Souzenelle: José do Egito

Annick de Souzenelle

Os Filhos de Israel descem ao Egito porque têm fome, uma grande fome campeava em seu país. O décimo segundo filho, Benjamim, muito jovem, no entanto permaneceu na casa de seu pai. Quando ao décimo primeiro, José, não se sabe o que se tornou; invejosos dele, seus dez irmãos mais velhos o venderam a mercadores que iam ao Egito, ao invés de matá-lo pois fazer correr o sangue é interdito em Israel; o Espírito de Deus está no sangeu do Homem, se sabe; não se pode fazer correr o sangue.

Logo não são dez Filhos de Israel sobre os doze, que partem para o Egito onde, aí, souberam, há do que comer.

Faraó tinha enchido seus celeiros em previsão deste tempo de miséria que tinha sido informado.

Dois sonhos o tinham prevenido. Dois sonhos que nenhum de seus magos tinha sido capaz de interpretar. É então que se tinham lembrado de um certo José mantido nos calabouços do rei e que se fizera notar pela inteligência que tinha tido dos sonhos de seus companheiros de miséria. Dois dentre eles liberados dele tinham falado ao rei que fez liberar José de sua prisão para ver se este seria capaz de decodificar a mensagem.

“Sete anos de abundância vão vir que serão seguidos de sete anos de grande penúria”, explicou José; e logo em seguida pediu ao rei que juntasse trigo e outros cereais preciosos para os anos que faltariam.

Maravilhado da sabedoria deste homem, Faraó elevou José às mais altas dignidades da corte e lhe confiou a intendência de seu reino.

Os dez Filhos de Israel chegando no Egito se apresentaram diante de seu irmão que não reconheceram, na medida que longe estavam de supor que aquele que rejeitaram estivesse coberto de honras. E ele, José, não se fez reconhecer deles, mas seu coração estava confuso em os vendo; os encheu de alimentos e os pediu de não retornar senão com Benjamim que tinha obtido de seus irmãos a confirmação de sua existência. Vendo aquele que nasceu da mesma mãe que ele, não pôde conter as lágrimas. Abraçou seus irmãos a quem perdoou o mal que lhe fizeram e os pediu para buscar o velho pai Israel.

Sob a proteção de José portanto, as primícias do povo hebreu se integram em terra de Egito e aí crescem; aí permanecerão quatrocentos e trinta anos.

O nome de José, do verbo Yasoph, significa “aumentar”; concerne este crescimento. É construído sobre a raiz Soph, “limite. As estruturas do hebreu, Verbo de Deus, nos revelam as leis ontológicas; aquela que preside à função de José é capital: para aumentar, crescer, é preciso aceitar entrar em um limite. A escolha, o engajamento são essenciais. Aqui se esboça também a lei da circuncisão, mais essencialmente aquela do engajamento, da decisão. Mais profundamente ainda, esta raiz Yasoph revela um dos aspectos do mistério da Encarnação: Deus Ele mesmo entra em um limite, o ventre de uma jovem, que Ele torna “mais vasto que os céus” e que José, esposo de Maria, guarda. Mais tarde, José de Arimateia guardará o túmulo matriz de morte e de ressurreição! Deus se limita — é a kenose que contemplam os Padres —, a “contração” no “finito” para que o Homem tome dimensão de infinito.

Se os hebreus entram nesta matriz-Egito sob a conduta de Yasoph-José, dela sairão no momento de seu “nascimento” que será a Páscoa em atravessando Yamsoph, “o mar do limite” denominado na tradição oral “mar Vermelho”. Entre Yasoph e Yam-soph, entre estes dois “limites”, Israel vai crescer. O jugo de Faraó se fará tanto mais pesado sobre ele quanto ele crescerá em número, pois se torna um povo de uma força inquestionável no meio de um outro povo (v. Povo. Mas cresce também em maturidade interior pois a servidão na qual é mantido por Faraó vai logo aparecer, para um deles pelo menos, como a objetivação de suas escravidões interiores, insuportável!