Gilbert Durand: Excertos de “A Fé do Sapateiro”
O Concílio Vaticano II — contradizendo totalmente Divino afflatu, a bula de Pio X, de primeiro de novembro de 1911, e desprezando tradição angelológica tão poderosa entre o “povo do Livro”, como o mostrava de forma clara um recente e sábio colóquio havido não na Cúria romana, mas na universidade de Tours — os arcanjos Gabriel, Rafael e todos os santos anjos estão agora afastados e amontoados na festa da consagração do arcanjo Miguel, perto do equinócio do outono. Ora, o nosso antigo calendário tivera o cuidado de situar os três arcanjos maiores da cristandade, Gabriel, Miguel e Rafael, nas cúspides do equinócio da primavera (Gabriel, em março, secundado pelo legendário São Jorge em abril) e do outono (Miguel, secundado por Rafael, na cúspide do escorpião). Porque esses três arcanjos, como aliás todos os outros, tipificam potências distintas, orientadores cada uma delas de uma função, de um mundo. Gabriel é o angelus rector da lua e, especialmente na tradição islâmica em que tem o papel de intermediário, de “arcanjo purpurado”, o mais próximo da humanidade “sublunar”, enquanto Miguel, com sua espada flamejante, é o rector do sol; Rafael, o protótipo do médico, protetor da Viagem de Tobias, é o rector de Mercúrio, o planeta do deus viajante e condutor das almas.