Ao ler todos os aforismos pode-se experimentar um certo tédio, pois existem várias repetições (sem contar aforismos que parecem não resplandecer), mas certas afirmações são tão inesperadas, tão novas e desconcertantes que a lição pode ser ouvida, levada a sério e aplicada na condição de ser redita, e eis porque dizemos com Silesius:
Pare, para onde corres? O céu está em ti.
Buscas Deus primeiro, tu o negligencias sem fim (I, 82).
A meta de Angelus Silesius é clara: entrar desde este mundo no reino de Deus, mas se o divino pode se encarnar, ele não poderia se humanizar sem perder sua transcendência, por conseguinte sem se perder ele mesmo, e eis porque cabe ao homem tornar-se Deus, de assim tornar-se pela graça aquilo que Deus é por natureza ou, mais exatamente, de se deixar divinizar por Deus [theosis]: “Tornar-se sensível a Deus, escreve Angelus Silesius, é o mais alto culto. (IV, 150). Quando se lê Angelus Silesius, percebe-se rapidamente que de pronto o mundo e os homens são postos a parte: restam apenas em presença um homem se não é divinizado, pelo manos angelizado: um Querubim, e Deus mesmo, mas este diálogo é somente uma etapa provisória posto que o que é buscado é a união com Deus ou, melhor ainda, a Unidade, ponto ômega jamais definitivamente alcançado onde o homem seria tão absorvido e reabsorvido em Deus que não restaria nada mais que Deus. Como alcançar à Unidade? Em imitando o Cristo. Não parece que Angelus Silesius vê a princípio em Jesus o Crucificado, mas sim a Criança-Deus:
O melhor é ser uma criança.
Posto que Deus mesmo, o maior, se fez pequenino,
Todo meu desejo será de ser como uma criança (III, 25).