Esta noção provém do grego angélos que é a tradução do hebraico mal’ak. Comumente o anjo é uma “criatura espiritual” cujo nome dá ênfase a sua função de comunicação. É antes de mais nada um “mensageiro” encarregado de estabelecer uma ligação entre a esfera humana e a esfera divina, entre o natural e o sobrenatural — encarregado de transmitir a palavra divina junto aos homens, ele apresenta suas demandas junto a Deus. Nas religiões monoteístas, o anjo tem um estatuto paradoxal. A eles se nega a qualidade divina — a unicidade de Deus não podendo ser contestada nem partilhada — e no entanto ele pertence à esfera divina. A angelologia bíblica (Ex XII, 21; Deut VIII, 15-19) por um lado e os desenvolvimentos teológicos sobre a questão (Boaventura). por outro ressaltaram esta problemática. Uma angelologia muito escrupulosa e desenvolvida encontra uma objeção fundamentada em nosso contemporâneos quanto a sua credibilidade e sua utilidade. No entanto, um pensamento que se queira rigoroso não pode se desvencilhar muito rapidamente do problema complexo da comunicabilidade de Deus. (excertos de “Les Notions philosophiques, PUF, 1990)
Para Philippe Faure (Les anges. Cerf, 1988), embora os anjos estejam hoje em dia apenas nos textos espirituais e teológicos, na iconografia e ornamentação das igrejas, nas mentalidades religiosas, na expressão popular, ou em títulos de livros e filmes, enquanto referência cômoda à beleza perfeita ou a pura inocência, toda a história comparada das religiões testemunha ao contrário da força e da universalidade da noção de poder mediador entre o Absoluto e o homem. Esta noção de fato corresponde a uma necessidade profunda, a de uma manifestação do Absoluto que seja acessível ao homem e o torne participante ao conhecimento divino.
O estudo das três tradições monoteístas mostra que elas não podem ser concebidas sem uma angelologia. É preciso dar ao conceito de anjo toda a sua densidade: o anjo não é simplesmente o mensageiro, segundo a aceitação corrente, ele é fundamentalmente a condensação de uma energia divina, uma inteligência celeste e o protótipo de uma realidade criada. Também o mundo angélico aparece como o fundamento da ordem universal que ele rege e mantém na duração, e como aquilo que assegura a ligação espiritual entre todos os graus da realidade.
Antoine Faivre dirigiu, juntamente com Frédérick Tristan, um caderno sobre anjos, dentro da notável série Cadernos do Hermetismo, onde reconhece sua tentativa pioneira na atualidade, de uma aproximação da angelologia, e de sua necessidade. Com a contribuição de pensadores de peso como Henry Corbin, Marie Madeleine Davy, Bernard Gorceix. Jean-Louis Vieillard-Baron e outros, consegue abordar alguns aspectos da maior relevância para o estudo dos anjos.
Peter Lamborn Wilson também nos oferece um estudo lindamente ilustrado sobre os anjos, Angels (Thames and Hudson, 1980). As imagens comentadas ao longo do texto nos transportam para um mundo angélico, ao mesmo tempo que o texto trata seriamente a temática, investigando-a em várias tradições. Peter Wilson apresenta os anjos atuaram como intermediários o reino humano e divino não somente no judaísmo e no cristianismo, mas também no hinduísmo, budismo e islamismo. Nos mitos da antiga Grécia, nas lendas dos Nativos Americanos e nos escritos dos santos sufis, seja como musas, anjos protetores ou adversários.
Bernard Teyssèdre talvez seja o pesquisador acadêmico que mais profundamente estudos os anjos, na tradição judaico-cristã. Seu livro Anges, astres et cieux : Figures de la destinée et du salut, os dois seguintes sobre o diabo (diabolos), reúnem uma imenso material crítico sobre a temática. Não apenas tenta apresentar quem são os anjos, mas dedica boa parte ao estudo do papel dos mesmos, culminando com uma articulação entre anjos e astros, enquanto seres vivos e inteligentes nas tradições.