ÍCONE DA APRESENTAÇÃO DA VIRGEM NO TEMPLO
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Simbolismo
Richard Temple
Esta composição combina simultaneamente as duas “dimensões” espirituais nas quais a linguagem da Iconografia se fundamenta. O sentido de espaço fechado é dado pela arquitetura enquanto a ideia de ascensão a um nível mais alto é sugerido pela escadaria de sete degraus na qual a Mãe de Deus ascende. Alguns ícones deste tema enfatizam a transição de um mundo para outro como neste exemplo onde ela está colocada exatamente a meio caminho entre o grupo encabeçado por seus pais que ela está deixando para trás, e o templo em direção do qual ela está indo e onde o sacerdote Zacarias espera para recebê-la. Ele já está no primeiro degrau da escada que a Virgem ascende. Também a vemos no topo da escada onde ela recebe alimento de um anjo. Esta é uma forma de nos relatar que seu nível espiritual é tal que ela é nutrida pelas energias celestiais que não podem alcançar os seres humanos em seu estado natural.
A transcendência do estado natural, levando à “pureza” no sentido usado pela Philokalia, é o estado para o qual o Hesicasta esforça-se quando trava um combate invisível e incessante contra as paixões e pensamentos que o acorrentam no mundo da ilusão.
O ((Protoevangelium nos conta que a Virgem tinha três anos quando foi dada aos sacerdotes do templo. Tês, na linguagem da alegoria, significa completude, e podemos compreender aqui não tanto que ela era uma pequena criança de três anos, mas que ela era um adulto que, em seu “eu espiritual”, completou uma fase necessária do crescimento psíquico e estava agora pronta para deixar o mundo. Deixando o mundo, ou “morrendo” para o mundo é, no sentido espiritual, um estado de ser interiormente livre e não apegado às coisas materiais (v. Desapego. A presença da arquitetura no ícone indica que a Virgem tem acesso à “câmara interior da alma” enqaunto a escada conduz ao mundo mais alto que o neoplatonistas chamavam Inteligências Celestiais e que Dionísio o Areopagita chamava Poderes Angelicais.
Um dos temas principais através da infância da Virgem é o da pureza espiritual e os esforços feitos por sua mãe Ana e mais tarde pelos sacerdotes para preservar isto. Um detalhe característico é contado no Protoevangelium. Quando Maria Criança tinha
seis meses sua mãe a pôs no chão para tentar que ela ficasse em pé. E ela andou cinco passos e veio até seu colo. E ela a tomou dizendo: “Como o Senhor meu Deus vive, deves “andar não mais neste solo” até que a leves ao Templo do Senhor”. E ela fez um santuário em seu quarto, e não permitiu que nada de comum ou impuro passasse por ele.
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Compreendemos disto que o “templo do Senhor” é um nível interior mais alto que o “solo” no qual é vivida a vida dos sentidos e nosso apego a eles.
Vários detalhes descritos no texto do Protoevangelium estão na Iconografia da vida da Virgem. Um destes conta como a Mãe de Deus, junto com outras sete virgens, recebeu lã para fiar para “fazer um véu para o templo do Senhor”. Haviam várias cores diferentes e coube à Virgem trabalhar na “pura púrpura e escarlate”. É nesta lã que ela estava trabalhando no momento da Anunciação quando, em sua surpresa e perturbação, caiu de sua mão.
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O Protoevangelium dá este relato misterioso:
Depois de as terem introduzido no templo, disse o sacerdote:
– Vejamos qual há de bordar o ouro, o amianto, o linho, a seda, o zircão, o escarlate e a verdadeira púrpura.
O escarlate e a verdadeira púrpura couberam a Maria que, tomando-as, foi para casa.
Naquela época, Zacarias ficou mudo, sendo substituído por Samuel, até quando pôde falar novamente. Maria tomou em suas mãos o escarlate e pôs-se a tecê-lo.
Certo dia, pegou Maria um cântaro e foi enchê-lo de água. Eis que ouviu uma voz que lhe dizia:
– Deus te salve, cheia de graça! O Senhor está contigo, bendita és entre as mulheres!
Ela olhou a sua volta, à direita, à esquerda, para ver de onde vinha aquela voz. Tremendo, voltou para casa, deixou a ânfora, pegou a púrpura, sentou-se no divã e pôs-se a tecê-la. Logo um anjo do Senhor apresentou-se diante dela, dizendo:
– Não temas, Maria, pois alcançaste graça ante o Senhor onipotente e vais conceber por Sua palavra!
Ela, ao ouvi-lo, ficou perplexa e disse consigo mesma:
– Deverei eu conceber por virtude de Deus vivo e haverei de dar à luz como as demais mulheres?
Ao que lhe respondeu o anjo:
– Não será assim, Maria, pois que a virtude do Senhor te cobrirá com sua sombra. Depois, o fruto santo que deverá nascer de ti será chamado de Filho do Altíssimo. Chamar-lhe-ás Jesus, pois Ele salvará seu povo de suas iniquidades.
Então, disse Maria:
– Eis aqui a escrava do Senhor em Sua presença. Que isto aconteça a mim conforme Sua palavra.
Concluído seu trabalho com a púrpura e o escarlate, levou-o ao sacerdote. Este a abençoou dizendo:
– Maria, o Senhor enaltecer seu nome e serás bendita entre todas as gerações da terra.
Vemos este véu vermelho esticado entre as torres da arquitetura no fundo dos ícones associados com a Virgem. Não é mencionado no Protoevangelium e não é mencionado absolutamente no evangelho exceto em relatos da Crucificação onde “rompeu-se de ponta a ponta”.
O véu é um símbolo esotérico importante referindo-se a ideia que há algo oculto, ainda não revelado à humanidade e que é portanto desconhecido através de nossos órgãos de sentidos. O mistério só pode ser conhecido através do conhecimento espiritual ou gnose que pode ser adquirida através de métodos de misticismo prático que, no cristianismo, são o Combate Interior e a Oração Incessante.
Como vimos, na Apresentação da Virgem no Templo, que a Mãe de Deus já estava comunicando com o mundo angélico no início de sua vida. É esta uma piedosa convenção ou podemos, neste caso, tomar o texto literalmente? Tal leitura é sugerida quando lemos que o apócrifo Pseudo-Mateus
dedica um capítulo às virtudes especiais de Maria e descreve sua vida diária no templo em termos de práticas monásticas. Com respeito a suas realizações intelectuais (espirituais)… é dito que não havia ninguém mais preparado na sabedoria da lei de Deus e que Maria “estava sempre engajada em oração e em busca da lei”… Deveria ser notado que a mesma fonte fala duas vezes das visitações diárias dos anjos de Deus, que “eram vistos sempre falando com ele”. A precocidade de Maria é descrita como sendo tão grande, e sua vida diária tão completamente ordenada pelo divino ao invés do humano significa, que a instrução, assim parece, poderia ser dada só através dos anjos de Deus.
Aparte à descrição as energias interiores místicas como “anjos de Deus” o texto aqui deixou o modo alegórico e deu o que pode ser um relato factual e direto da vida hesicasta da Virgem.