Boehme: Cruz

“Ó, quão perto está Deus de todas as coisas. No entanto, nada pode compreendê-lo, a menos que esteja tranquilo e entregue sua vontade própria à Ele. Se isso for realizado, então a vontade de Deus estará agindo através da instrumentalidade de todas as coisas, como o sol que age por todo o mundo”. (Mystery, 45). “Por que não podemos ver a Deus? Este mundo e o demônio (bem pervertido) na cólera de Deus nos impedem de ver com os olhos de Deus. Não há outro impedimento. Se alguém diz: ‘Não posso ver nada divino’, precisa compreender que a carne e o sangue e as artimanhas do demônio (desejos pervertidos) consistem um obstáculo e impedimento para ele. Se ele pretende penetrar a nova vida, caminhar sob a cruz de Cristo, é preciso ter certeza de ver o Pai, seu redentor, o Cristo e também o Espírito Santo”. (Menschwerdung, II,7).

“Tu és um mestre de Israel, e nada sabe sobre estas coisas?” (João, III, 10) “Todo aquele que me segue, negue-se a si mesmo, tome sua cruz diariamente, e siga-Me”.

“O Verbo tomou nossa própria carne e sangue na essencialidade divina, e quebrou o poder que nos mantinha aprisionado na cólera da morte e fúria. Ele quebrou aquele poder na Cruz, ou seja, no centro da natureza (a quarta forma natural, cujo símbolo é a Cruz), e inflamou novamente em nossa alma (que havia se tornado trevas) um fogo-luz branco e ardente”. (Menschwerdung, II 6 9 ).

“Na carne externa do Redentor encontrava-se a parte demoníaca, aquela que surgiu em Adão ao morrer para Deus. Ora, esse produto tinha que ser novamente recebido no amor de Deus, como Isaias afirmou sobre o Cristo: ‘Ele tomou todos os nossos pecados para Si’. O Adão amaldiçoado ficou pendurado na Cruz, como uma maldição, mas o Cristo o redimiu pela dor do sofrimento inocente e pelo derramamento de Seu sangue. O corpo de Adão morreu na Cruz e Cristo, nascido de Jesus e da semente santificada da mulher, o tingiu (abençoou) com Seu precioso sangue de amor”. (Stiefel, II 494).

“Cristo, o homem interior, tomou nossos pecados para Si, e deixou o corpo, no qual havia derramado a maldição de Deus, pendurando na Cruz como uma maldição de Deus. Assim Ele morreu, e em Sua morte espalhou Seu sangue, o sangue do homem santo, na essência do homem externo, onde reside a morte. Mas quando seu sangue santo penetrou a morte (com a essência externa), então a morte se tornou terrificada diante da vida santa, e a cólera, terrificada diante do amor, e caiu em seu próprio veneno, como que morta ou aniquilada”. (Stiefel, II 205).

“A verdadeira essencialidade em Cristo não afastou a consciência terrestre, mas a penetrou como senhor e conquistador. A verdadeira vida deveria ser a primeira a ser conduzida à morte e à cólera de Deus. Isso ocorreu na Cruz, ocasião em que a morte foi destruída e a cólera aprisionada e extinta pelo amor, consequentemente conquistada”. (Menschwerdung, IX 16).

“Um Cristão sincero, nada quer saber sobre sua própria santidade; ele só vê suas imperfeições, nas quais o demônio batalha contra ele. Suas imperfeições estão sempre diante de si, mas sua santidade ele não conhece enquanto viver nesta terra. Essa santidade encontra-se oculta pelo Cristo, aos pés de Sua Cruz, a fim de que o demônio não a perceba”. (Threefold Life, XV).

“Por teu próprio poder não há como manter a tranquilidade, que nenhuma criatura pode alcançar. Deves te entregar completamente à vida de nosso Senhor Jesus Cristo, oferecendo a Ele toda tua vontade própria e desejo, a fim de que não desejes nada fora Dele. Estarás então neste mundo e em suas qualidades, no que concerne ao teu corpo. Com tua vontade estarás nos pés da Cruz de Cristo, e com tua vontade irás caminhar no céu, no ponto de onde surgem todas as criaturas, e para onde todas retornarão”. (Supersensual Life, IX).

“Aquelas almas sinceras que operaram as maravilhas de Deus em Sua vontade aos pés da Cruz, tendo recebido o corpo de Deus, ou seja, do Cristo, e que caminharam ali em justiça e verdade, todos os seus feitos também o seguirão, em sua forte vontade e desejo, e experimentam um enorme prazer no amor e misericórdia de Deus, pelos quais estão continuamente rodeados. As maravilhas de Deus são seu alimento; elas vivem na glória, poder, força e majestade além de qualquer descrição”. (Threefold Life, XVIII 12).

“O mundo externo ou a vida externa não é um vale de sofrimento para aqueles que o aproveitam, mas apenas para aqueles que conhecem uma vida superior. O animal desfruta da vida animal; o intelectual desfruta do reino intelectual; mas aquele que penetrou a regeneração reconhece sua existência terrestre como um peso e uma prisão. Com esse reconhecimento, toma para si a Cruz de Cristo”. (Epistles. Ii 34).