O Espírito Santo na doutrina palamita [HPPP]

Henryk Paprocki — A Promessa do Pai

O Espírito Santo na doutrina palamita

Com o aparecimento do hesicasmo, a transfiguração se torna o centro de gravidade da doutrina escatológica. São Simeão o Novo Teólogo advertia contra a espera da ressurreição unicamente depois da morte, a fim de que se veja nesta vida o começo da ressurreição. Essa concepção da ressurreição comportava o risco de tornar-se alegórica, identificando-se com a regeneração espiritual. Isso enquadraria mal com o realismo absoluto da ressurreição, próprio da tradição oriental, e, por outro lado, com seu caráter inefável, sublinhado pela liturgia e pela iconografia (notemos que a iconografia ortodoxa não representa a ressurreição como tal, mas a descida aos infernos). O que, na vida terrestre, corresponde à ressurreição poderia bem ser fato totalmente insólito, aquele que na vida de Cristo precede imediatamente sua paixão e, portanto, também sua ressurreição.

Esse fato é a transfiguração 1 , que teve seu eco na experiência interior dos monges ligados ao maior centro monástico do mundo cristão, que era o monte Atos desde os séculos X-XI.

O palamismo não apareceu subitamente. São Gregório não fez mais do que pôr em forma doutrinal uma tendência existente na vida da Igreja desde os anacoretas, os quais proclamavam a prioridade da oração. Evágrio Pôntico (séc. IV) já definia a oração como conversação do intelecto com Deus, o que comporta uma katharsis. Esse pensamento teve herdeiro na pessoa de Diádoco de Fotice, segundo o qual o intelecto exige absolutamente que fechemos todas as suas saídas pela recordação de Deus, o que saciará sua necessidade de atividade. É, pois, indispensável dar ao intelecto o Senhor Jesus como única ocupação que leva ao fim. E essa também a linha de são João Clímaco 2 e de são Gregório de Nissa, o qual proclama a escuridão luminosa para mostrar o Incognoscível, e os conceitos-guia de “energias” e de “poderes”, que tornam Deus acessível, porque são Máximo o Confessor, sublinha a incognoscibilidade de Deus em sua essência. Podemos dizer que toda a tradição ortodoxa proclamou o paradoxo do cognoscível e do incognoscível, da essência e das energias de Deus.


NOTAS:

1 Na iconografia, a transfiguração é apresentada como simétrica da crucifixão. Na mais antiga representação iconográfica (em Santo Apolinário in Classe) a cruz ornada de pedras preciosas (crux gemmata) substitui Cristo na glória. Esse tipo de representação mostra também duas cenas idênticas superpostas: a transfiguração e a segunda vinda.
2 A sua Escada do paraíso é um conjunto de prescrições para guiar a contemplação. Ela recomenda a oração de Jesus. Deus deve penetrar-nos realmente, de maneira existencial, sem a ajuda da imaginação. Cf. Paul Evdokimov, La nouveauté de l’Esprit, cit., p. 188.