Pantocrator

ICONOGRAFIA — PANTOCRATOR — O CRISTO DO SINAI


!
Jean-Pierre Batut: PANTOCRATOR — DIEU LE PÉRE TOUT-PUISSANT DANS LA THÉOLOGIE PRÉNICÉENNE

Simbolismo
Richard Temple:
O “conceito espiritual supremo”, em um sentido esotérico e gnóstico, é o autoconhecimento; e o autoconhecimento, como os místicos de todas as tradições sustentam, é sinônimo de conhecimento de Deus. Com esta ideia temos uma chave, não somente para o significado dos Quadros de Fayum, seja para um número de retratos dos períodos helenísticos e do cristianismo primitivo. Um dos mais notáveis destes é um ícone de Cristo, descoberto no Monastério de Santa Catarina no Monte Sinai. Opiniões sobre sua data variam amplamente embora as principais autoridades considerem o ícone como tendo sido pintado em Constantinopla no começo do século VI, sendo provavelmente um presente para Santa Catarina de seu fundador, o Imperador Justiniano.

{img src=”img/wiki_up/christpantocratorsinaitp.jpg” /}

Este que é um dos ícones mais antigos de Cristo nada tem de “original” em sua composição. Mesmo quando primeiramente pintado era uma imagem “tradicional”, e veremos que é feita com elementos tradicionais, alguns dos quais vieram do helenismo recente, alguns da antiguidade e alguns do antigo Egito. O título do ícone, Pantocrator, o Regente de Tudo, é um conceito helenístico.

A forma básica, como sua simetria axial, frontalidade e enquadramento na altura do busto, não está longe dos Quadros de Fayum, da tradição egípcio-romana. Da mesma origem são as técnicas de pintura e o olhar “não afetado”.

Da antiguidade grega vem o tipo de filósofo-mestre barbado com os dois dedos da mão direita levantados em um gesto de “ensinamento”. Do mesmo período vem o livro, simbolizando conhecimento e sabedoria. Em alguns ícones este é o rolo ou “rotulus” da antiguidade. O volumoso manto ou “himação” era o traje tradicional dos filósofos enquanto sua cor púrpura indicava realeza. Também refletindo a antiguidade clássica são o muro e o trono atrás do Cristo. Acima, no fundo, em uma alusão pitagórica ou neoplatônica aos poderes cósmicos, está o disco solar ou halo, uma forma que pode ser associada ao antigo Egito, enquanto duas estrelas podem ter conotações astrológicas associadas com a magia zoroastriana.

Cada um destes elementos está presente, não através da chance histórica ou convenção estilística, mas devido às ideias profundas das quais são a expressão externa. Tudo isto obedece leis que demandam que as energias espirituais do pintor conformem-se às realidades espirituais do universo. Por energias espirituais queremos dizer as energias ordinárias que foram “transformadas” pelo processo de refinamento do trabalho espiritual que os Hesicastas escrevem sobre no Philokalia e os qual Plotino refere-se quando fala de “recolhimento em si mesmo”. Sem este processo, que só pode ter lugar sob condições específicas, como um estudo da Philokalia ou das Enéadas tornas claro, os dons artísticos do pintor, apesar de grandiosos no sentido ordinários, ficarão não transformados ao nível humano. Este é o estado subjetivo do homem onde a centelha divina é perdida dentro de aspectos contraditórios e múltiplos de seu ser. Nesta condição de dispersão, a conformidade entre o inferior e o superior não pode ter lugar.

O ato criativo só terá lugar onde o nível material ou inferior é penetrado pelas energias do reino espiritual ou superior. Esta penetração “dota” de forma que tem configuração e corpo. “Se a ‘Matéria’ foi penetrada pela ‘Ideia’, a união constitui um ‘corpo’” é uma das muitas formulações de Plotino que exprimem esta lei universal das três forças. Em outro lugar, ele afirma “O ‘Espírito’ penetra a ‘Matéria’ para dotá-la de ‘Forma’”.
*CRISTO NO SINAI
*ÍCONE DO CRISTO DE RUBLYOV