Maria Valentino

José A. de Aldama — Maria na patrística dos séculos I e II
Contribuição e tradução de Antonio Carneiro das páginas 45 até 52
María en la patrística de los siglos I y II, José A. de Aldama, Biblioteca de Autores Cristianos (BAC), n.300, Españ a: Madrid, 1970,xv, 192 p., sem ISBN .
2.3 O gnosticismo valentiniano
Não conhecemos o pensamento pessoal de Valentino sobre a maternidade virginal de Maria1, a não ser que deva manter-se a atribuição do “Evangelium veritatis” a Valentino, feita por alguns críticos2. Nesta obra lemos a seguinte alusão ao corpo de Cristo, que citamos em tradução francesa:

“Car il est venu dans une chair de similitude, sans que rien ne pût entraver son cheminement, parce qu’ elle était incorruptible, incoercible.”3)

Sublinhou-se o docetismo dessa frase. Poderia, no entanto, pensar-se que nela se insinua a peculiar ideia que do corpo real de Cristo tinham Valentino e seus discípulos, como veremos4.

Quispel tentou reconstruir a doutrina original de Valentino através das doutrinas de seus discípulos5. Segundo essa reconstrução, fundada em uma passagem dos “ Extratos de Teodósio”6 , Jesus teria um corpo espiritual, modelado pelo demiurgo no seio da Virgem. Valentino teria apoiado sua doutrina em Lc 1, 35:

“O Espírito Santo sobre ti” indica a natureza do corpo do senhor, e “o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” significa a formação do demiurgo, com a que modelou o corpo na Virgem.

Se esta reconstrução do pensamento original de Valentino é exata, a ideia do corpo espiritual, que Hipólito atribui à escola oriental, representa a concepção primitiva, modificada depois por Ptolomeu e pela escola itálica7. Tertuliano confirma ao escrever:

“Licuit et Valentino, ex privilegio haeretico, carnem Christi spiritalem comminisci.”8

Mais adiante, o autor do tratado “De recta in Deum fide” voltará a falar do “corpo celeste” do Senhor como pensamento de Valentino em lábios do bardesanita Marino9.

Qual é o papel de Maria nesta maneira de pensar? Não se explica expressamente. Mas, se o corpo de Jesus é espiritual, sua substância, ainda que tenha sido oportunamente modelada e adaptada pelo demiurgo no seio da Virgem, é claro que não está tomado dela. Quer dizer, suprime-se de fato a verdadeira realidade da maternidade de Maria.

Este último traço vai ficar vigorosamente sublinhado no valentianismo posterior. A Ptolomeu referem-se os primeiros informes que nos dá São Irineu. A maternidade virginal de Maria caracteriza-se ali com esta fórmula concreta:

“Qui per Mariam transivit, quemadmodum aqua per tubum transit”.

Não pode expressar-se mais claramente a negação de uma verdadeira maternidade. Não só a partícula “δια” , usada intencionalmente em vez de “έκ” (o farão frequentemente os gnósticos), mas sim, mais ainda, a comparação da água que passa pelo canal, estão dizendo que Cristo passou através de Maria sem receber seu dela.

A equivalência entre as fórmulas “passou por Maria como a água por um tubo e não recebeu nada de Maria”, tem feito expressamente São Irineu, quem repete constantemente esta última em sua refutação. De igual modo denunciou o bispo de Lyon o caráter doceta que em última instância envolve toda esta maneira de pensar:

“Errant igitur qui dicunt nihil ex Virgine accepisse (…) Hoc autem dicere est et putative apparuisse eum tamquam hominem, cum non esset homo, et factum eum hominem nihil assumentem de homine”.

O pensamento de São Irineu o resumiu bem Teodoreto:

Valentino, e Basilides, e Bardesanes, e Armonio e seus companheiros mantem a concepção e o parto virginal; mas dizem que passou por ela como por um canal, e apareceu aos homens usando de aparências e fazendo-se tomar por homem, do modo como foi visto por Abraão e outros dos antigos.”

É um docetismo que, admitindo a realidade humana de Jesus, nega de fato sua corporeidade material.

O pensamento fundamental desta mariologia valentiniana o expressou com frase precisa de Tertuliano:

“Esse etiam (…) Christum (…) in praepositionum quaestionibus positum, id est per Virginem, non ex Virgine editum; quia delatus in Virginem transmeatorio potius quam generatorio more, processisset per ipsam, non ex ipsa; non matrem eam, sed viam passus.”

Do mesmo modo o Pseudo Tertuliano, que sublinha o docetismo de semelhante sistema:

“Hunc autem in substantia corpporis nostri non fuisse, sed spiritale, nescio quod, corpus de caelo deferentem, quasi aquam per fistulam, sic per Mariam Virginem transmeasse nihil inde accipientem vel mutuantem.”10

Entre os discípulos de Valentino faz Irineu especial menção ao mago Marcos. No ponto que nos ocupa seu pensamento é idêntico:

“Et sic ille, qui est secundum dispositionem, per Mariam generatur apud eum homo, quem Pater omnium, transeuntem per vulvam, elegit per Verbum ad agnitionem suam.”

Semelhante supressão da verdadeira maternidade de Maria vem postulada no valentinianismo pela estrutura particular do Salvador; estrutura que obedece, por sua vez, a outros princípios fundamentais do sistema. Neste, a soteriologia exige que o Salvador tome em si os elementos humanos capazes de obter alguma salvação:

“Tinha que assumir as primícias de quanto havia de salvar-se.”

Mas, por outro lado, “como o material é incapaz de salvação11, não assumiu nada material.”

Com isso se estabelece uma diferença essencial entre Jesus e os demais homens, diferença que radica precisamente na diversa qualidade do corpo. Nela vai envolvida a negação da maternidade de Maria, única que no caso de Jesus tivesse podido assegurar a realidade de um corpo humano igual ao nosso.

No sistema valentiniano, o demiurgo fez primeiro, de uma matéria invisível, o homem “material” à sua imagem, não à sua semelhança; logo inspirou nele o homem “psíquico” (animal), que é à sua semelhança; finalmente, lhe acrescentou uma carne sensível, a “túnica de pele”.12 É a interpretação de Gn 1, 26; 2,7 e 3,21. Mas nesta atividade do demiurgo se havia misturado ocultamente a ação de Sophia (Achamoth), personagem caído do Pleroma e, por isso mesmo, de substância “espiritual” , não “animal” como o demiurgo. Sophia havia depositado neste, sem que ele soubera, uma partícula “espiritual” , que ele transmitia, sem saber, aos homens ao inspirar neles o elemento psíquico, quer dizer, a alma. Assim temos o que chamou Tertuliano a “trindade humana” dos valentinianos: o elemento “material” (“de esquerda”), que se destruirá sem remédio possível; o elemento “psíquico” (“de direita”), que irá aonde se incline; o elemento “espiritual”, que haverá de se salvar por meio da gnose.13

Suposta esta antropologia valentiniana, venhamos ao corpo de Jesus. Segundo os princípios estabelecidos, o Salvador tinha que assumir o elemento espiritual e o psíquico; o material era , pelo menos, inútil que o assumisse (por ser incapaz de salvação), e de fato não o assumiu. A dificuldade estava na maneira de fazer sensível e passível ao Salvador sem prestar-lhe nada material.

Talvez não se atendeu desde o princípio a esta dificuldade. A menos que tivesse que o supor assim, de ser certa a reconstrução feita por Quispel da doutrina original de Valentino. Mas, sentida a dificuldade, sua solução dever-se-ia melhor à Ptolomeu e à escola itálica, introduzindo, em vez do corpo espiritual, um corpo psíquico especialmente formado.

Segundo esta solução, nesse valentinismo plenamente desenvolvido a estrutura interna de Jesus está integrada por quatro elementos:

a) O Cristo “psíquico”, filho do demiurgo14, que fará às vezes de alma de Jesus.

b) O “germem espiritual” , que vem de Sophia (Achamoth).

c) O “corpo da economia”, quer dizer, um elemento especial, psíquico no material sensível e passível, “fabricado com arte inenarrável”;15 esta arte se necessitava para dar-lhe propriedades da matéria ao que em si mesmo não era material.16

d) A todos estes elementos “ humanos” se acrescenta o “Salvador de cima” , quer dizer, o fruto comum produzido por todos os eons dentro do Pleroma aportando cada um à sua produção o melhor que tinha em si.17

O Salvador assume o cristo psíquico, unido já antes ao germem espiritual; se acrescenta o elemento frabricado artificiosamente pelo demiurgo no seio de Maria.

Nesta concepção do valentinismo, o corpo de Jesus não é espiritual, mas tampouco é material; é psíquico, como corresponde à natureza do demiurgo que o fabrica. Mas como o puramente psíquico não podia explicar a índole sensível e passível de Jesus, introduz-se ao demiurgo pondo a serviço de sua obra todas as possibilidades de seu engenho e de sua arte. Com elas conseguiu que esse corpo, de substância psíquica, revestisse as qualidades de sensibilidade e passibilidade próprias da matéria.

Naturalmente, um corpo assim, ainda que formado no seio de Maria, não podia proceder estritamente de sua substância, cujo carater material não tinha. Compreende-se bem a fórmula: “passou através de Maria, mas não procedeu de Maria”. Ficava suprimida a verdadeira maternidade. por outro lado abriam-se novas possibilidades à explicação de um nascimento virginal. Um corpo não material não tem por que causar mingua alguma na integridade do seio materno ao nascer.18

Mais ainda, esse nascimento virginal resultava a melhor prova de que o corpo de Jesus não era como o nosso. De ter sido igual, tivera sido também idêntica sua origem; não virginal, como o foi.19 Só que tal nascimento, negada a maternidade verdadeira de Maria, tampouco era um nascimento verdadeiramente humano.

O equívoco que propunha essa teoria resulta evidente. Esse equívoco devia sair mais de uma vez à superfície. Assim, por exemplo, no caso que nos conta Tertuliano, quando escreve que os valentinianos costumavam dizer:

“Peperit, et non peperit;
virgo, et non virgo.”

Aludiam ao chamado “Apócrifo de Ezequiel”, e Tertuliano refere o sentido que lhe davam dentro de seu sistema:

“Ideo non peperit quae peperit, quia non ex sua carne;
et ideo virgo quae non virgo, quia non de visceribus suis mater.”

Quer dizer, os valentinianos explicam realmente a integridade virginal de Maria negando de fato a verdade de sua maternidade. Já vismos isso; o corpo de Jesus passou através de Maria, mas na realidade não procedia dela; era o corpo psíquico fabricado na arte inenarrável para que aparecesse em terra com qualidades da matéria, que realmente não possuía por sua própria natureza.20


NOTAS
FOOTNOTEAREA() /




  1. A recordação que lhe dedica São Irineu (“Adversus haerese” I, II, I) copiado por São Epifânio (Panarion 31,32), não alude à este extremo. 

  2. M. Malinine, Henri-Charles Puech, Gilles Quispel, “Evangelium veritatis” p. XIV-XV, Puesch e Quispel (“Les écrits gnostiques du Codex Jung”: VigCh 8 (1954) 39) haviam sugerido a possível atribuição da obra a Valentino, ou pelo menos à um de seus discípulos imediatos que tivesse compreendido e assimilado muito bem seu pensamento. Assim também Braun, “Jean le Théologien” 235; esta parece ser a opinião de Antonio Orbe (por exemplo, em “Estudios Valentinianos” 3, 355), W.C. van Unik, (“The Gospel of Truth and the New Testament”, em Cross, “The Jung Codex” pp.99-104) propos como autor a Valentino em Roma cerca de 140-145, quer dizer, nas vésperas ou na raíz de sua defecção da Igreja. Vide também R.M.Grant, “La Gnose et les origines chrétiennes” pp.104-108. Leipold (em ThLZt 82 (1957) insistiu na ausência dos temas mais característicos do valentianismo no “Evangelium veritatis” . Por isso, para outros autores, a obra apresentaria melhor um gnosticismo pré-valentiniano. H.M.Schenke (“Die Herkunft des sogennaten Evangelium veritatis” (Götting, 1959); H. Ringgreen, “The Gospel of Truth and Valentinian Gnosticism” : StTh 18 (1964) 51-65, W. Till (“Das Evangelium der Wahrheit” : ZtNtW 50 (1959) 168) o crê muito próximo da ortodoxia, ainda que já com pegadas gnósticas. J. Daniélou (RechScRel 47 (1959) 583) o vê no limite entre a gnose judaica-cristã ortodoxa e a sistematização gnóstica incipiente. 

  3. NT: Em francês no texto, a tradução para portugues seria : “Pois ele veio em uma carne de similitude, sem que nada pudesse entravar seu avanço (desenvolvimento), porque ela era incorruptível, incoercível.”
    “Evangelium veritatis” (ed.c.) 31, Till (ZtNtW 50 (1959) 177) traduz “Weil er in einem (nur) scheinbaren (d.h. nicht wirklich materiellen) Fleisch kam, ohne etwas (oder: jemand) seinen (= das Inkarnieten) Gang hinderte weil es (= das Fleisch) die Unverganglichkeit und die Unfassbarkeit ist”.
    NT: A tradução do alemão praticamente ao pé da letra seria algo assim: “Porque ele veio em uma (simplesmente) aparente (não realmente material) carne, sem que algo (ou: alguém) opusesse obstáculos a sua (= incarnação) caminhada porque ela (= a carne) está na intransitoreidade e na incompreensibilidade.”  

  4. Talvez tenha que se entender assim o fragmento da “Carta à Agatódopo”, que cita Clemente de Alexandria (Stromata 3,7,59,3: GCS Clem 2a. ed.(52) 223; PG 8,1161 CD): “Jesus comia e bebia singularmente sem devolver os alimentos. Tão grande era a força de sua continência, que nem sequer se corrompia o alimento nele, pois ele não teve o fenômeno da corrupção” 

  5. “The original doctrine of Valentine” : VigChr 1 (1947) pp.43-73 

  6. “Excerpta ex Theodoto” 58-60: SC 23, 176-178. 

  7. “Elenchos” 6, 35, 6-7: GCS Hip 3 (26) 165; PG 16, 3247s. Antonio Orbe (“Estudios Valentinianos” 5 (Analecta Gregoriana 83) 63-65; 3, 214-216) pôs em dúvida a exatidão da referência de Hipólito e não crê na existência da chamada escola oriental. Esta a encontramos também nomeada com o mesmo título de “Excerpta ex Theodoto” : SC 23,52. Que a “Carta à Rheginos” contenha idêntica doutrina (PuechQuispel, em VigChr 8 (1954) p.49), é muito duvidoso; cf. Orbe,o.c., 5,64 nt. 48a. 

  8. “De carne Christi” 15,1 (evans, 52; CC 2, 900; CSEL 47,227). Vide também Pseudo-Tertulino, “Adversus omnes haereses” 4,5: CSEL 47,221; CC 2, 1407: “Spiritale nescio quod corpus de caelo diferentem”. Fala de Valentino; ib., 7. Antes ainda sem expressa menção a Valentino, Pseudo Justino, “ De Ressurrectione” 2: TU 20, 2, 38; CApol 3, 216. Sobre a atribuição desta obra à São Justino, vide Prigent, “Justin et l’ ancien Testament” 50-61. 

  9. “De recta in Deum fide”: 4, 13-17; 5, 1-3: GCS 4, 170-178; PG 11, 1829-1836. No comentário de São Efrem às cartas de São Paulo, ao falar da carta apócrifa dos corintios ao Apóstolo, dá como texto da mesma: “ Dizem (Simão e Clobios) que Nosso Senhor não veio com corpo terreno, mas sim com um corpo celeste; e que não nasceu da Virgem Maria”. E comenta: “Mas esta doutrina é a escola de Bardesanes”. Cf. Zahn, “Geschichte des neutestamentlichen Kanons” 2, 597s. 

  10. “Adversus omnes haereses” 4,5: CSEL 47,221; CC 2, 1407. Filastrio (“Diversarum haereseon liber” 38, 6: CC 60, 234; CSEL 38, 21) nos dá a mesma ideia de mariologia valentiniana: “Dicit… de caelo eum carnem detulidde, nihil autem accepisse de sancta Virgine, sed ut aquam per rivum, ita transisse per eam affirmant” . Filastrio (ib., 40) acentua o docetismo ao falar de Segundo: “Christum autem quasi per phantasian apparuisse, id est veluti umbram humano generi, et non veram carnem hominis habuisse suspicatur” . Cf. Orígenes, “In epist. ad Galatas” : PG 14, 1298 A; São Epifânio, “Panarion” 31, 4,3: GCS Epif. 1 (25) 388; PG 41, 480 B. 

  11. Umas linhas antes do texto citado escreve São Irineu (PG 7, 504; Harvey 51):“O material (que chamam também de esquerda) dizem que necessariamente há de perecer, pois não é capaz de receber nenhum hálito de incorruptibilidade.” 

  12. Lê-se na explicação de Tertuliano (“Adversus valentinianos” 24: CSEL 47, 200s; CC 2, 770a): “Molitus enim mundum Demiurgus ad hominem manus confert, et substantiam ei capit non ex ista, inquiunt, arida, quam nos unicam novimus, terra (…), sed ex invisibili corpore materiae (…). Figulat itaque hominem Demiurgus, et de affatu suo animat; sic erit et choicus et animalis, ad imaginem et similitudinem factus, quadruplex res, ut imago quidem choicus deputetur (materialis scilicet etsi non ex materia, Demiurgus); similitudo autem, animalis (hoc enim et Demiurgus). Habes duos interim. Carnalem superficiem postea aiunt choico supertextam, et hanc esse pelliceam tunicam obnoxiam sensui.” 

  13. São Irineu, “Adversus haereses” I, 5, 5-6 : PG 7, 500-504; Harvey I, 40-52. Cf. ib., I,7,5. Enquanto o homem material é a “ imagem” do demiurgo, e o psíquico a sua “semelhança”, o espiritual vai por outro caminho: não é nem a imagem nem a semelhança do demiurgo porque não procede dele , mas sim de Sophia. Cf. Clemente de Alexandria, “Excerta ex Theodoto” 54,5: SC 23,170, com a explicação de Antonio Orbe: Gerg 41 (1960) 481-485. 

  14. É o Cristo anunciado pelos profetas, diferente do Cristo-Eon interior ao Pleroma (cf. “Adversus haereses” I, 2,5) e diferente também, naturalmente, do Cristo do Evangelho, que se confunde com Jesus. Sobre o Cristo psíquico valentiniano, vide Antonio Orbe, Estudos Valentinianos 3 (Anacleta Gregoriana 113) 190-207. 

  15. Cf. “Adversus haereses” I, 9, 3 (PG 7, 544; Harvey I, 8-5) : “ Dizem que o Salvador se revestiu de um corpo psíquico, da economia, preparado com inenarrável providência para que fosse visível e palpável”. 

  16. “O corpo da economia não é estritamente o homem da economia” . Cf. Orbe: o.c., 3, 210-217. 

  17. Também este fruto comum dos eones se chama Cristo em linguagem valentiniano; com o que temos todos estes Crsitos diferentes: o Cristo-Eon; o Cristo, fruto comum de todos os eones; o Cristo psíquico, o Cristo-Jesus do Evangelho. 

  18. Cf. Orbe: o.c., 3, 226; “La muerte de Jesús en la economia valentiniana” : Greg 40 (1959) 657. Séculos depois haveria de formular a mesma observação São Martim I ao refutar a Teodoro de Farán no concílio Lateranense de 649. 

  19. Assim Alexandro, segundo testemunho de Tertuliano (“De carne Christi” 15,3: Evans, 52s; CSEL 70, 228; CC 2,901): “Nam, ut penes quendam ex Valentini factiuncula legi, primo non putant terrenam et humanam Christo substantiam informatam, ne deterior angelis Dominus deprehendatur, qui non terrenae carnis existiterunt; dehinc, quod oporteret similem nostrae carnem similiter nasci, nom de Spiritu nec de Deo, sed ex viri voluntate” . 

  20. A “Pistis Sophia”, certamente, não reflete uma concepção puramente valentiniana. De todos os modos, também nesse livro se conservou a doutrina gnóstica na que Jesus passa por Maria sem tomar nada dela. Vide c.8 e 62: GCS 45, -9; 80-81.