Amor Maya

AMOR TEOFÂNICO NO ISLAME E MAYA NO ADVAITA VEDANTA

Daryush Shayegan: CONFLUENTE DOS DOIS OCEANOS

UM EXEMPLO DO MÉTODO DE COMPARAÇÃO ENTRE ISLAME E VEDANTA

O Amor teofânico no Islame e a ilusão cósmica (maya) no Advaita conotam ambas a função bidimensional de uma imaginação criadora que, no Islame é, por um lado cosmogônica enquanto imaginação «essenciadora», mas se apresenta também enquanto véu se inserindo entre o criador e a criatura como as formas determinadas e cativas que são nossos pensamentos imaginativos, uma sombra dentre as sombras que Deus criou. Maya tem também esta dupla função: ela é por um lado revelação enquanto causa eficiente, poder de projeção e ao mesmo tempo poder de obscurecimento. Ora, o que pode ser homologado neste exemplo, não é Maya e Amor enquanto tais, mas em lugar, o papel ambivalente que estas duas noções desempenham em relação a seu termo de referência. Poderia se dizer que os dois aspectos de maya em lugar do absoluto e do relativo têm uma relação homologável às duas dimensões do Amor no Islame. Estes dois aspectos não poderiam ser homologados se o Islame e a Índia não encarassem da mesma maneira a passagem do um ao múltiplo e não considerassem este último como irredutível àquele: para que o um possa passar ao múltiplo, se degradar de sua simplicidade homogênea, autônoma, e assumir as formas indefinidas dos mundos múltiplos e atravessar, como diz Masson-Oursel, «o hiato que opõe entre eles o absoluto e o relativo», é preciso encontrar um termo médio que permita as fases sucessivas das descidas ontológicas sem afetar ou trazer prejuízo à imutabilidade do princípio indiferenciado. É para exprmimir este paradoxo de um artifício divino que se insere entre o ser e o não-ser, o absoluto e o relativo, participando ao mesmo tempo à natureza dos dois sem lhes ser idêntico, que o Islame e o Vedanta admitem respectivamente a necessidade do Amor teofânico e da maya, sem os quais a passagem enigmática do um ao múltiplo não pode ser explicada.