GOTTFRIED ARNOLD — O MISTÉRIO DA DIVINA SOPHIA
O editor moderno desta obra sobre Sophia salienta a linguagem de Arnold, de certo modo religiosa porém de tonalidade erótica, resgatando uma tradição antiga que valorizando o feminino enquanto um dos mistérios mais profundos da humanidade desde a criação de Eva, passando pelo Cântico de Salomão. Arnold enfatiza a proximidade desta nobre Sophia dentro de cada um de nós, mais próxima que qualquer de si mesmo, onde dela não se pode exilar. Ela é o «puro elemento» de espírito, a misericórdia e o candor, a «virgem dentro» através da qual o Logos ou Cristo nasce em cada um.
DA CHEGADA E PRIMEIRA VOZ DE SOPHIA NO HOMEM
Acima de tudo, ó homem, saiba e acredite que esta nobre Sophia não está distante de ti, mas é capaz e deseja estar mais próxima de ti do que estás de ti mesmo, se não a rechaças. Pois, veja, o Senhor atraiu-a a todas as suas obras, sobre toda carne, de acordo com sua medida.
Portanto, cada espírito criado de acordo com a imagem de Deus pode encontrar a divina virgem nele mesmo e em seu ser. Ela é dada uma vez mais depois da queda de todos os homens em uma maneira espiritual secreta e deseja trazer cada pessoa uma vez mais para sua vida anterior nela.
Esta virgem estava no primeiro homem, em sua inocência, como uma semente de seu nascimento espiritual (como é descrito), tão intimamente presa e casada a ele que ela habitava em Adão no sopro ou espírito vivo que Deus assoprou nele (como em sua divina imagem), e despertou nele toda a alegria inimaginável e desejo. Adão deveria estar satisfeito com isto e desejando viver com esta pura noiva no paraíso; deveria também ter permanecido desejoso apenas por Deus.
Entretanto, depois de voltar-se para fora com dúvida e desejo em direção das criaturas e se tornar terrestre, a divina Sophia afastou-se dele e de toda a terra, e ao invés da uma noive celestial ele recebeu uma Eva carnal terrestre que Deus criou para ele em seu sono (que já era uma indicação de seu enfraquecimento) de uma costela…
Embora esta sabedoria fosse tirada através do pecado e não mais habitasse no homem corrompido de uma maneira paradisíaca, no entanto não cessou de falar a cada filho de Adão internamente em seus corações e a cobrá-los a reestabelecer o tesouro perdido. Ela fez isto por conta do profundo amor por seu antigo trono e lugar de acordo com os mandamentos de Deus.
Isto aconteceu através de seu movimento secreto, lembrando, punindo, chamando, e atraindo; atividade na alma que nenhum homem pode negar nem desconsiderar completamente, mas pode criar obstáculos e pode deixar de lado por um tempo. Por esta atividade toda cegueira, erro, e dureza levanta. E posto que tudo ocorre na alma, de fato, contra a atividade humana e intenção, a divindade nesta questão é mais certa e sua aceitação ou rejeição por cada um e todos deve ser considerada mais significativamente e mais cuidadosamente. Pois nada mais é que um sopro suave e amoroso e um mundo interior na alma que vem à alma sem ver e sem procurar se esta está internamente em quietude. De fato, é um mundo interior tão sutil e pacífico que pode ser posto fora com o menor gesto de natureza grosseira em palavras ou ações, de fato, mesmo pelos pensamentos que, de outro modo, em si mesmos poderiam não serem maus… Nesta primeira busca [de Sophia na alma], a proposta de Sophia é nada mais que uma chamada divina à obediência… Se qualquer um deseja conhecer quando e em que idade esta fala e busca interior oculta costuma acontecer, a resposta deve ser encontrada nas Escrituras na qual afirma-se que ocorre da juventude em diante e que permanece com uma pessoa enquanto a pessoa não a opõe…