A disputa pela “justa” tradução e, mais profundamente, palas “verdadeiras” palavras de Jesus, embora justificável, não deve perder de vista o sentido deste estória contada por Stephen Mitchell em seu livro “O Evangelho segundo Jesus”:
Em dezembro de 1973, seis meses depois de ter passado a morar e a praticar com o Mestre Zen Seung Sahn, fui até ele e perguntei:
— Já não está na hora de eu começar a aprender sânscrito e chinês?
— Por quê?
— Bom — disse eu —, as palavras mais profundas do Buda estão nos sutras em sânscrito e chinês. Não seria bom que eu chegasse o mais perto possível delas?
Ele então me dirigiu um olhar que quase acabou comigo. Era um daqueles seus olhares fulminantes, não com a intenção de intimidar, mas um olhar entre divertido e incrédulo: como é que eu podia ser seu aluno há tanto tempo e ainda não ter entendido?
Em seguida, disse, bem devagar, como se estivesse falando com uma criança retardada, — O derradeiro ensinamento está além das palavras. Então de que vai te adiantar chegar mais perto das palavras do Buda?
Engoli em seco. Fez-se um breve e desconfortável silêncio. E então ele disse, — Só há uma coisa agora que é importante.
Não me atrevi a perguntar que coisa era essa.
Mas eu sabia.