Santo Antão — Vida de Santo Antão — Santo Atanásio
2.5 — Antão aumenta sua austeridade
Esta foi a primeira vitória de Antão sobre o demônio; ou melhor, digamos que este singular êxito em Antão foi do Salvador, que “condenou o pecado na carne, a fim de que a justificação prescrita pela Lei, fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8,3-4). Mas Antão não se descuidou nem se acreditou garantido por si mesmo pelos simples fato de se ter o demônio lançado a seus pés; tampouco o inimigo, ainda que vencido no combate, deixou de estar-lhe à espreita. andava dando voltas em redor, como um leão (1 Pd 5,8), buscando uma ocasião contra ele. Antão, porém, tendo aprendido nas Escrituras quão diversos são os enganos do maligno (Ef 6,11), praticou seriamente a vida ascética, tendo em conta que, se não pudesse seduzir seu coração pelo prazer do corpo, trataria certamente de enganá-lo por algum outro método; porque o amor do demônio é o pecado. Resolveu, por isso, acostumar-se a um modo mais austero de vida. Mortificou seu corpo sempre mais, e o sujeitou, para não acontecer que, tendo vencido numa ocasião, perdesse em outra (1 Cor9,27). Muitos se maravilhavam de suas austeridades, porém ele próprio as suportava com facilidade. O zelo que havia penetrado sua alma por tanto tempo transformou-se pelo costume em segunda natureza, de modo que ainda a menor inspiração recebida de outros levava-o a responder com grande entusiasmo. Por exemplo, observava as vigílias noturnas com tal determinação, que a míudo passava toda a noite sem dormir, e isso não só uma vez mas muitas, para admiração de todos. Assim também comia só uma vez ao dia, depois do cair do sol; às vezes cada dois dias, e com freqüência tomava seu alimento só depois de quatro dias. Sua alimentação consistia em pão e sal; como bebida tomava só água. Não necessitamos sequer mencionar carne ou vinho, porque tais coisas tampouco se encontravam entre os demais ascetas. Contentava-se em dormir sobre uma esteira, embora regularmente o fizesse sobre o simples chão. Despreza o uso de unguentos para a pele, dizendo que os jovens devem praticar a vida ascética com seriedade e não andar buscando coisas que amolecem o corpo; deviam antes acostumar-se ao trabalho duro, tendo em conta as palavras do Apóstolo: “É na fraqueza que se revela minha força” (2 Cor 12,10). Dizia que as energias da alma aumentam quanto mais débeis são os desejos do corpo. Além disto estava absolutamente convencido do seguinte: pensava que apreciaria seu progresso na virtude e seu conseqüente afastamento do mundo não pelo tempo passado nisto mas por seu apego e dedicação. Assim, não se preocupava com o passar do tempo, mas dia por dia, como se estivesse começando a vida ascética, fazia os maiores esforços rumo à perfeição. Gostava de repetir a si mesmo as palavras de S. Paulo: “Esquecer-me do que fica para trás e esforçar-me por alcançar o que está adiante” (Fl 3,13), recordando também a voz do profeta Elias: “Viva o Senhor em cuja presença estou neste dia” (1 Rs 17,1; 18,15). Observava que, ao dizer “este dia”, não estava contando o tempo que havia passado, mas, como que começando de novo, trabalhava duro cada dia para fazer de si mesmo alguém que pudesse aparecer diante de Deus: puro de coração e disposto a seguir Sua vontade. E costumava dizer que a vida levada pelo grande Elias devia ser para o asceta como um espelho no qual poderia sempre mirar a própria vida.