CLEMENTE DE ALEXANDRIA — PEDAGOGO
Excertos de Antonio Orbe, Parábolas Evangélicas em São Irineu
Clemente de Alexandria escreve no último capítulo do Pedagogo:
Claramente o Evangelho apresenta o rico que juntou tesouros nos armazém e se dizia a si mesmo: 'Tens muitos bens em depósito para muitos anos: comas, bebas e alegras-te'. O Senhor o chama de tolo. Porque 'nesta noite tomam tua alma". Aquilo pois que juntaste de quem será?' (Rico Tolo)
"Nesta noite levam tua alma". Melhor, "tomam" tua alma quem por ofício a recebe (e ainda arrancam)) do corpo. Os escritos gnósticos denunciam com frequência aos paralemyptores, potestades (arcontes) dispostas para tratar da alma dos que morrem.
No Apócrifo de João: "Os receptores (= oi paralemyptores) se encarregam da alma que se separa do corpo na morte, e a conduzem a seu lugar de destino".
No Evangelho dos Egípcios, recentemente editado por Jean Doresse, figuram duas vezes os "receptores" com igual tecnicismo.
Seria estranho que o alexandrino Clemente tivesse substituído o "apaitein" por verbo tão qualificado (paralambanein) sem pensar nos anjos, que por ofício recebiam a alma para conduzi-la a seu destino. O rico tolo não disporia já de si. Outros se encarregariam de levá-lo onde menos imagina.