Apostolado — Discurso final de Mateus aos Doze — Chegada a Jerusalém (Mt X,23)
23 Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra.
Amén, eu vos digo:
vós não tereis acabado de percorrer as cidades de Israel, até que o filho do homem tenha vindo. (Chouraqui; Mt 10:23)
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 73
a) O percurso pelas cidades é o Caminho e as cidades são os diferentes campos de consciência, desde o superficial do mundo até o fundo do Reino, que a alma deve experimentar até cumprir seu peculiar processo de conhecimento.
A alma, que percebeu entre névoas, como um perfume sempre pressentido, a presença do amado, do Cristo interior, é perseguida em cada cidade em que habita o Espírito de Deus. O que até ela chega é um pilar de fogo, a fonte de conhecimento que penetra na alma e levanta nela o Caminho até a cidade próxima, como uma nova estação psíquica. O Espírito exerce assim na alma a remissão, a paradosis, e a entrega, com cada onda de fogo, à elevação nova que a corresponde.
Assim é como progride na alma o conhecimento do amado, que há de levá-la ao reencontro; ao reconhecimento de uma união que se a buscou intensamente foi porque desconhecia que a união estava cumprida de antemão. Este é o final do Caminho: descobrir que conhecer e ser conhecido são uma mesma coisa no conhecimento perfeito.
b) Com esta perícope conclui a exposição de Mateus do Caminho que hão de percorrer os Doze, os que alcançaram a epignosis. O que começou a se relatar flanqueado pelo capítulo de Lucas do Caminho dos Sete, o breviário dos passos de uma alma que dá fruto de conhecimento parcial, conflui no Caminho das almas que perseveram até o fim para salvar-se.
A trama última do Caminho o explicam os evangelistas mais adiante, mas agora, Mateus, que começou sua relação a partir do trabalho dos “trabalhadores” da messe, conclui já com o anúncio da VINDA DO FILHO DO HOMEM.
O que diz Mateus é que o percurso que ele descreve não esgota as cidades de Israel. Pensa, sem dúvida, que ao peregrino o falta ainda cumprir o acesso à Jerusalém, a Jerusalém celestial, a Cidade de Deus, da qual, enquanto à unidade diz o Filho do Homem: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste!” (Mt 23:37).
*Observe-se o paralelismo deste logion com o que aparece no quarto evangelho, no qual se diz que Jesus ia morrer: “para reunir em um aos filhos de Deus que estavam dispersos” (Jo 11,52).
Mas antes de subir a Jerusalém, há de ser descoberta “em plenitude”, e em permanência estável, a presença do Filho do Homem, pois já se disse que: “Ninguém subiu ao céu senão o que baixou do céu, o Filho do Homem” (Nascer do Alto).
Também a destruição do templo será uma obra que só é possível ao Filho do Homem, pois a ele está encomendada antes de subir à Cidade de Deus.
Agora dentro do relato de Mateus do Caminho dos Doze que trabalharam na messe, só falta gritar com a alegria imensa do desterrado que contempla, ao final, sua verdadeira casa: “Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mt 23,39; Sl 118,26).