CITAÇÕES DO EVANGELHO DE JESUS: Filipenses 1:29-30; Col 2:1; 1Tes 2:2; 1Ti 6:12; 2Ti 4:7; Heb 12:1
Peter Brown:
A visão de luta espiritual de Orígenes penetrou na corrente de todas as futuras tradições de orientação ascética (askesis) dos mundos da Grécia e do Oriente Próximo. Ela envolveu o ser humano num diálogo solene e contínuo com os poderes intangíveis que roçavam a mente. Porque, “se somos dotados do livre arbítrio, é muito provável que alguns seres espirituais sejam capazes de nos exortar ao pecado, e outros, de nos assistir rumo à salvação”.
Os anjos (aggelos) e demônios (diabolos) eram tão próximos dos cristãos do século III quanto o são os aposentos contíguos. A alma livre se expandia no amor ou resvalava de novo para uma saciedade entorpecida, conforme sua opção de “buscar conselheiros” nos espíritos invisíveis e poderosos que se achavam tão perto de todas as pessoas. Nos momentos de intensa oração (euche), por exemplo, o fiel podia sentir, na serenidade (hesychia) imperturbável da mente, o toque do silêncio tranquilo dos espíritos angelicais que estavam ao lado de todos os cristãos, amorosamente interessados em que todos os seres humanos se unissem a eles em sua irrestrita adoração de Deus.
Cercado por todos os lados por ajudantes invisíveis e sedutores invisíveis, o fluxo de pensamento (logismos) dos cristãos raramente podia ser considerado neutro. A devoção e as resoluções firmes irrompiam na consciência através da disposição da alma de cooperar com seus guias angelicais. Essas presenças protetoras traziam à tona as propriedades sadias da pessoa, tão misteriosa e intimamente quanto o contato com os cataplasmas curativos mobilizava as energias de humores situados muito abaixo da pele. Os temas das meditações dos cristãos despontavam no “coração” (kardia) com um poder que muitas vezes revelava recursos mais profundos que os da mente consciente e isolada: Abençoado é o homem cuja aceitação está em Ti, Senhor: Tua ascendência está em seu coração.
Frithjof Schuon: PÉROLAS DE UM PEREGRINO
Superar-se: este é um grande imperativo da condição humana; e há outro que o antecipa e ao mesmo tempo o prolonga: dominar-se. O homem nobre é o que se domina; o homem santo é o que se supera. A nobreza e a santidade são os imperativos do estado humano.
O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA
O bem combate o mal, não deixando de ser o bem, mas por ser o bem.
Desapego, generosidade, vigilância, gratidão: estas virtudes dependem de quatro princípios que poderíamos caracterizar pelos seguintes termos: pureza, bondade, força, beleza; ou frio, calor, atividade, repouso; ou morte, vida, combate, paz; ou ainda, aplicando-os à alquimia espiritual: abstenção, confiança, realização, contentamento.
A injustiça é uma provação, mas a provação não é uma injustiça. As injustiças vêm dos homens, ao passo que as provações vêm de Deus. Aquilo que, da parte dos homens, é injustiça e, consequentemente, mal, é provação e destino da parte de Deus. Temos o direito ou, eventualmente, o dever de combater esse mal, mas devemos nos resignar à provação e aceitar o destino. Isso significa que é preciso combinar as duas atitudes, considerando que toda injustiça que sofremos da parte dos homens é, ao mesmo tempo, uma provação que nos chega da parte de Deus.
Na dimensão horizontal ou terrestre, pode-se escapar do mal combatendo-o e vencendo-o. Ao contrário, na dimensão vertical ou espiritual, pode-se escapar, senão à provação em si, pelo menos ao seu peso, e isto aceitando o mal na qualidade de vontade divina e transcendendo-o interiormente na qualidade do jogo cósmico, como se pode transcender espiritualmente qualquer outra manifestação de Mâyâ. Pois a confusão do mundo não entra no divino Silêncio, existente no fundo de nós mesmos e no qual se extinguem ou reabsorvem — como os acidentes na substância – tanto o mundo como o eu.