altar

TEMPLO — ALTAR

Jean Hani:

Quando, transposto o limiar penetramos nas catedrais ou mesmo nas igrejas mais modestas das épocas antigas, ficamos como que fascinados e somos invadidos por essa «embriaguez sóbria» de que falam os místicos cistercienses. O templo atua à maneira de um sortilégio, porque sentimos palpitar nele uma alma harmoniosa cujo ritmo, vindo ao nosso encontro, prolonga, ultrapassa e sublima o nosso próprio ritmo vivo e até o ritmo do mundo em que mergulha. Esta «magia» deve-se à existência de um centro do qual irradiam linhas que originam, segundo a proporção divina, formas, superfícies, volumes em expansão, até um limite sabiamente calculado, que as detém, reflete e reenvia ao ponto de origem. E esta dupla corrente constitui, de certo modo, a «respiração» sutil desse organismo de pedra, que se dilata para o exterior a fim de preencher o espaço, após o que se concentra na sua origem, no seu coração, que é pura interioridade.

Esse centro do qual tudo irradia e para onde tudo converge é o Altar. O altar é o objeto mais sagrado do templo, a razão da sua existência e a sua própria essência, porquanto se pode, em caso de necessidade, celebrar a divina liturgia fora de uma igreja, mas é absolutamente impossível fazê-lo sem um altar de pedra.

Introibo ad altare Dei… «Subirei ao altar de Deus», esse versículo do salmista que inicia a missa coloca-nos, desde o princípio da santa função, perante esse objeto prestigioso do culto. O altar é a mesa, a pedra do sacrifício, sacrifício que, para a humanidade pecadora, é o único meio de estabelecer contacto com Deus. O altar é o lugar desse contato; pelo altar, Deus vem até nós e nós vamos até Ele. É o objeto mais santo do templo, porque é saudado, beijado, e incensado. É um centro de reunião, o centro da assembleia cristã, e a essa reunião exterior corresponde uma reunião interior das almas e da alma, cujo instrumento é o próprio símbolo da pedra, um dos mais profundos, como a árvore, a água e o fogo, e que atinge e toca algo de primordial no homem.