PRÓLOGO DE JOÃO — ENGENDRADO DE DEUS…
Engendrados, nem do sangue, nem da carne, nem de um querer de homem, mas de Deus.
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Erígena: VERBO FEITO CARNE
Jean-Yves Leloup: EVANGELHO DE JOÃO
« Qual é a pior das coisas à qual pode suceder o poder do mal (Yetzer))? — Fazer esquecer ao homem que ele é filho de um Rei. » (Martin Buber)
O Logos encarnou-se para lembrar ao homem sua verdadeira identidade. Os Hassidins têm a este respeito uma história que poderia ilustrar o sentido da vida do Logos ao mundo:
Em um país distante, o Filho do Rei caiu doente. Se tomou por um peru, se despiu de suas vestes e se pôs a ciscar sob a mesa, recusando toda conversação e todo alimento proveniente da cozinha real.
O Rei, em profunda dor, convocou todos os sábios, médicos e astrólogos para que curassem e liberassem seu filho desta terrível insanidade.
Meses passaram; ninguém encontrou um remédio para triste situação.
Um dia, um homem apareceu na corte. Pediu ao Rei se podia tentar algo para curar seu Filho. Este aceitou, e para surpresa de todos ele começou a se despir totalmente, e se pôs a agir e ciscar com um peru, debaixo da mesa.
O Filho do Rei, surpreso, lhe perguntou o que fazia, e o outro respondeu: «Não vês que sou um peru como tu?»
Ouvindo e vendo o comportamento deste novo companheiro, o jovem se assegurou que podia confiar nele.
Um dia, o novo companheiro do príncipe, pediu vestimentas e se vestiu, embora continuando a ciscar sob a mesa. O príncipe encolerizado lhe disse: «O que! Vais te vestir como os homens, agora? Estais louco?»
O outro lhe respondeu: «Ora, ora, não crês que basta pôr uma vestimenta para ser como eles, isto não nos impede de sermos os perus que somos.»
Outro dia, e o este novo companheiro pediu que servissem alguma refeição proveniente da cozinha real. O príncipe voltou a se surpreender: «O que! Vais agora comer como eles? És louco!»
O outro respondeu: «Não crês que pelo simples fato de comer como homens deixamos de ser os perus que somos», e o príncipe concordando sentou-se à mesa e comeu também.
A reeducação do príncipe, por exemplos, continuou ainda algum tempo, até o dia que ele se lembrou de seu nome e de sua identidade. De novo ele foi o Filho do Rei.