BASILEUS, SOBERANO, REI; BASILEIA, REALEZA, SOBERANIA, REINO; BASILEUO, SER REI, REGER; BASILEIOS, REAL; BASILIKOS, REAL, COMO REI; BASILISSA, RAINHA
Gregório o Grande:
O Reino dos Céus, irmãos muito caros, é declarado semelhante a realidades terrestres, para que a alma se eleve do que ela conhece ao que ela não conhece, de sorte que seja levada às coisas invisíveis por exemplo das coisas visíveis (…) (Homílias dobre os Evangelhos)
O substantivo basileus remonta a tempos tão remotos quanto o Linear B e era originalmente um termo geral para quem governa; depois mais especificamente, um rei.
O substantivo abstrato basileia é de origem posterior a basileuse é atestado pela primeira vez em Heródoto.
Traduziu na LXX os termos do AT: melek, três classes de soberanos; o verbo malak, fazer rei; o substantivo mamlakah (por vezes traduzido por arche); malkut, com mesmo sentido que mamlakah; melukah, realeza.
O conceito de “reino dos céus” (malekut samayim; gr. basileia ton ouranon) já aparece no AT, especialmente nos apócrifos e na literatura inter-testamentária.
No NT, basileia ocorre com mais frequência do que basileus e basileuo (mais frequente no Apocalipse).
Das 13 referências gerais à basileia no NT, os significados variam: ofício de rei; área de um reino; um reino. Quando Jesus fala dos reinos humanos, eles são contrastados com o Reino de Deus, pois estão todos sob o domínio do diabo.
As referências à basileia enquanto Reino de Deus ou de Cristo são 52 em Mateus, 16 em Marcos, 43 em Lucas, 5 em João e 2 no Apocalipse. Na literatura paulina tem 19 ocorrências, das quais cinco nos Atos. (“Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento”, de Coenen & Brown)
Roberto Pla: Evangelho de Tomé
No LOGION 2 Pla afirma em conclusão a sua reflexão sobre a BUSCA referida no logion: (Então o que encontra) “reinará sobre o Todo”. Os que reinam são segundo Paulo Apóstolo “aqueles que receberam em abundância a graça e o dom da justiça”, pois eles reinarão na Vida (eterna) por um só em Cristo, na totalidade (Rm 5,17). Os que creram no Cristo interno e o realizaram em si mesmos entregando-lhe todo seu ser, posto que chegaram ao Conhecimento de que “só Ele é”; os que buscaram incessantemente e o encontraram ao final, esses são os que, “de fato, entram em descanso” (Hb 4,1-11).
A basileia tou theou (Reino de Deus) é melhor compreendida na exegese de Roberto Pla do Evangelho de Tomé – Logion 113: o Reino é infinito e eterno, e não pode vir, senão ser descoberto, porque já está; nem pode chegar, porque não há lugar não ocupado por ele desde antes do começo dos tempos. Dizer o Reino, do Filho do homem, o qual é o Reino, que vem ou que não há chegado é uma figura de linguagem, como ao dizer que o Sol se levanta ou se põe.
No Evangelho de Tomé – Logion 3, Roberto Pla desenvolve algumas considerações relevantes quanto ao “Reino”, dos Céus, de Deus, do Pai…
O Reino de Deus, ou do Pai, é denominado em muitas ocasiões nos textos neotestamentários, o Reino dos Céus. Se diz “Céus” — segundo se nos explica — para evitar reverencialmente o demasiado uso da palavra “Deus”, além, disso, parece responder à preocupação judaica por substituir o Nome de Deus com uma expressão metafórica. No entanto, embora a palavra “céu” venha aqui mitigada por um sentido “metafórico”, contribui, não obstante, a dar uma concepção confusa da ubicação espiritual e invisível do Reino que São Lucas descreve decididamente como situado “dentro de nós”.
Isto ocorre, por exemplo, naquela passagem na qual tanto João Batista como Jesus anunciam com idênticas palavras a Boa Nova e o começo da predicação: “Convertei-vos, pois o reino dos céus está próximo” (Chamada). Esta perícope parece haver sido interpretada tradicionalmente como um anúncio da proximidade, ou da “aproximação” iminente no tempo e no espaço da Vinda manifesta do Filho do Homem. Mas esta última, a Parusia ou Presença do Senhor em seu Dia, “como um ladrão na noite” (1Ts 5,1; Mt 24,3; 1Co 15,23), quer dizer, o sagrado advento do Cristo, do Filho, como uma revelação profunda interior (Ga, 2,16), não é, em modo algum, o começo de uma Boa Nova, senão o final a culminação da mesma.
Do momento que falam Jesus e João Batista é acerca de uma realidade que implica o conhecimento primeiro, essencial, o ponto de partida para a realização religiosa de cada um de seus ouvintes: “O reino de Deus está próximo”1. (Também pode se dizer “o reino dos céus”, se é que há de se entender essa expressão como substitutiva mais ou menos diretamente da significação do vocábulos Deus, o Pai, ou o Altíssimo, isto é, como região própria de um “estado” interior, ou presença suprema). Ao dizer que Deus e seu reino estão próximos, Cristo fala do Deus interno, do Deus uno e único que “dentro de nós está”, em uma proximidade absoluta que há que descobrir. O Evangelho de Tomé – Logion 3 diz que está “dentro e fora” e acerta ao dizê-lo assim porque Deus é, enquanto Cristo, um e o mesmo no coração essencial da cada homem, “o que é”, como fonte de Vida eterna e de conhecimento verdadeiro, como uma chama inesgotável na consciência pura.
Evangelho de Tomé – Logion 106
Sem dúvida, o relato da criação afirma a coexistência de três reinos, dois criados e próprios do mundo, os céus e a terra que “hão de passar”, e um não criado, preexistente, que foi expressado pela locução “Faça-se luz”. Deste Reino, o primeiro, denominado nos evangelhos a Palavra, não se pode dizer que é do mundo, embora certamente, está no mundo. Por isso pôde dizer Jesus: “Meu Reino não é deste mundo”.
Daí também que o descobrimento da Palavra é a obra que cabe realizar a geração humana, pois por isso disse Jesus: “Bem-aventurados os que escutam a Palavra de Deus e a guardam”.
No subjetivo, os reinos dos céus e da terra devem ser interpretados como o mundo psicofísico que o homem conhece em se si mesmo. No entanto, o Reino da luz (Palavra, Sabedoria) — o Espírito — é o “desconhecido” que a consciência “natural”, psicofísica, deve descobrir e guardar até que frutifique na transformação dessa consciência.
Foi quando surgiu novamente o Pássaro. Agora ele irradiava uma Luz indescritível. Ele sorria esfuziante, contente com nossa jornada, por termos conseguido chegar. Ele nos agradeceu profundamente. Era como se nossa jornada tivesse redimido a todos nós, como se nossa conquista fosse também a conquista dele, como se ao retornarmos, o tivéssemos trazido de volta, devolvido a ele a plenitude de sua Luz.
E ele contou a nossa história, nos revelou nossa natureza. Disse que a Presença do Rei era nossa morada, que em seus jardins habitávamos antes de sermos aprisionados. E que o Amor do Rei preenche cada átomo do Universo, que a saudade Dele é o seu chamado de retorno. Que os planetas giram enamorados, inebriados nesta nostalgia e Beleza. E só aquele que se atira no espaço perseguindo sua necessidade alcança os confins da Criação.
Mas nos revelou que dali para frente não poderia nos acompanhar. Que só a nós era permitido atravessar o Palácio, e ainda assim só seriam recebidos na intimidade do Rei aqueles que abandonassem de vez suas vestes de sombra. Teríamos de estar dispostos a abandonar tudo. Fomos preenchidos de um temor, um amor tamanho que assustava. Nos consumíamos em antecipação. Ele nos apontou a porta, e conforme nos aproximávamos íamos sendo tomados de Amor, Saudade, Temor, emoções jamais sentidas, que se expandiam a um limite insuportável tamanha era a força da presença que emanava por aquela porta. Imaginei que fosse explodir, desaparecer, morrer. Muitos de nós sucumbimos, caímos no chão, inconscientes.
E impulsionados, atraídos por esse infinito, deixando para trás tudo que tinha sobrado de nós, fomos nos tornando Luz. E ao abrirmos a porta a Luz explodiu, nos rasgou, e foi como se tivéssemos saído de dentro de nós. Antes éramos pássaros de luz, e agora éramos somente Luz. Éramos reflexos da Luz da presença do Rei. Nossa beleza e perfeição emanavam dele, assim como nosso próprio Ser.
Penetramos o Palácio, contemplamos o Trono, e então a face…. a Luz era tanta, era tanta a Beleza e o Amor, que me senti sucumbindo, morrendo, sendo mergulhado na Luz de sua presença… E então não mais existia, tudo era luz…Tudo era Ele… não existia mais eu, mais nada, só Ele…
Não sei quanto tempo passou, pois o tempo não existia, nem espaço. Só sei que me sentia totalmente imerso nos braços de sua intimidade, diante de Sua Face, imerso em sua Perfeição. Mas agora me sentia como a própria criação, maior que todo o Universo, Reflexo perfeito de Seu Ser. Não havia imagem, ainda assim sua face era a mais Bela. Não havia som ainda assim Sua Presença era a mais sublime das músicas…
Então, de repente senti novamente o peso do resto daquela corrente atada em meus calcanhares… Pedi a ele que removesse os grilhões de minha perna de modo que pudesse servir em sua corte para sempre, mas ele respondeu, ‘Apenas aquele que colocou os grilhões em sua perna poderá removê-los; eu mandarei um mensageiro com você para convencê-lo a remover estas correntes.
Ele olhou para mim e vi que havia chegado a hora de voltar… e eu me joguei ao chão, desesperado, confuso, implorando para que Ele me deixasse ficar, que eu não suportaria me separar de novo, que morreria…
E Ele disse que eu nunca estive separado, e que aquelas correntes iriam fazer com que eu não mais esquecesse. Que eu não precisava temer, pois em meu coração estava todo o universo, e aquela era minha responsabilidade, e que chegaria o dia onde novamente estaria em seu jardim para não mais retornar…
E novamente me senti abraçado, tomado, abrasado naquele amor, naquela beleza. (Sohravardi – Arcanjo Empurpurado – Tratado dos Pássaros. Tr. Instituto Nokhooja)
- No texto grego diz em todos os casos “engiken” de próximo, ao lado, cerca.[↩]