Philokalia Prece Divina

Philokalia — sobre as palavras da prece divina

Ao final da Philokalia foram incluídos alguns opusculos ou extratos de obras de Padres traduzidos pelos compiladores, Macario e Nicodemos em grego demótico, o grego moderno. O discurso aqui apresentado é o primeiro destes opúsculos, pregando a interiorização e a realização da vida monástica na prece constante, tendo como referência principal a prece do coração.

  • inglês
    Lord have mercy


    Excertos
    Discurso admirável sobre as palavras da prece divina “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim”

Que poder tem a prece “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim”? E de que graças cobre ela àqueles que a praticam? E a que estado de dignidade os conduz? Não nos é possível dizê-lo e revelá-lo. É algo que nos excede. Diremos somente de onde vem esta prece, e quais são os primeiros que dela pronunciaram as palavras.

Logo esta prece teve sua origem na Santa Escritura. E foram os três grandes apóstolos do Cristo, Paulo, João e Pedro, que dela disseram as palavras. É deles que recebemos, como uma herança transmitida pelos Padres. Eles são os oráculos divinos, as revelações do Espírito Santo, as vozes de Deus. Cremos com efeito que todos os ditos ou escritos dos divinos apóstolos que portavam o Espírito são palavras do Cristo, o qaul lhes disse por suas bocas. Pois nosso Senhor, no santo Evangelho, lhes prometeu que El mesmo, o Filho, o Pai e o Espírito Santo viriam fazer sua morada neles, e não somente neles, os apóstolos, mas em todo cristão que guardasse seus mandamentos.

É assim que o divino Paulo, que tornou-se digno de ser elevado até o terceiro céu, disse Senhor Jesus: “Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo” (1Co 12,3). Em afirmando que ninguém pode dizer este nome do Senhor Jesus fora do Espírito Santo, o apóstolo Paulo revela de maneira certamente admirável que este nome é bem mais elevado que todos os outros nomes que os domina; eis porque é impossível o dizer de outra maneira que não seja pelo Espírito Santo. Quanto a João o Teólogo, que revelou como um trovão as coisas do Espírito e da teologia, ele tomou o final das palavras de Paulo para fazer o princípio. Disse: “Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus;” (1Jn 4,2). Em afirmando que todo espírito que confessa o nome de Jesus Cristo é de Deus, este apóstolo divino mostra por suas palavras que o nome e a confissão de Jesus Cristo são da ordem da graça divina e espiritual, que isto não é uma coisa fortuita. Do mesmo modo Pedro, o príncipe dos apóstolos, tomou o final das palavras de João — quer dizer “Cristo” — e delas fez o princípio. A nosso Senhor que demanda a seus discípulos: “Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (Mt 16:15-16), palavra que Deus o Pai lhe revelou do céu, como testemunha nosso Senhor no santo Evangelho.

Consideres como em suas palavras divinas estes três santos apóstolos do Cristo se têm um ao outro para formar um círculo. Um recebe do outro, palavras divinas, de maneira a pôr no princípio a palavra que o primeiro disse ao final, o terceiro faz o mesmo, e eles realizam assim a prece. Com efeito, Paulo diz “Senhor Jesus”, João “Jesus Cristo”, e Pedro “Cristo, Filho de Deus”. Há um círculo admirável. O final “Filho de Deus” aí reúne-se ao princípio “Senhor”. Pois é a mesma coisa dizer “Senhor” e “Filho de Deus”, posto que os dois manifestam a divindade do Filho único de Deus.

É assim que os bem-aventurados apóstolos nos ensinaram a dizer no Espírito santo e a confessar: “senhor Jesus Cristo, Filho de Deus”. O fato que eles sejam três os torna dignos de fé. Pois toda palavra é garantida e confirmada por três testemunhas.