Hokhmah

SEPHIROTH — HOKHMAH

Cabala
Mario Satz
No citado livro de G. Scholem há uma exaustiva reflexão sobre a ideia de sabedoria na Cabala provençal dos séculos XII-XIII. Simultaneamente, a hokhmah possui, entre suas letras, toda a “força”, cóaj do “cérebro”, móaj. O versículo de João 14,5 diz: “Eu sou o caminho, ê odós, vocábulo que supõe a ideia de “viagem” e “modo de vida”. Entre o conceito hebreu de “espelho”, reí, e o de “luz”, or, só há uma letra de diferença. A palavra “à cabeça ou na cabeça deles”, berosham que aparece em Miqueias 2,13, inclui o “pai”, “ab”, a “mãe, “em”, e o “filho”, “bar” unidos pelo “fogo”, “esh”. O número 13, resultado da gematria ou adição numérica das letras das três primeiras Sephiroth, Coroa, Sabedoria e Entendimento, é também resultado da adição das letras das palavras “amor”, ahabá, e Bereshith, “No princípio”, começo do Gênesis.


Leo Schaya: O HOMEM E O ABSOLUTO SEGUNDO A CABALA
Hokhmah, a “Sabedoria” ou primeira Emanação divina, sai do “Nada” mais que luminoso de Kether, como um sol infinitamente radiante, cujas centelhas sem número, sem limite e sem distinção, representam todo os Aspectos inteligíveis, todos os Esplendores sefiróticos, todas as Evidências do único Verdadeiro.

Hokhmah se chama também Mahschabah, o que significa “pensamento”, “reflexão”. O Sol supremo é Ele mesmo o objeto de Seu Pensamento ou Contemplação; e Ele Se contempla projetando ou manifestando todas as coisas pelos “raios” saídos de Suas “centelhas” ou pensamentos”. Ora, o Mistério de Hokhmah é que cada uma de suas “centelhas”, que são as essências ou arquétipos das coisas não faz senão um com o Ser divino, o Arquétipo universal: cada uma é o Sol infinito.


Mitologia Grega
Mircea Eliade HISTÓRIA DAS CRENÇAS E DAS IDEIAS RELIGIOSAS
A personificação da Sabedoria (hokmâ) alinha-se entre as mais originais criações religiosas desse período desde a conquista de Alexandre até a transformação da Palestina em província romana. Os nove primeiros capítulos dos Provérbios (livro escrito provavelmente no meado do século III a.C.) exaltam a origem divina da Sabedoria e enumeram-lhe as qualidades. “YHWH me possui no princípio de seus caminhos, desde o princípio, antes que criasse coisa alguma. Desde a eternidade fui constituída, e desde o princípio, antes que a terra fosse criada. Ainda não havia os abismos, e eu estava já concebida…” (8: 22-24). A Sabedoria “inventou a ciência da perspicácia”, por ela “reinam os reis (…), imperam os príncipes e os poderosos decretam a justiça” (8: 12 s.). Certos autores viram nessa concepção a influência da filosofia grega. Contudo, a Sophia enquanto entidade divina e personificada, aparece relativamente tarde; depara-se-nos sobretudo nos escritos herméticos, em Plutarco e nas obras dos neo-platônicos. Outros estudiosos puseram em evidência paralelos semíticos anteriores às influências gregas, especialmente a “Sabedoria de Ahikar” de Elefantine. Buscaram-se até os antecedentes de hokmâ no culto das Deusas-Mães (Ísis ou Ashtarte); mas a Sabedoria não é, em absoluto, a companheira de Deus; criada pelo Senhor, ela surge da sua boca.

Bousset e Gressmann sublinharam com toda a razão a importância, no pensamento religioso judaico, dos “seres intermediários” entre o homem e Deus, sobretudo na época helenística. Certas escolas de sabedoria promoveram hokmâ à categoria de autoridade suprema, como mediadora da Revelação. Mas, como logo veremos, as interpretações e as revalorações da Sabedoria, diversas e contraditórias, são reflexos de uma crise profunda que poderia ter transformado radicalmente o perfil do judaísmo.