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Roberto Pla, Evangelho de ToméLogion 87

Estas duas classes de ordem psíquica, a nefes como sopro de vida (mortal) tintado de irracionalidade e com tendência “natural” a sumir-se nas esferas inferiores de existência, e o ruah, o sopro de origem divino, com capacidade de assimilar-se ao Espírito de Deus, posto que é vida (mãe dos Viventes), “vivificada”, são anunciadas no reino psíquico (= a água) que já no Dia segundo da Criação aparece dividido em dois setores irreconciliáveis: as águas de debaixo, e as águas de acima, do infranqueável firmamento de bronze polido (v. Águas Superiores).

Esta mesma doutrina das duas ordens psíquicas (= as duas classes de águas genesíacas), forma parte do AT, mas como costuma ocorrer, aqui seu traçado, seu método interpretativo, é muito mais denso e difícil de desentranhar que no NT.

A fórmula oculta aqui empregada consiste em enfrentar a dois irmãos, dos quais um, o primogênito (significando a nefes), vive apegado ao mundo porque seu “teto”, seu firmamento, é insuperável, e o outro — o segundo nascido, identificável com o ruah — está assentado sobre a plataforma do firmamento, mas não tem limites para estender seu voo ascendente até o Espírito de Deus. Ainda com as variantes de cada relato, as aspirações superiores culminarão sempre em um terceiro personagem (nesamah), que como consumação da ordem psíquica, humana, se resolve no triunfo messiânico.

Isso ocorre e pode ser estudado na história de Esaú e Jacó, na qual, segundo o Oráculo, “o maior servirá ao pequeno”. Com efeito, tal como o Jesus passível, Esaú era o primogênito, mas vendeu sua primogenitura a seu irmão Jacó. Ambos eram gêmeos. De igual maneira, quando Jesus o Vivente estava (identificado) com o corpo, não se diferenciava do Jesus passível, pois nenhum homem se diferencia de seu corpo quando está identificado com ele.