Antonius Conduta Virtuosa 11-20

SANTO ANTÃO — EXORTAÇÕES SOBRE O COMPORTAMENTO DOS HOMENS E A CONDUTA VIRTUOSA

11. Deve-se chamar criador dos homens aquele que pode abastecer as naturezas incultas ao ponto de lhes fazer amar a instrução e a cultura. Da mesma maneira, aqueles que transformam os desviados em lhes inspirando uma conduta virtuosa que agrada a Deus, deve-se chamá-los criadores de homens, posto que remodelam os homens. Pois a doçura e a temperança são nas almas humanas uma felicidade e uma boa esperança.

12. É preciso que os homens regrem em verdade como convém seu comportamento e sua conduta. Esta correção operada, se torna fácil conhecer as coisas de Deus. Com efeito, aquele que venera Deus de todo seu coração e de toda sua fé, recebe da providência divina a possibilidade de dominar a cólera e a concupiscência. Ora a concupiscência e a cólera são a fonte de todos os males.

13. Leva o nome de homem aquele que é dotado de razão ou aquele que aceita se corrigir. Aquele que não se corrige é chamado indigno do nome de homem. Tal é o próprio dos seres inumanos. Daqueles, se deve fugir. Pois é impossível àqueles que vivem com o mal ser jamais contados entre os imortais.

14. Se a razão nos acompanha em verdade, ela nos torna dignos de levar o nome de homens. Mas se abandonamos a razão, é somente pela conformação dos membros e pela voz que diferimos dos animais sem razão. Que o homem inteligente reconheça portanto que é ele mesmo imortal, e terá em aversão toda concupiscência desregrada, que é para os homens a causa da morte.

15. Cada uma das artes, em organizando a matéria que lhe é própria, revela sua virtude. Trabalha-se a madeira, um outro o bronze, um outro o ouro e a prata. Da mesma forma, nós que entendemos falar da conduta feliz e virtuosa que agrada a Deus, devemos mostrar que em verdade somos homens dotados de razão por nossa alma, e não somente pela conformação do corpo. Ora a alma verdadeiramente dotada de razão e amada de Deus conhece no campo todas as coisas da vida. Ela ora a Deus de todo seu amor e ela lhe dá graças na verdade, levando a ele todo seu desejo e todos seus pensamentos.

16. Assim como os pilotos têm uma vigia para dirigir o navio e não jogá-lo contra um banco submarino ou sobre recifes, da mesma maneira aqueles que aspiram à vida virtuosa devem examinar cuidadosamente o que lhes é preciso fazer, e o que lhes é preciso evitar. Que considerem que seu bem está nas verdadeiras leis, as leis divinas, em podando às concupiscências da alma.

17. Assim como os pilotos e os condutores de carros, por força de atenção e de cuidado, chegam ao que buscam, da mesma maneira aqueles que cultivam a via reta e virtuosa devem ter cuidado e preocupação de conduzir uma vida que convém e agrada a Deus. Pois aquele que o quer, e que compreende que pode, se crê, toma o caminho da imortalidade.

18. Considera que são livres, não aqueles que a sorte fez livres, mas aqueles que o são por conta de sua vida e seu comportamento. Pois não convém chamar verdadeiramente livres os príncipes que vivem no mal e no excesso: eles são escravos das paixões da matéria. A liberdade e a felicidade da alma, é a pureza fiel e o desprezo do que passa.

19. Lembra-te que é preciso sem cessar fazer provas aos olhos dos outros, mas por tua conduta virtuosa e pelas obras elas mesmas. É assim, não às palavras mas a seus atos, que os doentes descobrem e reconhecem em seus médicos benfeitores e salvadores.

20. A marca da alma dotada de Razão e virtuosa está no olhar, na démarche, na voz, no riso, nas ocupações e entretenimentos. Pois tudo se transformou e readaptou para alcançar ao mais nobre. A ((inteligência amada de Deus, em guardiã das portas, vigilante e sóbria (v. nepsis), interdita então a entrada à infâmia dos maus pensamentos.