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CLEMENTE PARVULUM

PEDAGOGO — CRIANÇA

Contribuição e tradução de Antonio Carneiro do texto espanhol, e indicação do texto francês

CLEMENTE DE ALEXANDRIA — O PEDAGOGO — Livro I — Capítulo 6 — §§ 5-25 (CLEMENTE DE ALEJANDRÍA — EL PEDAGOGO, introducción por Angel Castiñeira Fernández, traducción y notas por Joan Sariol Díaz, Biblioteca Clásica Gredos, 118)

Texto francês disponível em PDF SAINT CLEMENT D'ALEXANDRIE — LE DIVIN MAÏTRE OU LE PÉDAGOGUE|nocache

Livro I — Capítulo 6 — CONTRA OS QUE SUPÕEM QUE OS TERMOS “CRIANÇAS” E “INFANTES” ALUDEM SIMBOLICAMENTE AO ENSINO DAS CIÊNCIAS ELEMENTARES.

§ 5. De acordo, também o admito. Recebeu, então, a perfeição no momento mesmo de ser batizado por João? É evidente que sim. E não aprendeu dele nada mais? Não. Recebeu a perfeição somente pela recepção do batismo e se santificou pela vinda do Espírito? Assim é.

§ 6 O mesmo ocorre conosco de quem o Senhor foi o modelo: uma vez batizados, temos sido iluminados; iluminados, temos sido adotados como filhos; adotados temos sido perfeitos; perfeitos, temos sido imortais. Está escrito: “Eu lhes disse: sois deuses, e todos são filhos do Altíssimo” (Salmo 81,6); (João 10,34). Esta obra recebe diversos nomes: graça, iluminação, perfeição, e banho. Banho, pelo qual somos purificados de nossos pecados; graça, pela qual se perdoa as penas merecidas por eles; iluminação, pela qual contemplamos aquela santa e salvadora luz, quer dizer, aquela pela qual podemos chegar a contemplar o divino; e perfeição. Dizemos, finalmente, porque nada nos falta. Pois, o que pode faltar a quem conheceu a Deus? Seria realmente absurdo chamar graça de Deus ao que não é perfeito e completo: quem é perfeito concederá, sem dúvida, graças perfeitas.

§ 7 Assim como todas as coisas se produzem no mesmo instante em que Ele ordena, assim também, pelo só fato de querer Ele conceder uma graça, esta se ocorre em toda sua plenitude; pois pelo poder de sua Vontade se antecipa o tempo futuro. Aliás, o princípio da Salvação (Platão, Górgias,478 c d) é a libertação do mal.

§ 8. Só a quem temos alcançados as fronteiras da vida, já somos perfeitos, e já vivemos quem temos sido separados da morte. Seguir a Cristo é a Salvação: « O que foi feito em Ele, é vida » (Jo 1,3). « Em verdade, em verdade vos digo, — assegura — , o que ouve minha palavra e crê em quem me enviou tem a vida eterna, e não é submetido a juízo, mas sim que passa da morte para a vida» (Jo 5,24). Assim o único fato de crer e ser regenerado é a perfeição na vida, porque Deus não é jamais deficiente. Assim como sua Vontade é sua obra e se chama «mundo», assim também sua decisão é a Salvação dos homens e se chama Igreja.

§ 9. Ele conhece aos que tem chamado, e aos que tem chamado os tem salvado; assim, os tem chamado e salvado ao mesmo tempo. « Porque vós, disse o Apóstolo, sois instruídos por Deus »(1 Tes 4,9).

§ 10. Não nos é lícito considerar como imperfeito o que Deus nos ensinou, e este ensinamento é a Salvação eterna do Salvador eterno, a qual seja a graça pelos séculos dos séculos, Amém. O que tem sido regenerado, como o nome indica, sendo iluminado tem sido liberado a ponto das trevas e, por isso mesmo, tem recebido a luz.

§ 11. Como aqueles que, sacudidos do sono, se despertam em seguida interiormente, ou melhor, como aqueles que tentam quitar-se dos olhos as cataratas, e não podem receber a luz exterior, da que se veem privados, mas, desembaraçando-se ao fim do que obstruía seus olhos, deixam livre sua pupila, assim também nós, ao receber o batismo, nos desembaraçamos dos pecados que, tais quais sombrias nuvens, obscureciam o Espírito Divino; deixamos livre, luminoso e sem impedimento algum o olho do espírito, com o único que contemplamos o divino, já que o Espírito Santo desce do céu para estar ao nosso lado.

§ 12. Esta mistura de resplendor eterno é capaz de ver a luz eterna, pois o semelhante é amigo do semelhante; e o santo é amigo d’Aquele de quem procede a santidade, que recebe com propriedade o nome de « Luz »: « Porque vereis em outro tempo trevas, mas agora sois Luz no Senhor » (Ef 5,8), daí que o homem, entre os antigos, foi chamado, segundo creio, « Luz »..

§ 13. Entretanto — se diz —, ainda que não tenha recebido o dom perfeito; também o admito; contudo, está na luz, e não lhe surpreende a obscuridade. No entanto, entre a luz e a obscuridade não tem nada; a consumação está reservada para a ressurreição dos crentes, e não consiste na consecução de outro bem, mas sim em tomar possessão do objeto anteriormente prometido. Não dizemos que se deem, ao uníssono, ambas as coisas: a chegada à meta e sua previsão. Não são, certamente, coisas idênticas a eternidade e o tempo, nem o ponto de partida e o fim. Mas ambas se referem ao mesmo processo e tem por objeto um único ser. E assim pode-se dizer que o ponto de partida é a fé — gerada no tempo — e o fim é a consecução — para toda a eternidade — do objeto prometido. § 14. O próprio Senhor revelou claramente a universalidade da salvação com estas palavras: « Esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê ao Filho e crê em Ele tenha vida eterna, e o ressuscite no último dia » (Jo 6,40).

§ 15. Na medida em que é possível neste mundo — que é designado simbolicamente como « o último dia », « reservado » hasta que se acabe —, temos a firme convicção de haver alcançado a perfeição. A fé, com efeito, é a perfeição da aprendizagem; por isso se nos diz: « O que crê no Filho tem vida eterna » (Jo 3,36).

§ 16. Pois bem, se nós que acreditamos, temos a vida, quê outra coisa nos resta por receber superior à consecução da vida eterna?

§ 17. Nada falta à fé, que é perfeita em si e acabada. Se algo lhe faltasse, não seria perfeita; nem seria tal fé, se coxeasse no mínimo. Depois da partida deste mundo, os que creram não tem nenhuma outra coisa que esperar: receberam as arras aqui embaixo e para sempre. Este futuro, que agora possuímos pela fé, o possuiremos do todo realizado depois da ressurreição; de modo que se cumpra a palavra: « Fazei-vos em vós segundo vossa fé » (Mt 9,29).

§ 18. Donde se acha a fé, ali está a promessa, e o cumprimento da promessa é o descanso final; de maneira que o conhecimento está na iluminação, mas o término do conhecimento é o repouso, objetivo final de nosso desejo.

§ 19. Assim como a inexperiência desaparece com a experiência e a indigência com a abundância, assim também, necessariamente, com a luz se dissipa a obscuridade. A obscuridade é a ignorância, pela qual caímos no pecado e nos cegamos para alcançar a verdade. O conhecimento, portanto, é a luz que dissipa a ignorância e outorga a capacidade de ver com claridade.

§ 20. Pode dizer-se também que o rechaço das coisas piores põe de manifesto as melhores. Pois o que a ignorância mantinha mal atado, o desata felizmente o conhecimento. Ditas ataduras ficam rapidamente rompidas pela fé do homem e pela graça de Deus. Nossos pecados são lavados pelo único remédio curativo: o batismo do Logos.

§ 21. Ficamos lavados de todos nossos pecados e, de repente, já não somos maus; é a graça a singular da iluminação, pela que nossa conduta já não é a mesma que a de antes do banho batismal. E como o conhecimento — que ilumina a inteligência — surge, ao mesmo tempo em que a iluminação, assim, de súbito, sem haver aprendido nada, ouvimos chamar-nos discípulos; a instrução nos foi conferida anteriormente, mas não pode concretar-se em quê momento.

§ 22. A catequese conduz à fé; e a fé, no momento do santo batismo, é ilustrada pelo Espírito Santo. O Apóstolo explicou com grande precisão que a fé é a única e universal salvação da humanidade, e que é um dom — igual e comum para todos— do Deus justo e bom: « Antes de chegar a fé, estávamos sujeitos à custódia da lei, à espera da fé que havia de revelar-se. De modo que a lei foi nosso Pedagogo para elevar-nos a Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Mas, chegada esta, já não estamos sob o Pedagogo» (Gal 3,23-25).

§ 23. É que não vos dais conta de que já não estamos sob esta lei, sob o jugo do temor, mas sim sob o Logos da liberdade, o Pedagogo? Mais adiante, acrescenta o Apóstolo umas palavras que excluem toda acepção de pessoas: « Todos, pois, sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque quantos haveis sido batizados em Cristo vos haveis revestido de Cristo: já não tem judeu, nem grego, nem escravo, nem livre, nem homem, nem mulher, porque todos sois um corpo em Cristo Jesus». (Gal 3,26-28)

§ 24. Assim pois, não são « gnósticos » e outros « psíquicos » no mesmo Logos; todos os que rechaçaram a concupiscência da carne são iguais e « pneumáticos » diante o Senhor.

§ 25. Por outro lado, acrescenta ainda o Apóstolo: « Todos nós fomos batizados em um só espírito para formar um só corpo, sejam judeus, sejam gregos, sejam escravos, sejam livres; e todos nós bebemos uma única bebida » (I Cor 12,13; Em dita passagem paulina foi considerado “pneuma” = « espírito », em lugar de “póma” = bebida).