Aristóteles disse a respeito do intelecto «agente», «separado, impassível e sem mistura, sendo por essência um ato», que «produz todas as coisas»; torna todas as coisas inteligíveis, pela produção de um verbo. Tomás de Aquino retoma estas expressões, e fala propriamente de um «fazer» deste intelecto.
Em sua análise do conhecimento, com efeito, o intelectual lhes apareceu como extraindo de alguma maneira a partir das coisas, dos inteligíveis enterrados nelas. Neste tipo de análise, é então necessário dispor no espírito de um poder atuante que torne efetivamente ou atualmente inteligível este que, por si mesmo, não é inteligível senão virtualmente. Na sistematização aristotélica e tomista, o intelecto agente tem por tarefa conferir aos objetos sua inteligibilidade, operação que se completa em um verbo; o intelecto agente «produz», «faz» os seres em os conduzindo a comparecer diante do espírito, e em os nomeando. Puro princípio de intelecção, não pode ser misturado ao sensível; o intelectualismo da metafísica tradicional quer que os atributos «separado» (do sensível), «imutável», «sem mistura» digam precisamente a mesma coisa que «espiritual» e «em ato».
Se para Aristóteles e Tomás de Aquino este esquema de intelecção ativa e de produção do verbo não se aplica senão ao conhecimento do mundo, Mestre Eckhart o toma por sua conta no contexto de sua teologia da união: o homem desprendido concebe e engendra o Verbo ele mesmo, o Filho do Pai.
Mesmo nos escritos de Agostinho de Hipona, iniciador no Ocidente da doutrina estoica do verbo interior, não se encontrará jamais igual identificação. Agostinho fala muito do verbo como «de uma espécie de similitude onde podemos ver algo, como em enigma, o Verbo de Deus», mas ao mesmo tempo em salientando os traços comuns entre o verbo que «nasce de um saber imanente à alma» e o Verbo engendrado no seio da Trindade, ele não cansa de lembrar a profunda dessemelhança entre um e outro.
A afirmação de Mestre Eckhart segundo o qual o homem dá nascimento ao Verbo eterno — «ele dá nascimento a Jesus, em retorno, no coração paterno de Deus» — deve ser entendido como uma utilização original de elementos doutrinais aristotélicos e agostinianos1.
Quando Eckhart terá que se defender a partir de sua teoria da produção simultânea do Verbo, ele invocará especificamente uma passagem do tratado de Agostinho sobre a Trindade: Justus etiam dicitur gerador verbi eterni et hoc dicit Augustinus, quia inter cognoscens et cognitum generatur verbum et inter amans et amatum Franz Pelster, Ein Gutachten aus dem Eckehart-Prozess em Avignon, em Beiträge zur Geschichte der Philosophie und Theologie des Mittelalters, Supplem de Trinitate, cum quod aliqua creatura sit genitor verbi divini; Pelster, pág. 1121. ↩