AMBROSIASTER PESQUISA

Ambrosiaster — Biografia e Bibliografia Contribuição e Traduções de Antonio Carneiro

Introducción al Estudio de los Padres Latinos, de Nicea a Caledonia, siglos IV y V, Enrique Contreras, OSB y Roberto Peñ a, OCSO., Editorial Monasterio Trapense de Azul, Azul (Argentina), 1994, 767 p., ISBN: 950-99640-1-8

Tradução de Antonio Carneiro das páginas 239, 240,241 e 242

  1. Ambrosiaster

Erasmo de Roterdão denominou “Ambrosiaster”(Pseudo-Ambrósio) ao autor desconhecido de um Comentário às cartas de Paulo. Este comentário de treze epístolas paulinas excluída a “carta aos Hebreus”, sobre cuja “paulinidade” já os antigos haviam tido dúvidas), foi considerado durante a Idade Média obra de Ambrósio de Milão (†397), mas é certo que este não foi seu autor, pois ele usava um texto bíblico diferente, escrevia com outro estilo e, sobretudo, seguia um método expositivo diverso.

Todavia não está resolvido o problema da identidade do chamado Ambrosiaster e são numerosas as hipóteses que trataram de identificá-lo com personagens notáveis, mas nenhuma dela obteve o consenso unânime dos estudiosos. Foi proposto o diácono luciferiano Hilário (†antes de 377-379); o donatista Ticônio (†390); o presbítero romano Faustino (†depois de 384); o hebreu convertido Isaac, adversário do papa Damaso e que, em 378, retornou ao judaísmo; o prefeito romano Decimio Hilariano; Hilário, bispo de Pavia; Evágrio, bispo de Antioquia (†394); o funcionário imperial Claudio Calixto Hilario; Emiliano Dextro (†após 395), prefeito romano filho de Paciano de Barcelona e amigo de Jerônimo, e também a Nicetas (†depois de 414), bispo de Remesiana (vide G.Mara, Patrologia III, p.211)

Das indicações oferecidas por seus escritos, deduz-se que Ambrosiaster compôs suas obras entre 363 e 384, ou seja, após a desaparição de Juliano o Apóstata (361-363), e durante o pontificado do papa Damaso (366-384); quer dizer em um período que conhecemos bastante graças às indicações de Jerônimo (†419). Com segurança escreveu em Roma, mantendo relações com o norte da Itália e Espanha.

Um tema discutido é se foi convertido do paganismo ou do judaísmo, pois por um lado mostra certa familiaridade com as instituições judias e se interessa por elas, mas, por outro, algumas expressões contidas em seus escritos parecem indicar uma origem pagã. Tampouco se deu uma resposta definitiva ao interrogante de se foi grego ou latino de nascimento pois, ainda que em suas obras apareçam dificuldades linguísticas que poderiam denotar uma origem latina, também deixa sentir sua aversão aos códices gregos e sua adesão à tradição latina.

Os “Comentários” de Ambrosiaster são uma obra original e importante. Seu autor, alheio ao tradicional método alegórico, se atém à letra do texto para precisar com exatidão o verdadeiro conteúdo do pensamento paulino (exegese-histórico-literal), e sublinha os pontos de caráter moral e prático para os leitores. Revela-se não somente bom conhecedor da religião e práticas judaicas, como também das religiões pagãs de tipo mistérico, sobre as quais dá notícias importantes.

Ademais do problema de identificação do autor, Ambrosiaster propõe uma série de interrogantes para resolver: o significado de algumas de suas expressões de caráter teológico; a origem de seu pensamento; sua filiação teológica, é somente latina ou depende dos Padres Gregos, apesar de que provavelmente não conhecia sua língua?; suas relações com o mundo oriental e siríaco. Outros temas abertos ao estudo são a mentalidade jurídica de seu pensamento e as possíveis tendências moralizantes e racionalistas da interpretação que propõe do cristianismo (vide M.G.Mara, ob.cit., pp. 212-213)

Obras

(PL 17 e 35)

Em nossos dias aceitam-se como obras escritas por Ambrosiaster somente duas: “Commentarius in epistulas paulinas” e as “Quaetiones Veteris et Novi Testamenti”.

A temática apresentada em sua genuína obra, ainda que esteja em grande parte relacionada com os textos bíblicos que comenta, mostra, não obstante, alguns interesses específicos, como são o problema da incredulidade dos judeus (dos quais aguardam sua adesão a Cristo em base à fé); a relação entre a lei mosaica e a fé em Cristo, e a questão dos judaizantes; a apresentação da fé trinitária e cristológica; a situação do homem, pecador e redimido. A maneira como desenvolve este último tema permitiu confrontar seu pensamento com o de Agostinho de Hipona e Pelagio (†427), chegando-se à conclusões divergentes.

3.1. Comentário às cartas de Paulo (“Commentarius in epistulas paulinas”)

É uma explicação sistemática das cartas de São Paulo. Um problema não indiferente subjacente à exata reconstrução do pensamento de Ambrosiaster, é a existência de várias recensões dos comentários, às vezes divergentes também em seu conteúdo doutrinal. Do “Comentários a Romanos” possuímos três, das quais a última parece ser a definitiva; dos comentários às demais cartas conhecemos pelo menos duas. É provável que estas diferentes recensões respondam a retoques sucessivos do mesmo autor.

Geralmente em cada comentário começa informando sobre a comunidade destinatária da carta e o motivo do Apóstolo ao escrevê-la. Costuma seguir muito de perto o texto, sobre o qual faz uma exegese minuciosa de variada extensão, procurando precisar o verdadeiro conteúdo do pensamento paulino e extrair os ensinamentos de caráter moral e prático para os leitores. Pelo método adotado, pelas explicações se permite conhecer a transmissão do texto das cartas paulinas, tal como eram conhecidas em Itália na segunda metade do século IV, antes da revisão da “Vulgata” .

A exegese empregada é do tipo histórico-literal, com pouco recurso a simbolismo e alegorias, e lhe agrada destacar as motivações teológicas dos textos paulinos. Abundam as citações bíblicas e não deixa de se notar o panorama de discussão com hereges, pagãos e judeus-cristãos. Em suma, a exegese é mais próxima da tradição da escola de Antioquia, apesar de que não despreza a interpretação tipológica nem se opõe ao método exegético alexandrino (vide M.G.Mara, ob.cit., p.214). A obra foi escrita em Roma entre 366 e 378.

O “Comentários a Romanos” já antecipa em alguns pontos a exegese agostiniana, reconhecendo em Rm 5,12 o conceito segundo o qual todos os homens, enquanto forem descendentes de Adão, por natureza nascem contaminados pelo pecado original.

O texto latino do “Commentarius” encontra-se em PL 17, 47-536. Também foi parcialmente editado por H.J. Vogels em CSEL 81,1 (1966): Gálatas e Filemon. Ver CPL 184; VT 75-76 e VTA 21.

Existem traduções italianas do comentário a Romanos : “Commento alla lettera ai Romani” , Roma, 1984 (Collana di Testi Patristici, 43); e das duas cartas aos Corintios: “Commento alla prima (seconda) lettera ai Corinzi” , Roma, 1989 (Collana di Testi Patristici, 78 e 79).

3.2. Questões sobre o Antigo e o Novo Testamento (“Quaetiones Veteris et Novi Testamenti” )

São tratados de extensão bastante desigual que abordam temas muito variados. A maior parte versa sobre exegese de passagens escriturísticas difíceis; outros são mais dogmáticos, com certas tendências especulativas; alguns expõem a fé em polêmica com hereges, pagãos ou judeus; e outros referem-se a situações históricas precisas e costumes de seu tempo, como, por exemplo, a “quaestio” 101 que denuncia a soberbia dos diáconos romanos (ver M.G,Mara, ob.cit., pp.251-216). As “Questões” foram escritas em Roma entre 370 e 375.

Esta série de tratados nos chegou em três recensões diversas de diferentes extensões, atribuídas a Agostinho de Hipona. Ainda que na atualidade as “Questões” sejam consideradas obra de Ambrosiaster, nem todos os estudiosos estão de acordo a respeito de como se formaram as três coleções existentes.

O texto latino foi editado por A.Souter em CSEL 50 (1908), pp. 1-440. Vide CPL 195 e VT 76.

3.3. Obras de duvidosa autenticidade

Alguns escritores tem atribuído à Ambrosiaster um “Comentário à Mateus 24” ( vide CPL 186); o “De tribus mensuris” ( vide CPL 187 e VT 76); “De Petro apostolo” (CPL 188 e VT 76); a “Lex Dei sive Mosaicarum et Romanarum legum collatio” , o “De bello iudaico” e outros fragmentos (para um comentário de cada uma destas obras vide Patrologia III, pp. 217-218).

Notas: