeste, e no poder da Santíssima trindade, que permanece ali eternamente em sua plenitude). Mas a corporeidade do elemento daquele ser criado é inferior com relação à Divindade, pois Ela é espírito, e o elemento santo é nascido do verbo da ETERNIDADE. Desta forma, o Verbo penetrou a serva, o que fez com que todos os anjos do céu fossem tomados de surpresa. Trata-se do maior milagre já ocorrido desde toda ETERNIDADE, porque isso vai contra a natureza (humana), e só poderia ter acontecido por conta do amor divino”. (Três Princípios…, XVIII 42).

Deus habita no mundo e preenche todas as coisas; no entanto, Ele nada possui. A luz habita nas trevas, mas não a possui; o dia habita na noite e a noite habita no dia, o tempo na ETERNIDADE e a ETERNIDADE no tempo; o mesmo ocorre com o homem. Ele próprio é o tempo, e vive com ele segundo seu aspecto externo; é desta mesma forma que o mundo externo existe no tempo; mas o homem interior é ETERNIDADE, mundo e tempo espiritual, tal como é criado na luz, de acordo com o amor de Deus, e nas trevas de acordo com Sua cólera. Seu espírito vive naquele princípio que nele está manifestado, seja nas trevas, seja na luz. Cada um deles habita em si mesmo; nenhum deles possui o outro; mas, se um penetra o outro e deseja possuí-lo, este o outro irá perder sua supremacia e poder. Se a luz se manifesta nas trevas, então as trevas deixam de ser trevas; e se as trevas surgem na luz, então a luz e seu poder serão extintos. As trevas eternas da alma constituem o reino do inferno; a luz eterna na alma é seu céu. O homem, portanto, é criado e vive nos três mundos. Um é o mundo das trevas eternas que surge do centro da natureza — natureza eterna — onde nasce o fogo como o tormento eterno; o outro mundo, é o da luz eterna, onde reside a alegria e o Espírito de Deus. É neste mundo de luz que o espírito de Cristo assume substancialidade humana. O terceiro mundo onde vive o homem, e do qual foi gerado, é o mundo visível externo, com seus quatro elementos, e as estrelas visíveis”. (Regeneração, I).

“Na pedra bruta pode-se encontrar o ouro precioso em crescimento, e a aspereza da pedra auxilia o seu crescimento, embora a aspereza não seja como o ouro. Do mesmo modo, o corpo terrestre deve auxiliar na geração do Cristo em si, mesmo que aquele corpo não seja o Cristo, e nunca será o Cristo na ETERNIDADE”. (Grace, VIII 94).

“Cara alma, se desejas a luz de Deus, e também a luz deste mundo, se desejas alimentar seu corpo (e mente), e (ao mesmo tempo) busca os mistérios de Deus, faça aquilo que o próprio Deus faz. Um olho de sua alma olha a ETERNIDADE, o outro a natureza. Esse busca continuamente no desejo e cria um espelho atrás do outro. Que assim seja. Assim deve ser, pois Deus assim o quer. Mas o olho voltado para a ETERNIDADE não pode se voltar para o desejo (longe de Deus); é através dele que se busca virar o outro para si mesmo, e não deixá-lo se desviar de ti; ou seja, não deixe ele se afastar do olho que mira a liberdade. Coloque sua vontade naquilo que está fazendo, lembrando de que é um servo da vinha de Deus; quer dizer, do Eterno; mergulhe sua vontade a cada instante na humildade diante de Deus; então sua imagem irá caminhar na humildade com sua vontade na majestade de Deus, e será iluminada perpetuamente pela triunfante luz de Deus”. (Quarenta Questões…, XII 28).

Deus quis manifestar-Se nos três princípios, mas a ordem não permaneceu como havia sido originalmente instituída. O meio foi para o exterior, e o exterior para o meio. Essa não é a ordem da ETERNIDADE, e, portanto os princípios externos e internos devem ser separados”. (A Vida Tríplice…, XVIII 3). 148

“Há três princípios na constituição do homem, cada qual pode ser desenvolvido durante sua existência terrestre; mas depois que o corpo estiver desorganizado, ele vive então em um princípio e não pode envolver o outro. Na ETERNIDADE, ele deve permanecer no estado de consciência que adquiriu aqui”. (Três Princípios…, Supplement, X).

“Se o espírito permanece não regenerado com seu princípio original, então irá aparecer na ruptura da forma tal criatura correspondente à qualidade da vontade (caráter) adquirido durante a vida terrestre. Se, por exemplo, durante a vida se tem a invejosa disposição de um cão, rancoroso com tudo e com todos, então este caráter do cão irá encontrar sua expressão numa forma correspondente após a morte do corpo; pois de acordo com isso, a alma (animal) toma (assume) sua forma, e esse tipo de vontade permanece contigo na ETERNIDADE, pois as portas das profundezas que levam à luz de Deus são então fechadas diante de ti”. (Três Princípios…, XVI 50).

“A alma origina-se de três princípios; ela vive, portanto numa angústia ternária, e está presa por três laços. O primeiro laço liga a alma à ETERNIDADE e alcança o abismo do inferno (a vontade ígnea); o segundo é o reino do céu; o terceiro é a região das estrelas com os elementos. O terceiro reino não é eterno, mas tem um certo período de existência; no entanto, é o reino que faz o homem crescer, dotando-o de hábitos, vontade e desejos relacionados ao bem e ao mal. Ele lhe confere beleza, riqueza e honras, e o torna um rei terrestre. Este reino permanece com ele até o fim de seu tempo, depois o abandona; da mesma forma que o auxilia a obter a vida, o auxilia na morte, libertando-o da alma astral”.

“Tudo o que fazemos, pensamos e desejamos em nosso ser exterior é obra do espírito deste mundo, atuando em nossa constituição; pois o corpo nada mais é do que o instrumento daquele espírito onde opera, e como todos os outros instrumentos que nascem do espírito deste mundo, irá, por fim, se desfazer e se decompor. Portanto, nenhum homem deve desprezar ou condenar outro homem, caso este não possua as mesmas qualidades que ele; pois o céu natural (a constelação) constrói cada homem segundo a natureza das influências regentes. Ele fornece a cada pessoa seus caminhos, modos e caracteres, além de seus desejos e intintos, e isso não pode ser arrancado do homem externo enquanto o céu externo não romper sua constituição animal. Mas se o homem externo não faz o que o espírito do mundo externo deseja nele, mas é forçado a abandonar o que é falso e ilusório, então tal poder não procede do céu externo, mas do novo homem interior, que precede da ETERNIDADE e batalha contra o homem terrestre”; normalmente ele alcança uma vitória sobre o segundo”. (Três Princípios…, XXV 6).

“A virgem diz: Algo em ti me contraria. Eu te criei e te tirei do meio dos espinhos. Quando eras um animal selvagem, eu te configurei em minha própria imagem. Mas o animal selvagem está entre os espinhos: isso eu não vou tomar em meu peito. Você ainda vive com seu animal selvagem. Quando o mundo tomar esse animal, já que a ele pertence, então eu te tomarei. Assim, cada um irá tomar o que lhe pertence. Por que então amas tanto aquele animal selvagem que não te causa mais nada além de dor? Não podes carregá-lo contigo. Ele não te pertence, mas ao mundo. Que o mundo o use como puder, mas permaneças tu comigo. Será por pouco tempo; logo seu animal irá se quebrar, e tu dele te livrarás, e permanecerás comigo. Como irás regozijar-te, se pensares naquele animal, que te afligia dia e noite, e ver que dele estas livres. Como uma flor cresce da terra, tu te elevarás acima de teu animal selvagem. Tu dizes: ‘Sou teu animal; tu nasceste em mim’. Ouça, meu animal! Sou maior que tu. Quando estavas por vir, eu era tua construtora. Minhas essências saem da raiz da ETERNIDADE; mas tu pertences a este mundo. Tu irás te quebrar, mas eu permaneço eternamente em meu poder. Portanto sou muito mais nobre que tu. Tu vives na cólera; mas eu irei colocar minha cólera assustadora na luz, na alegria eterna. Minhas obras estão no poder, enquanto as tuas permanecem como sombras. Quando eu estiver livre de ti, nunca mais irei te aceitar como meu animal; mas, (tomo) meu novo corpo, o qual estou regenerando na mais profunda raiz do elemento santo”. (Princípios, XXI 69).

“A palavra Sul e é a alma de algo; pois na palavra Súlfur ela é o óleo ou a luz, que nasce da sílaba Phur. É a beleza ou a bondade de algo; seu amor ou o amado. Na criatura é a inteligência e o sentido, é o espírito nascido da sílaba Phur. A palavra ou sílaba Phur é a Prima Matéria, penetrando o terceiro princípio em si mesmo, o Macrocosmo de onde nasce a essência ou o reino (terrestre) elemental; mas, no primeiro princípio é a essência da geração mais interna, de onde Deus, o Pai, desde a ETERNIDADE dá nascimento a Seu Filho. No homem também é a luz que nasce do espírito sideral em outro centro do Microcosmo, mas no Spiraculum é um espírito-alma no centro interior. É a luz de Deus, que por si só, possui aquela alma que está no amor de Deus, pois ela é iluminada e soprada pelo Espírito Santo”. (Três Princípios…, II 7).