Clemente de Alexandria — Protrético Protreptico, Protrético
Segundo a apresentação de sua tradução pela prestigiosa coleção "Sources Chrétiennes", Claude Mondésert descreve o Protrético como uma pequena obra cheia de erudição, que se apresenta em um estilo elegante e fino, onde a preocupação da arte não paralisa nem a espontaneidade nem o elã. Frescor, sinceridade, entusiasmo, vivacidade, profundidade, eloquência tornam certamente sedutor este “apelo aos pagãos”. Clemente demonstra um sentido muito agudo das aberturas da alma contemporânea à revelação cristã, um conhecimento pessoal das aspirações religiosas profundas de suas leituras, para usar um tom ao mesmo tempo tão amável e e tão firme, tão conciliante e tão veemente. Seus destinatários são os alexandrinos de todas origens sem dúvida, mas em grande parte gregos de cultura, criados dentro das tradições religiosas do helenismo, que a guardam por hábito social, por rotina e por preguiça, mais que por convicção pessoal, e no entanto já meio céticos; sinceramente atentos, a princípio, através de sua mentalidade, ao mistério da verdade e preocupados com o problema da salvação mais do que seus anciãos. Suas almas banham-se na religiosidade da época: sincretista, ardente e confusa, respeitosa ainda e curiosa das iniciações e das revelações, mas estranhamente hesitante e fluida.
No Protético, ou Exortação aos Gregos, Clemente toma posição como cristão convencido, mas também esclarecido, em face dos cultos pagãos tradicionais e da filosofia grega. Se não há nestas páginas alguma das precisões que virão mais tarde sobre o conhecimento de Deus, sobre a oração e sobre os outros problemas religiosos, encontra-se aí, pelo menos, uma bela apresentação do único verdadeiro mestre, do divino Logos, Jesus Cristo que oferece aos homens sua revelação transcendente: luz que rechaça todas as trevas e todas as incertezas, que já era inspiradora dos mais esclarecidos dentre os gregos, filósofos e poetas, quando eles entreveram através de erros algo da única verdade.
O plano da obra é o seguinte: em um primeiro capítulo, Clemente nos faz entender o apelo do Logos; os seis capítulos seguintes constituem como uma parte negativa — é a crítica das crenças e dos cultos pagãos, das filósofos e dos poetas gregos, que entreveram, no entanto, a verdade e renderam testemunho ao verdadeiro Deus; os últimos capítulo formam a parte positiva deste apelo à conversão total — o Logos multiplica seus convites e Clemente, refutando as razões que podem reter os pagãos que o leem, celebra com lirismo entusiasta as prerrogativas da verdadeira religião, esta theosebeia que busca toda alma reta, co caráter único deste apelo ao mesmo tempo coletivo e pessoal à luz e à vida, à divinização (theosis) (enfim, a transcendência do Logos divino, que é manifestação pessoal de Deus entre os homens e mestre interior de cada alma).